Foram mais de 40 espécies de plantas registradas em várias das unidades amostrais
A pesquisa científica está sendo realizada no Laboratório de Estudos em Vegetação Campestre (LEVCamp) da UFRGS, e empolga e surpreende pelos resultados dos trabalhos de campo em meio à vegetação campestre. A equipe de pesquisadores Cleusa Vogel Ely, Graziela Minervini, Dióber Lucas e Luciana Menezes registrou um novo recorde de espécies por m² em uma das unidades amostrais do Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBIO), situada em Quaraí (RS). “Estávamos em um campo de solo raso e identificar 57 espécies por m² nos surpreendeu, principalmente pelas características da área em que foi registrada,” disse Cleusa. Ela ingressou neste ano no doutorado do PPG Botânica na UFRGS tendo como tema de pesquisa a revisão da taxonomia do gêneroHypericum, uma erva de grande interesse medicinal.
A professora do Departamento de Botânica da UFRGS, Ilsi Boldrini, integrante da Rede e orientadora de diversas pesquisas, explicou que tamanha surpresa também resulta da mudança do conceito de que solos rasos são pobres em diversidade de espécies. “Na verdade, pouco conhecíamos. A partir dos levantamentos em parcelas de Santana do Livramento RS) na divisa com o Uruguai, nos impressionamos com a quantidade de espécies identificadas. O mesmo aconteceu em Alegrete (RS), vindo a nos chamar atenção para a riqueza de espécies nesses campos,” disse. Neste sentido, enfatizou, há muito ainda por conhecer e conservar da diversidade biológica no sul do Brasil.
Luciana Menezes (PPG Botânica UFRGS), integrante da equipe e doutoranda no subprojeto PPBio Vegetação Campestre, coordenado pelo prof. Gerhard Overbeck, contou que várias parcelas do levantamento de Quaraí apresentaram mais de 40 espécies. “De uma forma geral registramos uma riqueza bastante alta por parcela nos campos do município de Quaraí. É uma região realmente interessante, pois lá o solo é muito raso, com diversos afloramentos rochosos. É possível que a principal razão da alta riqueza de espécies seja a alta heterogeneidade de habitats,” afirmou. Um dos principais objetivos do trabalho de doutorado de Luciana é identificar padrões taxonômicos e funcionais de organização das comunidades vegetais campestres, relacionados com variáveis climáticas, edáficas e espaciais. Ela explicou que estão utilizando diferentes escalas espaciais de observação das comunidades visando identificar quais variáveis são mais importantes para a determinação das comunidades em cada escala.
Segundo a professora Ilsi, mesmo que as espécies de gramíneas caracterizem a fisionomia dos campos sulinos, existem muitas espécies de outras famílias bastante representativas. Dentre toda essa diversidade, há muitas espécies que se destacam por seu potencial ornamental, como por exemplo, as verbenáceas Glandularia platensis e Lippia coarctata. Foram encontradas também plantas de interesse medicinal, como o Hypericum sp., da qual são extraídos compostos secundários utilizados na farmacopeia brasileira. “São plantas que não ganham destaque por serem pequenas, mas são extremamente importantes tanto quanto as espécies arbóreas,” disse a professora Ilsi. Comentou ainda a existência de uma fauna dependente destas espécies vegetais campestres e o fato de que muitas destas plantas são endêmicas.
Cleusa destacou a existência de diversas espécies com potencial alimentício na vegetação campestre. Contudo, disse que esse potencial está ameaçado por conta da conversão dos campos para cultivos. No final de 2014, pesquisadores da Rede Campos Sulinos defenderam a proposta de decreto elaborado pela equipe técnica da então Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SEMA/RS) e hoje Secretaria do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEADES), para regulamentar dispositivos de aplicação da Lei de Proteção da Vegetação Nativa (12.651/2012), relacionados ao Cadastro Ambiental Rural. Apesar da mobilização vinda de diversas áreas, ainda não houve a regulamentação e nem respostas do Governo. A implantação do CAR no RS continua muito atrasada e, o mais grave, as áreas de campo nativo com pecuária continuam a ser convertidas, principalmente para a produção de soja, sem as autorizações previstas na legislação.
Eco agência
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