segunda-feira, 13 de abril de 2015

Loura diaba

A blogueira Chiara Ferragni tem o dom de transformar em ouro tudo o que suas mãos tocam.

Por Marco Lacerda*
Aos 28 anos da mais convicta lourice, Chiara Ferragni é um sucesso nas redes sociais com seu blog "The Blond Salad", que é também o titulo do seu primeiro livro. A moça iniciou sua trajetória em 2009 e, dois anos depois, a revista New York já ressaltava sua perspicácia para o que acontece nas ruas, em matéria de moda.  Estavam abertas para Chiara as portas do universo fashion. Desde então a italianinha só trabalha com ícones do métier.

Em 2011, Ferragni foi apontada como a blogger do momento pela TeenVogue quando ainda era uma estilista estudante de Direito na Universidade de Boccon e seu blog já recebia um milhão de visitantes por mês. Em 2013, os prêmios como blogger do ano se multiplicaram e seus seguidores alcançaram a cifra de 1,6 milhões. Basta? Não, em 2014 ela arrebanhou 2,9 milhões de seguidores no Instagram, desfilou para a Guess e colaborou com grifes como Christian Dior, Versace, Louis Vuitton, Chanel, Tommy Hilfiger para citar apenas alguns dos seus clientes de peso.

Donuts coloridos, imagens de bolsas e sapatos, e fotos pulando no ar. O olho pouco treinado não veria nada de especial no Instagram de Chiara Ferragni que não possa ser encontrado no de qualquer outra blogueira ou aspirante. Exceto, talvez, que as fotos são de qualidade profissional, que a protagonista tem jeito de modelo e que toda a mercadoria que aparece – Chanel, Céline, Saint Laurent – é autêntica. Na verdade, existe sim uma diferença fundamental entre ela e o resto das garotas que tiram fotos com chapéus de feltro: Ferragni emprega 14 pessoas em sua equipe, e conseguiu fazer de sua web, The Blonde Salad, um negócio de 8 milhões de dólares anuais (20 milhões de reais).

Recentemente, a italiana se converteu na única blogueira a aparecer na lista das 30 pessoas criativas menores de 30 da revista Forbes, que destacava seus mais de 3 milhões de seguidores no Instagram e a linha de sapatos que lançou há dois anos, depois de conseguir três milhões de reais de diversos investidores privados, que são vendidos em 25 países com preços que oscilam entre 600 e 1200 reais.

São certos os números que mostra a revista? “Sim, e estou muito orgulhosa e agradecida. Significa que a equipe está indo na direção correta”, responde Ferragni sucintamente por e-mail de Los Angeles, onde vive faz alguns meses com seu namorado, o fotógrafo Andrew Arthur. Seu antigo namorado, Ricardo Pozzoli, continua trabalhando com ela e ostenta o cargo de diretor geral da empresa. Os dois montaram o blog em 2009 quando Ferragni era uma estudante de Direito na Universidade Luigi Bocconi de Milão e poucos meses depois de começar viram como recebiam uma enxurrada de convites para os principais desfiles do circuito internacional. “Foi um bom momento.

Na Itália, ninguém estava fazendo algo assim, mas no resto do mundo já estavam começando a falar muito do fenômeno dos blogueiros de moda”, explicou Ferragni ao site Business of Fashion, que também analisou seu modelo de negócio. A italiana anunciou a separação de Pozzoli e meses depois apresentou seu novo namorado em alguns posts que acabaram gerando um enorme tráfico em The Blonde Salad, mas no geral não costuma publicar muita informação pessoal nem se apoiar no tipo de proximidade com a qual trabalham outros blogueiros.

Tampouco entra em polêmicas nem usar humor ou ironia, como é o caso de Leandra Medine, para citar outra blogueira que construiu uma marca milionária ao redor de sua página, The Man Repeller. Seu estilo baseia-se em refletir, de maneira muito fina, um estilo de vida aspiracional, mas não ofensivamente ostentoso, nem enlouquecido. Não duvida em tirar fotos com sua progenitora para o Dia das Mães e assegura que passou o Ano Novo tranquila, “passeando pelas praias de Los Angeles”.

Ferragni tem o dom de transformar sua imagem em dinheiro, fazendo colaborações pontuais com grandes marcas de luxo, como Louis Vuitton e Tiffany & Co, ou de consumo mais massivo, como Steve Madden. Mas 70% de seus ingressos vêm de sua coleção de sapatos, que agora tem como grande objetivo o mercado norte-americano. Por outro lado, já faz algum tempo que deixou de postar em sua página o tipo de conteúdo pago que costuma ser a principal fonte de renda dos blogueiros profissionais: essas entradas nas quais são fotografados com um produto e o avaliam em troca de uma soma em dinheiro.

A italiana diz que tomou essa decisão porque o público que consome este tipo de meios se sofisticou e já não aceita mais tudo. “Meus leitores estão muito atualizados. Sabem o que querem e onde encontrar”, assegura. Isso não quer dizer que não possa negociar uma tarifa para assistir ao evento de uma marca – tem uma “relação especial” com a Chanel e Louis Vuitton – e colocar uma ou várias fotos no Instagram.

Segundo diz, essa rede social “mudou a maneira pela qual as pessoas se relacionam com as marcas, é muito mais fácil traduzir sua visão”. Em um dia qualquer, Ferragni pode chegar aos 5.000 seguidores, sobretudo se coloca uma foto pessoal e na qual é possível ver bem seu rosto e seu estilo. Há pouco, seus fiéis seguidores estão bem abastecidos. Ferragni foi às festas depois da entrega dos Globos de Ouro e colocou fotos posando com seu namorando e vestida de Saint Laurent. Resultado: 67.000 curtidas e aumentando.

Com uma vantagem extra. Chiara pode dormir em paz todas as noites. Ao contrário de outras louras-suplício que grassam nesta parte do planeta, ela jamais terá de reembolsar nenhum cofre público pelo uso indevido de água oxigenada. Chiara Ferragni é loura de verdade e inteligente pra caramba.

Chiara Ferragni, o fenômeno das redes sociais. Veja o vídeo:

*Marco Lacerda é jornalista, escritor e Editor Especial do DomTotal.

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