domingo, 24 de maio de 2015

Emoções fortes podem desencadear crises alérgicas, confirmam médicos

No mundo, 400 milhões de pessoas têm rinite e 300 milhões têm asma. Tratamento fitoterápico e vacinas são opções para quem sofre com a doença.


Aos 57 anos, a professora Maricí tem energia de sobra. Nas aulas de ioga, é uma aluna dedicada. Depois de morar por dez anos na Itália, ela leciona Cultura dos Povos Antigos na Universidade Estadual do Rio de Janeiro. No trabalho, fala o tempo todo. E como fala! 

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Seu Fábio Barreto, 78 anos, também vive no Rio de Janeiro. Ele administra um condomínio de pequenos apartamentos que pertence à família, no subúrbio da cidade. À primeira vista, Seu Fábio até parece meio caladão, mas não perde a chance de contar suas histórias. Lembranças de uma época de glamour.
Fábio Barreto, administrador de imóveis: Eu era artista de teatro de revista.
Globo Repórter: O que o senhor fazia no teatro de revista?
Fábio Barreto: Tudo. Eu escrevia, eu dirigi. Eu trabalhava como ator. O dia que o cantor faltou, eu tive que entrar pra cantar.
Com vidas tão diferentes, Seu Fábio e Dona Maricí têm em comum os desconfortos da alergia respiratória. Eles e uma multidão de sofredores. Segundo a Organização Mundial de Saúde, no mundo todo, 400 milhões de pessoas têm rinite e 300 milhões têm asma. E a doença maltrata.
“É uma sensação horrível. Você quer respirar e você não consegue”, diz Seu Fábio.
“Você dorme mal, acorda mal, acorda não sei quantas vezes com falta de ar”, diz Maricí Martins Magalhães. A professora ainda é alérgica a bijuterias, produtos de limpeza e bebidas alcoólicas.
No apartamento que divide com a mãe, no Centro do Rio, janelas abertas para renovar o ar. Dona Maricí seguiu à risca a orientação dos médicos e fez uma revolução em casa. As cortinas de tecido deram lugar a painéis; mais fáceis de limpar. Dos tapetes, não sobrou nenhum. Parte dos livros, a grande paixão da professora, também teve que ser removida. Nas estantes da sala, só ficaram os novos. Os mais velhos e empoeirados foram parar no quartinho dos fundos. O quarto dela ainda passa por mudanças: na cama, forro antiácaro no travesseiro e no colchão.
Asmático, Seu Fábio abandonou o sonho de uma carreira artística. Hoje, sabe que poeira e poluição são um veneno. Por isso, tem sempre à mão o que ele chama de kit de sobrevivência. Medicamentos que devem ser tomados assim que as reações começam.
Por precaução, Dona Maria José está sempre por perto, atenta às crises.
Maria José Barreto, advogada: Quando nós nos conhecemos, ele teve uma crise de asma e só ficava assim: ‘a bomba, a bombinha’.
Globo Repórter: Você não sabia o que era?
Dona Maria José: Eu não sabia, eu estava perdida. E aí eu fui pra lá, correndo pra cá. E naquela época tinha uma coisa de bomba, 1980, não sei o que, ‘meu Deus do céu, quem é que está querendo jogar bomba?’. Olha a minha ignorância!
Cansada de remédios, Dona Maricí está tentando um novo tratamento com vacinas. A vacina é muito bem desenvolvida pra alergia respiratória, pra alergia de veneno de insetos. O médico José Luiz de Magalhães Rios explica: o tratamento pode ser demorado e cada paciente reage de uma maneira diferente.
“Tem paciente que com um ano de tratamento está excelente. Tem pacientes que demoram pra responder. E você só vai ter respostas depois de dois, três anos de tratamento”, explica José Luis Rios.
Para Dona Maricí, os resultados foram imediatos. E ela recuperou a disposição e a qualidade de vida.
Seu Fábio também tomou vacinas, quando jovem. Ficou 12 anos sem asma.
“Aí levei dois tiros. Então, fiquei hospitalizado um bocado de tempo. E a asma voltou”, conta Seu Fábio.
Experimentou, então, um tratamento fitoterápico. Diz que foram mais 17 anos sem a doença.
Fábio Barreto: Fui assaltado novamente. Dessa vez com o revolver no ouvido. Aí, a asma voltou.
Globo Repórter: Por que o senhor acha que ela voltou por essa segunda vez?
Fábio Barreto: Eu acho que aí foi a parte emocional.
Os médicos confirmam: emoções fortes podem desencadear crises, mas não são o único motivo.
“Muitas pessoas falam ‘ah, minha asma é nervosa’. Não. Ela tem a tendência genética. O emocional é um fator que pode influir como agravante ou como provocador de crise, mas não é a única causa, certamente”, explica a doutora Maria de Fátima Emerson, alergista.
Hospital no RJ tem a primeira residência médica em homeopatia do Brasil
Como enfrentar, então, uma doença que tem múltiplas origens? No Hospital Universitário Gaffrée E Guinle, no Rio, funciona a primeira residência médica em homeopatia do Brasil.
O doutor Francisco Freitas diz que metade dos pacientes que procuram o ambulatório tem algum tipo de alergia. A boa notícia é que 90% deles conseguem controlar a doença.
“A homeopatia trata do doente e, consequentemente, da doença. Então, a alergia, por ser uma tendência da pessoa na grande maioria dos casos, você tratando da pessoa, consequentemente a homeopatia consegue ajudar bastante estes pacientes alérgicos ”, diz o homeopata Francisco Freitas.
Maria Aparecida acaba de sair de uma crise respiratória brava. Ela tem alergia desde criança.
Globo Repórter: E dificuldade de respirar?
Maria Aparecida, dona de casa: Dificuldade de respirar.
Globo Repórter: O ar não vem?
Maria Aparecida: Não vinha.
E o filho João Gabriel também é alérgico.
“A partir do momento que o mosquito encosta nele já vai crescendo aquela coisa e ele vai coçando, coçando, vai inchando, inchando”, conta Maria Aparecida.
Foi antes de Gabriel nascer e depois de tentar de tudo que Cida se encontrou na homeopatia.
Seu Fábio aprendeu a conviver com os sustos das crises alérgicas. Mas não deixou que as limitações o afastassem da velha paixão. Nem o tempo que passou nem a asma tiraram do Seu Fábio o gosto pela música e pelo palco e, de vez em quando, para matar a saudade, ele vai se apresentar. No clube de amigos que se encontram a cada 15 dias para relembrar antigos sucessos, Seu Fábio revive os tempos de seresteiro.
Globo Repórter: Como é essa esta mágica que a asma não atrapalha nem um pouquinho? Se a gente não soubesse que o senhor tem asma, não ia saber.
Fábio Barreto: A mágica é a mesma. Quando ela quer, ela se apresenta e me atrapalha. Quando eu posso me libertar dela, tenho que me libertar.
Globo Repórter: E quando faz com prazer nem a asma aparece, né?
Fábio Barreto: Graças a Deus, não
!

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