domingo, 17 de maio de 2015

Filme japonês mostra drama na infância

Filme é focado nos sentimentos de garota que perde os pais em terremoto.

Por Neusa Barbosa
Pisando nas pegadas de alguns dos melhores cineastas de gerações anteriores, como Yasujiro Ozu e Hirokazu Kore-Eda, o novo diretor japonês Masakazu Sugita faz uma notável estreia no drama intimista “O Desejo da Minha Alma”, que lhe valeu o prêmio de melhor filme na seção Geração kplus do Festival de Berlim 2014, concedido por um júri juvenil.
Como Ozu e Kore-Eda, Sugita procura um cinema da intimidade, focado nos sentimentos, no caso, de uma pré-adolescente, Haruna (Ayane Omori), de 12 anos, que acaba de perder os pais num terremoto.
A sequência inicial é impactante, mostrando a menina de pijama, tentando desesperadamente remover alguma coisa de sob os escombros – isto antes de qualquer explicação sobre a história. Esta cena encerra um profundo significado na definição do caráter de Haruna, que se julga responsável por não ter podido salvar os pais.
A este peso se somam outros. O irmão caçula de Haruna, Shota (Ruku Oishi), levemente ferido na tragédia, tem apenas 5 anos e desconhece a morte dos pais. A mentira sobre seu real destino será mantida na casa dos tios maternos, Masako (Naoko Yoshimoto) e Akira (Koichiro Nishi), na ilha de Kyushu, ao sul do Japão, que adotam os dois órfãos.
Compreendendo as resistências encontradas em sua família para esta adoção, Haruna acumula mais tensões do que pode carregar.
Além do mais, logo lhe são cobradas outras obrigações, como voltar à escola. Mas o que realmente lhe custa é manter a farsa para o irmão, que faz perguntas incômodas sobre os pais e insiste muitas vezes em ir até a balsa do local, na esperança de que eles apareçam para buscá-los.
Por mais amoroso que seja o entorno familiar, e acolhedora a nova escola, o peso para Haruna é grande demais. Ela nunca pode realmente extravasar seus sentimentos.
Seguro na direção do elenco, Sugita extrai performances admiráveis de seus atores mirins, com destaque para a impressionante Ayane Omori, capaz de expressão sutil e densa somente com seu rosto. Não menos encantador é o pequeno Ruku Oishi, funcionando como alívio cômico. Também dá conta do recado Shumpei Ohba, como o primo enciumado pela chegada destes “irmãos” indesejados.
Comandando uma história simples, num roteiro também de sua autoria, o diretor cria uma síntese do mundo, por assim dizer, numa pequena aldeia, numa narrativa com elementos universais, como a perda e a dor de crescer. E dá conta de evocar os grandes dramas por trás dos acontecimentos corriqueiros da existência sem nenhuma tentação de excesso melodramático, pintando com cores sutis o minimalismo oriental das atitudes.
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Reuters

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