Jornalista revela experiência com Jorge Mario Bergoglio antes de ser eleito pontífice.
Por Susana Oviedo
Uma vez por mês e durante um ano e meio, o jornalista do Clarín, Sergio Rubin, e uma colega, Francesca Ambrogetti, iam conversar com o cardeal Jorge Mario Bergoglio, arcebispo de Buenos Aires, sobre diversos temas que lhes permitiriam depois escrever a biografia do homem que em 2013 tornou-se universal, extrovertido e muito comunicativo, quando em março desse ano foi eleito Papa, e decidiu chamar-se Francisco.
“Ele não mudou absolutamente nada. A única coisa que mudou foi seu sorriso, que antes não tinha aqui (em Buenos Aires)”, disse Rubin, que ainda recorda o gesto muito austero e a estatura baixa de Bergoglio.
Por isso, conta esta anedota: “Quando, com a minha colega Francesca Ambrogetti, terminamos o livro em 2009, após ter conversado com ele mês a mês, e chegou o momento de fazer a foto da capa, lhe dissemos: cardeal, temos que fazer a foto, e ele nos respondeu: ‘Não, não, não, não quero que façam uma foto comigo. Peguem uma do arquivo de vocês. Há um monte de fotos de revistas, de jornais’”.
Os jornalistas não aceitaram isso. “Queremos ter uma foto própria sua”, insistiram.
Passou quase um mês, e finalmente Rubin recebeu um telefonema de Bergoglio: “Resolveram?”, perguntou.
– Não, não resolvemos nada, queremos uma foto com você.
– Bom, está bem, venham, disse-lhes.
Quando chegou o momento lhe pediram: “Sorria”. “E não havia maneira de fazê-lo sorrir. Finalmente esboçou algo que se parece com um sorriso. Ao contrário, quando a gente vê hoje as espetaculares fotos que há com ele, não pode deixar de dizer: que transformação este homem sofreu!”, admira-se Rubin.
No entanto, esclarece, Bergoglio não mudou em sua forma de pensar nem na concepção que tinha da Igreja. “Quando apresentamos o livro em julho de 2010 com Francesca, havia ficado em nós a impressão de ter estado nos últimos dois anos conversando com alguém que estava pensando a Igreja para os próximos 50 anos, como bom jesuíta que se projeta para frente”.
Para quem esteve mais perto dele, como estes jornalistas, os gestos e pensamentos que estão vendo e ouvindo agora, não surpreendem, “porque ele já era assim. Não é marketing”.
Por isso, Rubin reconhece que era impensável supor que o cardeal fosse se alojar nos apartamentos papais. “Escolher a Casa Santa Marta para viver é ser Jorge Bergoglio. É absolutamente coerente com ele”.
Como jornalista especializado em religiões, Rubin disse ter tratado com muitos padres e cardeais ao longo de sua carreira de mais de 40 anos, mas é em Bergoglio que encontrou uma humanidade impressionante. “Seu trato pessoal, a mão estendida, o telefonema no aniversário, a simplicidade, essa proximidade... O que para mim faltou ao clero, à Igreja, e que é humanidade”. Com ele, acrescenta, tem-se a sensação de que está falando com um amigo ou com um familiar.
O papa Francisco, defende, é um renovador, um reformador e um revolucionário. “É um pouco as três coisas: é um renovador, pelo modo como está mudando a atmosfera da Igreja. É um reformador, porque está tentando algumas reformas, e é um revolucionário, porque de certa maneira está levando adiante uma revolução cultural dentro da Igreja, colocando no centro de tudo a misericórdia, o perdão, o amor, a compreensão”.
É, além disso, um padre com uma grande “cabeça política” e uma grande liderança. Isso se pode ver com atitudes como aquelas que teve com a Síria, com os presidentes da Palestina e Israel; ou auxiliando na aproximação histórica entre Estados Unidos e Cuba. É a cultura do encontro que apregoa, a de construir pontes em um mundo muito complicado, “que não tem facilidades”.
Ultima Hora, 30-04-2015.
*Tradução de André Langer.
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