sábado, 30 de maio de 2015

Francisco tem apoio de jesuítas e dominicanos

Por Salvatore Izzo
“O pontífice não dá lições sobre como deve ser um bispo: quando ele fala aos pastores, percebemos que ele tem um ouvido atento ao Evangelho e outro ao povo fiel. Por suas palavras, suas pausas, seus exemplos, seus sorrisos e os seus gestos, conseguimos formar uma imagem fortemente unitária do que é um Pastor centrado no amor a Jesus e que reúne o seu povo: um homem de comunhão”.
Civiltà Cattolica, a prestigiosa revista romana dos jesuítas, comenta deste modo o discurso do papa Francisco aos bispos italianos, exortados, escreve, a ‘serem homens de comunhão” com uma especial “sensibilidade eclesial”, isto é, bispos pastores e não “bispos-piloto”, ou seja, capazes de reforçar “o indispensável papel dos leigos dispostos a assumir as responsabilidades que lhes competem”.
Um pronunciamento criticado por alguns (poucos) bispos italianos na presença do próprio Pontífice com palavras fortes que foram reproduzidas hoje na internet.
A mesma revista publica uma entrevista do renomado teólogo frade dominicano, padre Jean-Miguel Garrrigues, professor de teologia patrística e dogmática no Instituto Superior Tomás de Aquino, no Studium dominicano de Toulouse e no Seminário de Ars. A entrevista foi concedida ao padre Antonio Spadaro, diretor da Civiltà Cattolica.
O religioso ‘decodifica’ o pensamento do papa no que diz respeito ao tema dos divorciados que casaram novamente. Ele explica que “isto não contradiz em nada o princípio segundo o qual especificamente a lei natural e a lei de Cristo se aplicam em igual medida a todos os cristãos”.
O matrimônio cristão é indissolúvel, contudo é preciso evitar uma pastoral do “tudo ou nada” que, afirma Garrigues, “parece mais segura para os teólogos ‘tutiorista” (Nota da IHU On-Line: doutrina teológico-moral, cara aos jansenistas, segundo a qual na dúvida de consciência acerca de duas opiniões contrapostas, deve sempre seguir a mais conforme à lei), mas leva, inevitavelmente, à uma “Igreja de puros”, valorizando antes de mais nada a perfeição formal como um 'fim em si’, correndo o risco, infelizmente, de acobertar muitos comportamentos hipócritas e farisaicos”.
E Francisco, “como um bom médico, prefere arriscar fazer o mal antes que deixar que o mal do orgulho espiritual se esconda sob a aparência de um bem formalmente virtuoso”.
O blog “San Pietro e dintorni” publica uma síntese da intervenção do bispo de Carpi, Francesco Cavina, citado como “titular de uma diocese que no passado sofreu uma catástrofe natural”.
Cavina, mencionado no curso do processo da desaparecimento dos documentos do Papa Bento XVI, avalia que a imagem midiática do Papa é tão preponderante que cancela, na prática, o papel da Igreja local. E em temas difíceis, como a questão dos padrinhos e das madrinhas de batismo, parece que o Papa é bom, mas o bispo, que busca fazer com que se respeitem as regras estabelecidas pela Igreja, é considerado como ruim. De tal maneira que quando se diz aos interessados: a Igreja diz que devemos fazer assim, não podemos interpretar, eles respondem: “mas o Papa...”
Além disso, o bispo Cavina, continua o blog, “alertou o Pontífice das instrumentalizações. Muitas vezes se ouve: o teólogo do Papa, o porta-voz do Papa, este é alguém próximo do Papa. Há o perigo, disse, que o senhor seja usado. O Papa, sublinhou, é espontâneo, instintivo. Um dom belíssimo, mas o bispo, pedindo desculpas por ousar dar um conselho ao Papa, disse que certas expressões espontâneas podem constituir motivo de sofrimento. Por exemplo, aquela entrevista dada a Valentina Alazraki, sobre a sensação que o seu pontificado seria breve. Mas sabe como a entrevista foi interpretada pelas pessoas?, perguntou o bispo. Que o senhor seria assassinado, mas não pelo Isis, mas pela Cúria romana. Isto não é bom!”
A “portas fechadas”, mas evidentemente não muito, na aula do Sínodo, o bispo de Carpi, fez “uma pedido de caráter diocesano”. “Sabemos – disse o bispo, segundo informa o vaticanista Marco Tosatti no post – que o Papa recebeu em Santa Marta esta pessoa e aquela outra. Há anos pedi uma audiência para ser recebido com os meus padres, que trabalharam e estão trabalhando para acompanhar e apoiar as pessoas depois do desastre. Mas até agora não foi concedida a possibilidade de concelebrar com o Papa; creio que estes párocos teriam esse direito”.
“Esta intervenção – escreve Tosatti – foi retomada no dia seguinte por um outro bispo, que, reclamando da ausência de uma resposta sobre problemas precisos, pediu que o Papa se dê conta da necessidade de formular as suas intervenções de maneira precisa e articulada, levando em conta que existe todo um magistério precedente e que a Igreja tem uma longa história e experiência acumulada”.
L’Osservatore Romano, 28-05-2015.
*A tradução é de IHU On-Line.

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