sexta-feira, 8 de maio de 2015

Manifestantes acampam em frente ao prédio do prefeito do Recife

Movimento Ocupe Estelita pede reabertura do diálogo sobre Plano Urbanístico.
Acampamento foi montado na noite da quinta (7), durante protesto.

Do G1 PE

Manifestantes contrários ao Plano Específico do Cais José Estelita, Santa Rita e Cabanga, que autoriza a construção do Projeto Novo Recife, seguem acampados na calçada do prédio onde mora o prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), na manhã desta sexta-feira (8). O acampamento foi montado na noite da quinta (7), durante protesto contra a aprovação do plano urbanístico. Cerca de 200 pessoas passaram a noite no local. A Rua Neto Campelo, no bairro da Torre, Zona Oeste da capital, ficou fechada por faixas dos manifestantes, que pedem que seja reaberto o diálogo com a Prefeitura, até 10h desta sexta. A Polícia Militar acompanha o movimento e a CTTU está no local para orientar o trânsito. A Prefeitura do Recife infomou que o prefeito não vai se pronunciar a respeito do movimento.
"A proposta é ficar aqui até o prefeito iniciar um processo de negociação com a gente. Exigimos que seja intermediado pelo Ministério Público, que já entrou com várias recomendações", afirma Pedro Martins, integrante do Ocupe Estelita. De acordo com ele, alguns moradores do prédio do prefeito que apoiam o movimento doaram mantimentos e colchões para os manifestantes.
"A gente tem que conceber a cidade de forma diferente. Acho que é um movimento muito importante e que daqui para a frente não tem como pensar a cidade sem as pessoas. Não é só o cais que está em jogo, isso é um germe que está nascendo, de a população poder se manifestar", afirma a psicóloga Clarissa Barros, que mora próximo ao acampamento e levou mantimentos para os manifestantes.
Os integrantes do movimento passaram a noite acampados, após protestarem durante a noite da quinta (7). Por volta das 19h30, eles fecharam a rua onde mora o prefeito, acenderam sinalizadores e pregaram cartazes nas grades do edifício com a hashtag #ForaGeraldo. Durante a manifestação, um dos muros do prédio foi pichado e uma câmera de segurança foi quebrada. Manifestantes ainda jogaram ovos contra os vidros da portaria; em seguida, moradores também lançaram ovos de seus apartamentos.
Manifestantes afirmam que vão acampar no local e já montaram barracas (Foto: Vitor Tavares/G1)Manifestantes montaram acampamento na noite
da quinta (7). (Foto: Vitor Tavares/G1)
"Essa ocupação é um resultado de todo processo que culmina com a aprovação do plano na Câmara [Municipal] e a sanção do prefeito. A cidade passa por um processo de gentrificação que expulsa as pessoas do seu Centro, deixa seus habitantes nas margens, e o prefeito é o grande maestro disso tudo. Além disso, vejo a Torre [na Zona Oeste] como um bairro símbolo desse processo exclusivo. Então ocupar o espaço público é devolver para sua população", disse Caio Fabrício, produtor cultural e membro do movimento Ocupe Estelita.
O ato foi o segundo realizado nesta semana contra o plano urbanístico. Na terça-feira (5), um protesto durou cinco horas e acabou em um shopping do Recife. O Plano Específico do Cais José Estelita, Santa Rita e Cabanga foi aprovado pelos vereadores na segunda-feira (4), em sessão extraordinária. O prefeito Geraldo Julio, que estava cumprindo agenda em São Paulo, sancionou o projeto no mesmo dia, à distância. O documento foi publicado no Diário Oficial do Recife na terça (5).
Entenda o caso
O projeto imobiliário Novo Recife, na área do Cais José Estelita, é alvo de polêmica desde que veio a público, em 2012. Ele prevê a construção de torres empresariais e residenciais. No mesmo ano, ativistas recifenses promoveram a primeira edição do Ocupe Estelita, inspirados pelo movimento "Occupy Wall Street". A ideia era realizar atividades culturais na área do Cais, para que a população conhecesse esse terreno tão estrategicamente localizado, mas abandonado há muito tempo. Desde então, o local foi palco de shows, aulas públicas e atividades de lazer, além de diversas manifestações e conflitos.
Cais José Estelita também está sem as bandeiras e cavaletes de campanha política, nesta quinta (14). (Foto: Débora Soares / G1)Projeto Novo Recife prevê a construção de torres no Cais José Estelita (Foto: Débora Soares / G1)
Cinco ações tramitam questionando o projeto imobiliário Novo Recife: uma ação civil pública do Ministério Público estadual, uma do Ministério Público federal e três ações populares. As ações populares pedem a nulidade do ato administrativo do então Conselho de Desenvolvimento Urbano (CDU), que aprovou a proposta imobiliária, no fim de 2012.
O Novo Recife afirma que o projeto foi muito estudado, respeita os parâmetros legais do estado, do município, e cumpre a lei. Durante o processo de negociação iniciado no primeiro semestre de 2014, o grupo de construtoras disse estar de acordo em fazer um redesenho do projeto. Segundo eles, o desenho da obra imobiliária prevista para o Cais foi concebido a partir de informações coletadas desde 1970 e foi elaborado por três arquitetos.
Depois de uma tentativa de demolição dos armazéns existentes no terreno, em maio do mesmo ano, que teve seu alvará posteriormente suspenso pela Justiça, o debate sobre o tema voltou a se intensificar. No começo do segundo semestre do ano passado, a Prefeitura do Recife abriu um prazo para receber sugestões para as diretrizes que guiariam o redesenho do projeto imobiliário. As alterações foram apresentadas pelo consórcio construtor em novembro. De posse de toda essa documentação, a PCR elaborou o projeto de lei, após ser aprovado no Conselho da Cidade, agora aprovado pela Câmara Municipal.
Em março de 2015, a área operacional do Pátio Ferroviário das Cinco Pontas foi incluída na Lista do Patrimônio Cultural Ferroviário Brasileiro. A decisão foi do Iphan. O pátio ferroviário fica no terreno do Cais José Estelita, vizinho ao local previsto para o projeto Novo Recife. Também em março, os integrantes do Movimento Ocupe Estelita e Direitos Urbanos entregaram uma petição para tombamento do Pátio Ferroviário das Cinco Pontas e do Cais José Estelita ao Iphan. O documento foi recebido pelo Departamento do Patrimônio Material e Fiscalização, e será analisado
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