Facebook forma turmas em laboratório de inovação na comunidade de SP.
'Não sei escrever, mas aprendi a mexer no computador', diz moradora.
'Pedacinho da Bahia', diz a placa do estabelecimento. É o acarajé da Josi, que começou como um barraquinho em Heliópolis, uma comunidade com mais de 200 mil habitantes na Zona Sul de São Paulo, e hoje já está com ponto fixo. Joanice Leandro dos Reis, 36 anos, baiana, agora quer crescer de outra maneira: empreendendo pela internet.
Sem saber ler e escrever, Josi está descobrindo pelo computador quais são as letras do alfabeto. Ela começou o curso que é parte do programa “Facebook para Empreendedores”. A rede social instalou na comunidade de Heliópolis o primeiro laboratório de inovação do mundo, com PCs e internet grátis para os moradores. As aulas são gratuitas.
A dona do “Pedacinho da Bahia” começou a estudar como empreender pela rede social na segunda-feira (18). "Não sei escrever, mas eu conheço as letras. Estou estudando para aprender a ler", disse Josi. "Na primeira aula foi a primeira vez que eu mexi em um computador, em um notebook. Fiquei muito feliz. É fácil. Estou buscando conhecimento."
No currículo, os alunos aprendem a criar perfis, a determinar privacidade, quais são as ferramentas da rede, a denunciar conteúdo abusivo, a criar conteúdo interessante para as páginas de suas empresas e, se quiserem investir, descobrem como anunciar.
De acordo com Camila Fusco, gerente de comunicação do Facebook, o bairro foi escolhido por ter um forte comércio - são 5 mil empresários, de acordo com dados da UNAS, associação de moradores.
Antes de investir em Heliópolis, a marca descobriu que 90% dos mais de 200 mil moradores usam a rede social, mas que, ainda, 86% dos comerciantes não tinham uma página de seus serviços na rede social.
A rotina mudou. Nos postes, cartazes lembram o horário das aulas. Seu Chico, dono do Bar do Chico, ponto mais frequentado para assistir aos jogos de futebol, encaminhou seus funcionários para aprender como empreender em suas redes.
Quem é de fora de Heliópolis precisa de uma dica: uma lanchonete foi aberta com o nome “Faceburger” e usou toda a identidade da marca. Por ali, se vende só bebidas e também é o point para o baile funk. O curso é algumas quadras acima, na sede da UNAS.
Laboratório de inovação
O grafiteiro Tiago Morya Ishiyama, famoso na comunidade e conhecido como 8 ou 80, pintou toda a fachada do prédio da associação de moradores. À noite, a tinta brilha em neon e o desenho é cheio de peixes no fundo do mar. A placa diz “Laboratório de Inovação - Facebook”.
É ali que uma fila de garotos agitados se forma nos finais de tarde, por volta das 17h. Eles jogam futebol depois das aulas e, desde que o laboratório foi montado, esperam para entrar no Facebook.
A auxiliar de cozinha da UNAS, Roseli de Camargo, 53 anos, é uma das moças que preparam os lanches dos garotos de Heliópolis. Uma vez por semana, às 11h, ela também se prepara para fazer o curso. A primeira coisa que aprendeu foi ligar o computador.
“Meu computador estava no armário. Comprei uma mesinha para estudar. Quando eu estiver craque, vou colocar meu negócio na internet e vender meus salgados e bolos”, conta.
Para a pulverizar a ideia, a rede social também treinou seis “multiplicadores” que também são moradores do bairro. Eles vão de porta em porta para explicar a importância de empreender pela internet e convidar para conhecer o curso. Nínive Ferreira Nascimento, 25, estudante de publicidade e propaganda, é uma das multiplicadores de Heliópolis.
“No início, a gente não acreditava que o Facebook tinha escolhido Heliópolis. Tanto que os cursos estavam com pouca adesão. As pessoas estavam desconfiadas”, disse Nascimento.
Ela conta que, depois de terminarem as aulas da primeira turma, a procura aumentou. Dez pessoas se formaram no dia 15 de maio. No segundo grupo, que começou na segunda-feira (18), são 60 alunos divididos em quatro turmas.
Para receber o certificado, é preciso comparecer a todo o curso, que tem quatro módulos. Cada um deles tem duração de duas horas e ocorre uma vez por semana. O Sebrae também participa do projeto, com uma aula que dá orientações para criar e manter os negócios.
Elza Maria Feliz Romualdo, 59 anos, se formou na sexta-feira e foi a primeira pessoa a se inscrever. É artesã, especialista em tecelagem manual. Faz tapetes, cachecóis, jogos americanos para a cozinha.
Durante o curso, recuperou a página de seu negócio e deu um “up”, como ela mesma diz. Em um mês, o número de curtidas subiu de 100 para mais de 800 curtidas.
“Antes, eu recebia de dois a três e-mails por semana de interessados pelos meus tapetes. Agora, recebo de 25 a 30”, contou Elza.
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