Dados do último senso do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado em 2010, mostram que os negros e pardos são maioria entre a população brasileira. Eles somam quase 97 milhões de indivíduos (14.517.961 pretos e 82.277.333 pardos), contra 91 milhões que se declararam brancos.
São também os que mais sofrem com as desigualdades sociais. De acordo com estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o desemprego atinge 6,6% dos homens negros, contra 5,3% dos homens brancos. Entre as mulheres, a diferença é ainda maior: o índice fica em 12% para as negras e 9,2% para as brancas. O estudo mostra ainda que a renda dos negros é 40% menor que a dos brancos.
Educação
Na educação, as diferenças se repetem. A taxa de analfabetismo entre os negros (11,5%) é mais de duas vezes maior que entre os brancos (5,2%). Os negros levam também mais tempo para concluir os ensinos fundamental e médio, segundo levantamento realizado pelo movimento Todos pela Educação.
Os declarados brancos que concluíram o ensino fundamental aos 16 anos são 81% e os que concluíram o ensino médio aos 19 anos são 65,2%. Em relação aos negros, esses percentuais caem para 60% e 45%, respectivamente.
Ensino superior e cotas
Estudo realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), em 2012, aponta que apenas 35% dos matriculados em cursos de graduação no país são pretos ou pardos, enquanto 62% são brancos.
Os números, porém, mostram melhora significativa no acesso ao ensino superior. Em 1997, apenas 2,2% dos pardos e 1,8% dos negros entre 18 e 24 anos cursavam ou tinham concluído um curso de graduação no Brasil. Em 2011, os índices passaram para 8,8% e 11%, respectivamente.
Especialistas apontam o sistema de cotas como um dos responsáveis pelo aumento. Ele foi adotado gradualmente em instituições de todo o país e regulamentado pela lei 12.711, de 2012. De acordo com o texto, as universidades federais devem destinar 50% de suas matrículas para estudantes autodeclarados negros, pardos, indígenas; de baixa renda (com rendimentos igual ou inferior a 1,5 salário mínimo per capita); e que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas.
Ao mesmo tempo, não faltam críticas à iniciativa. Em uma busca rápida pela internet, se repetem argumentos como ‘trata-se de um ato de racismo’ ou ‘o governo deveria investir em educação básica’.
“É a pura e simples institucionalização do racismo, algo jamais visto no Brasil no período pós-abolição. As cotas raciais são uma das obsessões do atual governo, pois com elas é possível fazer demagogia e conquistar votos dos incautos. (...) As universidades deveriam continuar selecionando pelo mérito, sem distinções de qualquer espécie”, afirma o advogado e jornalista Carlos Alberto Tregnago, em artigo publicado no portal DireitoNet.
Já o professor Sebastien Kiwonghi pede um olhar mais abrangente da situação, que leve em conta os séculos de escravidão e desigualdades raciais vividos pelos afrodescendentes. “As ações afirmativas são transitórias, não definitivas. Temos uma história de mais de 500 anos e nada foi feito nesse sentido (não houve proteção dos direitos, acesso à justiça). Claro que é preciso investir na educação básica, mas antes de chegar a essa ‘realidade ideal’, é bom recuperar as injustiças do passado”, defende o professor.
Segundo ele, é preciso favorecer e criar oportunidades, caso contrário a sociedade levará muito tempo para chegar a um patamar de igualdade. “Como hoje o filho de uma faxineira vai estudar medicina? Se os concorrentes estão estudando nos melhores cursinhos”, questiona.
Redação Dom Total
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