Respirei o ar puro da manhã de outono, tomei o café quentinho e fui para a varanda ler o jornal.
Por Evaldo D´Assumpção*
Inicio o mês de junho com uma segunda-feira em que desfruto da insustentável leveza do ser, ideada por Milan Kundera. Explico: domingo, o meu glorioso Atlético sapecou uma pequena goleada no Vascão carioca, de tantas glórias e inglórias, enquanto a frágil e inofensiva Raposa trouxe de Florianópolis mais uma derrota, desta vez imposta pelo não menos frágil e inofensivo Figueirense. Tudo como parte de uma rivalidade sadia, enquanto nos limites de pacífica leveza.
Morando na pequena, mas charmosa praia dos Castelhanos, no Espírito Santo, tenho de contentar-me com as notícias esportivas publicadas pela imprensa capixaba, que curiosamente ignora o futebol mineiro, dedicando páginas inteiras aos clubes cariocas, um pouco menos aos clubes paulistas, e algumas notinhas de rodapé aos clubes mineiros. Parece que desconhecem a proximidade e a presença maciça do povo de Minas na economia, na cultura e na sociedade desse tão encantador estado brasileiro. Parece que a imprensa capixaba não leva em conta a contribuição que damos para o Espírito Santo, que se fosse melhor cuidado no que diz respeito ao turismo, com certeza se transformaria num dos polos mais importantes desta indústria, nacional e internacionalmente. Afinal, ele tem as mais lindas praias, circundadas de montanhas que nos remetem às paisagens e clima suíços, em charmosas viagens de não mais que uma ou duas horas, ligando o mar às alturas. Ainda assim, insistem nas imensamente poluidoras indústrias de minério e petróleo, cujos impostos acabam se perdendo nos gastos para reconstruir o que a poluição estraga na natureza, e especialmente na saúde dos habitantes deste estado. Quousque tandem?....
Retornemos a esta manhã gloriosa, em que fui despertado pelos inúmeros pássaros que habitualmente frequentam as árvores que rodeiam minha casa. Respirei o ar puro da manhã de outono, tomei o café quentinho e saboroso e fui para a varanda ler o jornal. Antes desfrutei um pouco mais do silêncio, uma vez que raríssimos são os veículos automotores circulando pelas nossas ruas. Dei uma folheada pelas páginas recheadas de políticos sendo investigados e presos, diverti-me com a charge que transferia um retrato do Marin, ex-poderoso da CBF e da FIFA para a galeria de fotos da Polícia Federal, e cheguei ao caderno de esportes. Nele, cinco páginas inteiras eram dedicadas ao “fantástico” Fla-Flu do domingo, onde um time que disputa lugar entre os quatro rebaixáveis e o outro que amarga um 7º lugar, gloriando-se contudo de possuir “Fred, o REI”, como o intitulam, imperava. Depois, encontro uma única página generosamente concedida ao jogo do nosso glorioso GALO, porém recheada de justificativas para o Vascão, comentando e dando notas a cada um dos seus jogadores, mas reservando quatro míseras linhas para a atuação do esquadrão alvinegro. Sensacional equanimidade!
Mas, já habituado a essas peripécias sectárias, voltei minha atenção para a notícia seguinte, dando conta da revolta dos jogadores do Bilbao pelos dribles que o irreverente Neymar andou aplicando nos atletas daquele time. Muito sabiamente, um dos editores desta página coloca uma coluna intitulada; “Escolham: malabarismo ou pancadas?”
Veio-me então a imagem do Mané Garrincha deixando literalmente sentados no chão, os gigantes louros de países europeus, com seus dribles desconcertantes. Não me lembro de nenhuma crítica à incrível agilidade do camisa 7 de pernas tortas. E me pergunto: afinal de contas, futebol é arte, diversão e esporte ou somente máquina de faturamento dos cartolas, de alguns jogadores, e por isso, indústria de gols? Claro que o gol é o alvo de todos os jogadores e torcedores, contudo, se eles vierem precedidos de um verdadeiro balé por parte dos poucos que dominam verdadeiramente a difícil arte do ludopédio, não será muito melhor? “Chapéus”, “rabos de vaca”, “bicicletas”, “canetas” e outras pinturas não devem ser aplaudidas e incentivadas, ao invés de censuradas e até cortadas à custa de verdadeiros golpes de luta-livre?
Parabéns ao Neymar, que aos moldes do Garrincha, trás de volta a alegria para o futebol, resgatando a beleza de tempos mais leves, que nos incentivam a desfrutar da insustentável leveza do ser, enquanto ela existir.
Inicio o mês de junho com uma segunda-feira em que desfruto da insustentável leveza do ser, ideada por Milan Kundera. Explico: domingo, o meu glorioso Atlético sapecou uma pequena goleada no Vascão carioca, de tantas glórias e inglórias, enquanto a frágil e inofensiva Raposa trouxe de Florianópolis mais uma derrota, desta vez imposta pelo não menos frágil e inofensivo Figueirense. Tudo como parte de uma rivalidade sadia, enquanto nos limites de pacífica leveza.
Morando na pequena, mas charmosa praia dos Castelhanos, no Espírito Santo, tenho de contentar-me com as notícias esportivas publicadas pela imprensa capixaba, que curiosamente ignora o futebol mineiro, dedicando páginas inteiras aos clubes cariocas, um pouco menos aos clubes paulistas, e algumas notinhas de rodapé aos clubes mineiros. Parece que desconhecem a proximidade e a presença maciça do povo de Minas na economia, na cultura e na sociedade desse tão encantador estado brasileiro. Parece que a imprensa capixaba não leva em conta a contribuição que damos para o Espírito Santo, que se fosse melhor cuidado no que diz respeito ao turismo, com certeza se transformaria num dos polos mais importantes desta indústria, nacional e internacionalmente. Afinal, ele tem as mais lindas praias, circundadas de montanhas que nos remetem às paisagens e clima suíços, em charmosas viagens de não mais que uma ou duas horas, ligando o mar às alturas. Ainda assim, insistem nas imensamente poluidoras indústrias de minério e petróleo, cujos impostos acabam se perdendo nos gastos para reconstruir o que a poluição estraga na natureza, e especialmente na saúde dos habitantes deste estado. Quousque tandem?....
Retornemos a esta manhã gloriosa, em que fui despertado pelos inúmeros pássaros que habitualmente frequentam as árvores que rodeiam minha casa. Respirei o ar puro da manhã de outono, tomei o café quentinho e saboroso e fui para a varanda ler o jornal. Antes desfrutei um pouco mais do silêncio, uma vez que raríssimos são os veículos automotores circulando pelas nossas ruas. Dei uma folheada pelas páginas recheadas de políticos sendo investigados e presos, diverti-me com a charge que transferia um retrato do Marin, ex-poderoso da CBF e da FIFA para a galeria de fotos da Polícia Federal, e cheguei ao caderno de esportes. Nele, cinco páginas inteiras eram dedicadas ao “fantástico” Fla-Flu do domingo, onde um time que disputa lugar entre os quatro rebaixáveis e o outro que amarga um 7º lugar, gloriando-se contudo de possuir “Fred, o REI”, como o intitulam, imperava. Depois, encontro uma única página generosamente concedida ao jogo do nosso glorioso GALO, porém recheada de justificativas para o Vascão, comentando e dando notas a cada um dos seus jogadores, mas reservando quatro míseras linhas para a atuação do esquadrão alvinegro. Sensacional equanimidade!
Mas, já habituado a essas peripécias sectárias, voltei minha atenção para a notícia seguinte, dando conta da revolta dos jogadores do Bilbao pelos dribles que o irreverente Neymar andou aplicando nos atletas daquele time. Muito sabiamente, um dos editores desta página coloca uma coluna intitulada; “Escolham: malabarismo ou pancadas?”
Veio-me então a imagem do Mané Garrincha deixando literalmente sentados no chão, os gigantes louros de países europeus, com seus dribles desconcertantes. Não me lembro de nenhuma crítica à incrível agilidade do camisa 7 de pernas tortas. E me pergunto: afinal de contas, futebol é arte, diversão e esporte ou somente máquina de faturamento dos cartolas, de alguns jogadores, e por isso, indústria de gols? Claro que o gol é o alvo de todos os jogadores e torcedores, contudo, se eles vierem precedidos de um verdadeiro balé por parte dos poucos que dominam verdadeiramente a difícil arte do ludopédio, não será muito melhor? “Chapéus”, “rabos de vaca”, “bicicletas”, “canetas” e outras pinturas não devem ser aplaudidas e incentivadas, ao invés de censuradas e até cortadas à custa de verdadeiros golpes de luta-livre?
Parabéns ao Neymar, que aos moldes do Garrincha, trás de volta a alegria para o futebol, resgatando a beleza de tempos mais leves, que nos incentivam a desfrutar da insustentável leveza do ser, enquanto ela existir.
Evaldo D´Assumpção é médico e escritor
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