quinta-feira, 11 de junho de 2015

Encíclica climática deve enviar forte mensagem

Por Barbara Fraser
Próxima encíclica do Papa Francisco sobre a ecologia e o clima deve enviar uma forte mensagem moral – uma mensagem, dizem alguns analistas, que pode deixar alguns leitores desconfortáveis.
“Esta encíclica vai abordar a questão da desigualdade na distribuição de recursos e temas como o desperdício de alimentos e a exploração irresponsável da natureza, além das consequências para a vida das pessoas e da saúde”, disse Dom Pedro Barreto Jimeno, da Diocese de Huancayo, Peru, ao Catholic News Service.
“O Papa Francisco tem afirmado repetidamente que o meio ambiente não é apenas uma questão econômica ou política, mas também uma questão antropológica e ética”, disse ele. “Como se pode ter riqueza se ela vem à custa do sofrimento e morte de outras pessoas e da deterioração do meio ambiente?”
A encíclica, a ser publicada em 18 de junho, intitula-se “Laudato Sie” (“Louvado Seja”), que são as primeiras palavras “Cântico das Criaturas”, de São Francisco.
Ainda que Barreto não tenha feito parte do grupo de elaboração da encíclica, ele trabalhou em estreita colaboração com o então Cardeal Jorge Mario Bergoglio, em 2007, num documento do conselho dos bispos latino-americanos, que incluiu uma seção inédita sobre o meio ambiente.
Não se espera que esta encíclica vem há a ser um tratado teológico ou um documento técnico sobre questões ambientais, mas sim um chamado pastoral para mudar a maneira como as pessoas usam os recursos do planeta de forma que eles não sejam somente o suficiente para as necessidades atuais como também para as gerações futuras, afirmaram alguns analistas.
O documento “enfatizará que a opção para a gestão do ambiente anda de mãos dadas com a opção pelos pobres”, disse o padre carmelita Eduardo Agosta Scarel, cientista do clima que leciona na Pontifícia Universidade Católica da Argentina e na Universidade Nacional de La Plata, em Buenos Aires.
“Acho que o papa quer que nos conscientizemos disso”, falou Scarel, que esteve envolvido nas consultas preparatórias sobre a encíclica. “Ele está visando uma mudança de coração. O que irá nos salvar não é a tecnologia ou a ciência. O que vai nos salvar é a transformação ética de nossa sociedade”.
O papa prenunciou esta encíclica durante a sua primeira missa pública como papa em 19 de março de 2013, disse Agosta. Em sua homilia, ele disse: “Sejamos os protetores da criação, os protetores do plano de Deus inscrito na natureza, os protetores uns dos outros e do meio ambiente”.
Embora o documento será publicado na sequência de um seminário sobre mudanças climáticas em abril no Vaticano, ele não se limitará a essa questão e, provavelmente, irá centrar-se na relação entre as pessoas e o meio ambiente, disse Barreto.
“O que o papa traz a este debate é a dimensão moral”, acrescentou Anthony Annett, assessor sobre as mudanças climáticas e o desenvolvimento sustentável no Earth Institute, da Columbia University, e na organização sem fins lucrativos Religions for Peace. “A sua forma original de olhar o problema, profundamente enraizada na doutrina social da Igreja, ressoa com pessoas em todo o mundo”.
Annett considerou o “timing” desta encíclica algo “extremamente significativo”.
Um mês após a sua publicação, representantes mundiais reunir-se-ão em uma conferência sobre o financiamento para o desenvolvimento, em Adis Abeba, Etiópia.
Em setembro, o papa irá discursar às Nações Unidas numa sessão que provavelmente irá aprovar um novo conjunto de objetivos de desenvolvimento global – os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável –, que incluem critérios ambientais.
E, em dezembro, os negociadores e líderes mundiais irão se encontrar em Paris para finalizar a elaboração de um tratado que visa reduzir a emissão de gases de efeito estufa que contribuem para o aquecimento global.
Alguns políticos já questionaram as credenciais do papa por estar falando sobre a questão das mudanças climáticas, mas este é apenas um dos vários problemas ambientais que o papa é deverá abordar, disse David Kane, missionário leigo maryknoll em João Pessoa, na Paraíba, que trabalha no Programa Fé-Economia-Ecologia, da ordem dos Irmãos de Maryknoll.
O papa se pronunciou no passado sobre a “cultura de desperdício, tanto de bens materiais que compramos e usamos por alguns meses e depois jogamos fora, quanto de pessoas descartáveis”, disse ele.
Kane espera que a encíclica ajude as pessoas a compreender que o uso excessivo de recursos, das florestas à água, resulta em escassez que tanto pode aumentar quanto pode ser exacerbado pelas alterações climáticas. Ele espera que o Papa Francisco lembre as pessoas sobre a responsabilidade de cuidar da criação de Deus.
“Independentemente de acharmos que a mudança climática é, ou não, um problema, não podemos negar que o esgotamento de peixes, do petróleo, da água e outros recursos é, de fato, um grande problema. A solução é uma mudança radical no conceito de o que faz uma pessoa feliz. Precisamos nos afastar da ideia de que quanto mais coisas tivermos, mais felizes seremos”, disse Kane.
Barreto diz esperar algumas reações polêmicas tão logo as pessoas lerem o documento, porque resistir à “cultura do desperdício” satisfazendo-nos com menos significa “pôr o dinheiro a serviço do povo, em vez de ter as pessoas servindo ao dinheiro”.
Esta encíclica “terá muitos críticos, porque muitos querem continuar estabelecendo as regras do jogo, em que o dinheiro vem em primeiro lugar”, disse ele. “Temos de estar preparados para esse tipo de ataque”.
Catholic News Service, 08-06-2015.

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