quarta-feira, 3 de junho de 2015

Je SuisProfessor

  • por Andrea Ramal

    Grupo de professores fazem ato para chamar atenção da população em Piracicaba
    Na pátria educadora há cada vez mais professores em greve. Nesta segunda-feira (1º), os docentes de São Paulo chegaram a se acorrentar ao prédio da Secretaria Estadual de Educação, poucas semanas depois da lastimável batalha campal do Paraná. Não são casos isolados. Os professores estão parados em 48 das 63 universidades federais. Há entraves na negociação em diversos estados e em centenas de municípios.

    Por todo o país, há mestres infelizes, divididos entre seguir acreditando ou abandonar de vez a profissão. Mas quando a sociedade vai prestar atenção ao grito dos docentes brasileiros?
    É fato que, em certos casos, há contaminação de interesses políticos. No entanto, ainda que haja algo disso, quem acompanha de perto sabe que a categoria, de um modo geral, só paralisa as atividades quando as chances de diálogo se esgotam, até porque não desconhece o impacto pessoal e social de cada interrupção de aulas.
    Algum pai ou mãe pode imaginar que, após essas negociações desgastantes travadas a cada ano com o governo de plantão, repletas de episódios de humilhação e descaso, as aulas podem voltar tranquilamente, motivadoras e produtivas?
    As sequelas ficam. Não se trata só de salário (o piso atual é R$ 1.917/mês). A cada ano, mais alunos agridem seus mestres, sem que isso seja motivo de espanto para as famílias. Faltam recursos, há escolas abandonadas. A cada ano, mais professores adoecem com males como estresse, depressão e até bullying, até desistir da profissão. Que jovem de talento sonha em ocupar o seu lugar?
    Será que pais e mães de estudantes brasileiros conseguem enxergar a relação entre esse contexto e o fato de que, desde que o Brasil começou a participar do Pisa – exame internacional de matemática e leitura –, há 15 anos, ficou sempre nas últimas posições? Conseguem estabelecer uma ligação entre tudo isso e a falta de profissionais qualificados, o aumento do desemprego e da violência, o apagão da economia, a queda do PIB (índice que mede o crescimento da economia) e da competitividade?
    Se acreditam que, para além de ajustes fiscais, só a educação de qualidade pode reverter esse cenário, é hora de ouvir a voz dos mestres. Vamos encarar seriamente este problema, com a mente aberta, e zelar pelo futuro da nossa criançada? Todo mundo se mobilizou para gritar #JeSuisCharlie, em solidariedade aos profissionais mortos em um ataque terrorista à revista francesa Charlie Hebdo, em janeiro desse ano, não é? Pois já passou da hora de olhar para nossa casa e gritar, pelo Brasil, #JeSuisProfessor.
    Foto: Grupo de professores fazem ato para chamar atenção da população em Piracicaba (Maria Fernanda Cavassani / Arquivo pessoal)

Nenhum comentário:

Postar um comentário