quarta-feira, 24 de junho de 2015

Kandinsky – cor & alma

24 de junho de 2015

Kandinsky: a forma e a cor do som.
Kandinsky: a forma e a cor do som.
Por Carlos Ávila
A exposição “Kandinski – tudo começa num ponto” que circulou pelos Centros Culturais do Banco do Brasil (termina em São Paulo, ficando em cartaz de 8/7 até 28/9) não é bem uma ampla mostra de obras do grande pintor russo; é antes uma “amostragem” de suas raízes artísticas e do seu percurso da figuração à abstração (a influência do misticismo e da arte popular do norte da Sibéria; a descoberta dos impressionistas franceses, particularmente Monet, numa exposição em Moscou; seu relacionamento com os pares contemporâneos, entre eles Burliuk e Malevitch; e a importância da música, via-Schoenberg, no seu trabalho).
Com curadoria de Evgenia Petrova e Joseph Kiblitsky, a maior parte do material exposto (desde objetos xamânicos até óleos sobre tela) pertence ao Museu Estatal Russo; trata-se de uma mostra didática e bem realizada de introdução ao universo de Kandinsky (1866/1944) – nome fundamental para o entendimento da arte moderna no século 20 e sua posterior evolução.
Kandinsky era um pintor-poeta (como Klee, que também escreveu poemas; há dois deles na mostra); e também um pintor-pensador, que elaborou toda uma teoria para apoiar suas experiências pictóricas – lançou, em 1912, o livro “Do espiritual na arte”.
A teoria de Kandinsky nesse livro foi sintetizada pelo crítico inglês Herbert Read (autor dos fundamentais “A origem da forma na arte” e “Arte e alienação”): “A obra de arte é uma construção (não necessariamente geométrica) utilizando todas as potencialidades da forma e da cor, não de um modo óbvio, pois a construção mais efetiva pode ser oculta, composta de configurações aparentemente fortuitas – ‘de certo modo’ formas relacionadas que são, na realidade, reunidas de maneira muito precisa”.
O “rabisco” inicial de Kandinski era puro risco – improvisação de linha e cor; “mas essas formas”, segundo Read, “são então modificadas ou manipuladas, provocadas e experimentadas, até que correspondam a um sentimento interior ainda mais claramente compreendido”. O pintor termina seu livro anunciando a chegada de uma época “de composição raciocinada e consciente, na qual o pintor terá orgulho em revelar sua obra estrutural”.
A partir daí Kandinsky segue adiante, com a formação do grupo Der Blaue Reiter (O Cavaleiro Azul), o diálogo profundo e profícuo com a música (a forma anticonvencional de organização dos sons, criada por seu amigo Schoenberg: o dodecafonismo) e uma passagem pela Bauhaus, até seu fechamento pelos nazistas. Depois, vem o período final/radical – com o seu trabalho solitário na França (morreu emNeuilly-sur-Seine, em meio a carências durante a Segunda Guerra).
Kandinsky – nome luminoso como outros da revolucionária e criativa Rússia do início do século 20: Malevitch, Eisenstein, Nijinsky, Meyerhold, Maiakovski; Kandinsky – pintor, poeta, pensador: “A cor é um meio para exercer uma influência direta sobre a alma”.

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