sábado, 13 de junho de 2015

Mundo carente de misericórdia

'Redescoberta' da misericórdia ajudará a humanidade a se reencontrarem com Deus.

O Ano Santo da Misericórdia poderá ajudar a recuperar a relação correta do homem com Deus.
Por Cardeal Odilo Pedro Scherer*
O Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização foi encarregado pelo papa Francisco para organizar as iniciativas do Ano Santo Extraordinário da Misericórdia de Deus. Em breve, esse Dicastério dará instruções a todos os episcopados da Igreja sobre a preparação do Jubileu da Misericórdia.
Como de costume, serão incentivadas as iniciativas já tradicionais em todas as celebrações de Anos Santos: a Porta Santa, as peregrinações, as indulgências, as pregações e reflexões temáticas relacionadas com o tema do Jubileu. Mas o Papa deseja que isso aconteça em todas as Igrejas Particulares do mundo, e não apenas em Roma.
A celebração do Jubileu da Misericórdia de Deus, de fato, está profundamente relacionada com a proposta da “nova evangelização”. A misericórdia é da essência de Deus e da Boa Nova da salvação, anunciada pela Igreja à humanidade. Por isso, a “redescoberta” da misericórdia ajudará a Igreja e a humanidade a se reencontrarem com Deus de forma verdadeira e a se relacionarem com o próximo igualmente de forma verdadeira. Onde faltasse a misericórdia na vivência religiosa e humana, estaria faltando uma dimensão fundamental da vida e da convivência.
O Ano Santo da Misericórdia poderá ajudar a recuperar a relação correta do homem com Deus: o homem, desde Adão e Eva, tende a ser soberbo e a prescindir de Deus; foi essa a grande tentação de nossos primeiros pais no paraíso e que se repete ainda hoje: “sereis como deuses”. O homem esquece facilmente a sua condição de criatura frágil e dependente do Criador e que sua existência é fruto do amor misericordioso de Deus. E quando isso acontece, sua vida se desorienta. Aceitar humildemente que é filho da misericórdia de Deus: isso deixa o homem em paz e confiante na vida.
Outro aspecto da vida cristã que o Ano Santo da Misericórdia poderá ajudar a recuperar é a acolhida da misericórdia de Deus através do perdão e da reconciliação. Jesus Cristo deixou à Igreja o ministério da reconciliação dos pecadores. Mas este serviço essencial da Igreja anda meio esquecido. O Sacramento do perdão e da reconciliação não pode ficar descuidado na nova evangelização Aliás, o anúncio do Evangelho tem um primeiro fruto, após a acolhida do querigma: o arrependimento e o pedido de perdão. Sem isso, o anúncio fica a meio caminho e não alcança o seu objetivo. Fazer a experiência do perdão e da misericórdia de Deus é das coisas mais salutares na vida humana e cristã.
Enfim, seria muito desejável que o Ano Santo da Misericórdia ajudasse todos os filhos da Igreja a retomarem a prática das “obras de misericórdia”. Elas são a expressão concreta da caridade e da misericórdia vividas por nós. Sem elas, nossos discursos sobre caridade, justiça e vida cristã poderiam ficar em estéreis considerações intelectuais. A caridade é concreta e a misericórdia, também. A Igreja continua aconselhando a prática das obras de misericórdia “corporais” e “espirituais” (cf Catecismo, § 2.247). A prática da misericórdia concreta é recomendada por Jesus, para sermos dignos filhos de Deus: “sede misericordiosos, porque vosso Pai é misericordioso” (cf Lc 6,36).
O Sagrado Coração de Jesus é a imagem humana do amor misericordioso de Deus: “tanto Deus amou o mundo, que lhe entregou seu Filho único, para que não morra quem nele crer, mas tenha a vida eterna. De fato, Deus não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva”. A misericórdia de Deus é bem explicada por Jesus nas parábolas da misericórdia: do bom samaritano, do filho pródigo, da ovelha perdida e da dracma perdida (cf Lc 10, 25-37; Lc 15).
O papa Francisco tem dito diversas vezes que a Igreja é desejosa de anunciar a misericórdia de Deus ao mundo e de convidar todos a viverem a misericórdia. O mundo está carente de misericórdia!
CNBB 12-06-2015
*Cardeal Odilo Pedro Scherer é arcebispo de São Paulo (SP).

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