quinta-feira, 11 de junho de 2015

Não vivam perseguindo revelações de videntes

Por Domenico Agasso Jr
O Papa Francisco chamou a atenção daqueles que querem transformar o cristianismo em uma “ideia bonita”. Exortou para não diluir a identidade cristã em uma religião “soft”. E insistiu em que outro perigo para o testemunho dos fiéis de Jesus é o mundanismo daqueles que alargam tanto suas consciências que permitem que entre tudo. São algumas das passagens mais importantes da homilia matutina de 09-06-2015, do Papa Francisco, na Capela da Casa Santa Marta, segundo indicou a Rádio Vaticano.
Qual é a identidade cristã? O Papa Francisco desenvolveu sua homilia partindo das palavras de São Paulo aos Coríntios, passagem em que fala da identidade dos discípulos de Jesus. É verdade que “para chegar a esta identidade cristã” Deus “nos faz percorrer um longo caminho de história” até que envia o seu Filho.
O Papa disse que “também nós devemos percorrer, em nossa vida, um longo caminho, para que esta identidade cristã seja forte”, e assim “dê testemunho”. “É um caminho – explicou – que podemos definir como da ambiguidade à verdadeira identidade”.
É verdade, “o pecado existe, e o pecado nos faz cair, mas nós temos a força do Senhor para nos levantar e prosseguir com a nossa identidade. Mas eu diria também que o pecado faz parte da nossa identidade: somos pecadores, mas pecadores com a fé em Jesus Cristo. E não é somente uma fé de conhecimento, não. É uma fé que é um dom de Deus e que entrou em nós por Ele. É Deus que nos confirma em Cristo. E nos conferiu a unção, nos imprimiu o sigilo, nos deu a entrada, o penhor do Espírito nos nossos corações. É Deus quem nos dá este dom da identidade”.
É fundamental, acrescentou o Pontífice argentino, “ser fiel a esta identidade cristã e deixar que o Espírito Santo, que é justamente a garantia, o penhor no nosso coração, nos leve adiante na vida”. Não somos pessoas que vão atrás de uma filosofia, advertiu, “somos ungidos” e temos a “garantia do Espírito”.
“É uma bela identidade – explicou Bergoglio – que se mostra no testemunho. Por isso, Jesus nos fala do testemunho como de uma linguagem da nossa identidade cristã”. E é assim mesmo que “a identidade cristã seja tentada; as tentações sempre existem” e a identidade “pode enfraquecer-se e perder-se”. O Papa então advertiu para dois caminhos perigosos:
“Primeiro, o de passar do testemunho às ideias, diluir o testemunho. ‘Eh sim, sou cristão. O Cristianismo é isso, uma bela ideia. Eu rezo a Deus’. E assim, do Cristo concreto, porque a identidade cristã é concreta – como lemos nas Bem-aventuranças; esta concretização também está em Mateus 25: a identidade cristã é concreta – passamos a esta religião um pouco light, aérea e que vai no caminho dos gnósticos. Por trás, há o escândalo. Esta identidade cristã é escandalosa. E a tentação é: ‘Não, não, sem escândalos’”.
“A cruz é um escândalo” e, portanto, há quem busca Deus “com essas espiritualidades cristãs um pouco etéreas”, os “gnósticos modernos”. Depois, advertiu, existem “os que sempre necessitam de novidade na identidade cristã” e “esqueceram que foram escolhidos, ungidos”, que “têm a garantia do Espírito” e buscam: “‘Mas onde estão os videntes que nos dizem hoje a carta que Nossa Senhora mandará às 4 da tarde?’, por exemplo, não? E vivem disso. Esta não é identidade cristã. A última palavra de Deus se chama ‘Jesus’ e nada mais”.
Outro caminho para regredir na identidade cristã, acrescentou, é o mundanismo: “Alargar de tal modo a consciência que ali cabe tudo. ‘Sim, nós somos cristãos, isso sim…’. Não somente moralmente, mas também humanamente. O mundanismo é humano. E, assim, o sal perde sabor. E vemos comunidades cristãs, que se dizem cristãs, mas não podem nem sabem dar testemunho de Jesus Cristo. E assim a identidade regride, caminha para trás e se perde, e esse nominalismo mundano que nós vemos todos os dias. Na história da salvação, Deus – com a sua paciência de Pai – nos levou da ambiguidade à certeza, à concretude da encarnação e à morte redentora do seu Filho. Esta é a nossa identidade”.
São Paulo, acrescentou, se vangloria de Jesus “feito homem e morto por obediência”, “esta é a identidade e ali está o testemunho”. É uma graça, concluiu, que devemos pedir ao Senhor: que sempre nos dê este presente, este dom de uma identidade que não busca se adaptar às coisas” até “perder o sabor do sal”.
Vatican Insider, 09-06-2015.

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