Gonzaga Mota*
Em 1984, governava o Estado do Ceará, era o quinto ano consecutivo de seca. Dividia-me entre as significativas tarefas administrativas e assistenciais, bem como ao projeto de redemocratização do Brasil. Período difícil. Além da retaliação executada por pessoas do Governo Federal, a natureza não ajudou. No entanto, tenho a consciência tranquila do dever cumprido com seriedade. Reduzimos a fome no sertão do Ceará e ocorreu a democracia. Minha mulher, Mirian, foi de uma dedicação extrema aos sertanejos. Criou a “Missão Asa Branca” e trabalhando com voluntários, com a ajuda das Forças Armadas, da Polícia Militar do Ceará, dos empresários, dos profissionais liberais, etc, apoiaram de forma significativa as populações carentes. Certa vez a “Missão” recebeu um caminhão carregado de ovos. Enviamos para o querido município de Jaguaruana, onde a fome era grande, a pedido do dinâmico prefeito Manezinho. Por sua vez, nas eleições de 1990, candidatei-me à Câmara Federal. Durante a campanha cheguei ao município de Jaguaruana e fui recebido pelos correligionários com uma imensa passeata na avenida principal. Em determinado momento uma senhora segurando pela mão uma criança se aproximou de mim e falou: “graças aos seus ovos esta menina esta viva”. Disse-lhe: por favor, senhora não me comprometa. Todos riram, chorei e beijei carinhosamente a criança. A passeata seguiu até o palanque principal. Como é bonita a ingenuidade! É tão bela quanto o amor. A vida é assim.
*Integra a Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza, poeta, escritor, professor da UFC e ex-governador do Ceará
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