domingo, 19 de julho de 2015

Brasil tem pouca análise de dados

Segundo a presidente do Cedepi, 90% da violência entre idosos é cometida contra as mulheres.

Os dados sobre violência contra o idoso que chegam ao Disque 100 de Direitos Humanos deveriam ser melhor trabalhados para traçar um perfil nacional do problema. A opinião é do promotor Luiz Cláudio de Carvalho Almeida, coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Proteção ao Idoso e à Pessoa com Deficiência do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ).

Ele participou do Fórum Violência e Maus Tratos Contra o Idoso, organizado pela Secretaria de Estado de Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida (SEESQV), para marcar o Dia Internacional de Combate à Violência contra a Pessoa Idosa. De acordo com Almeida, as denúncias feitas precisar ser checadas e gerar novos dados.

"O Disque 100 é uma porta de entrada de informação. Eu acho que a gente tem que evoluir no sentido de construir um fluxo de trabalho para que esses dados possam ser checados para depois a gente totalizar o que eram denúncias verdadeiras e o que não eram, quais eram repetidas. Então é preciso a gente refinar um pouco mais esse trabalho para a gente ter dados mais apurados".

O promotor destaca que o próprio Ministério Público não tem dados apurados sobre a questão, mas que estão sendo feitas duas pesquisas para suprir essa lacuna, que devem ser divulgadas em dois anos. "A gente está fazendo um trabalho junto com o Centro de Estudo e Pesquisa em Envelhecimento, do Instituto Vital Brasil, e com o Ipup, da UFRJ [Programa de Residência Médica do Instituto de Psiquiatria]. A gente oferece os nossos bancos de dados para que eles sejam destrinchados. Está tudo sendo tabulado de acordo com critérios científicos deles".

Segundo a presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Idosa (Cedepi), Sandra Rabelo, no segundo semestre de 2014 foram feitas cerca de 3 mil denúncias pelo Disque 100 em todo o estado do Rio de Janeiro, com prevalência de negligência, abuso financeiro, abandono e violência psicológica. Sandra destaca que a violência contra o idoso também é uma questão de gênero.

"A mulher vive mais, então, em consequência disso, é também a mulher que desenvolve mais patologia degenerativa. Ela fica mais frágil, ela perde a rede familiar, os filhos casam e vão embora, o marido morre, ela fica sozinha e não encontra ninguém para cuidar dela. Mulher lidera disparado [o índice de violência contra o idoso] entre homens e mulheres, 90% da violência é contra mulher".

Sandra explica que, em 2006, durante segunda Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa, foi definida a criação da Rede Nacional de Proteção e Defesa da Pessoa Idosa, porém o projeto ainda não foi implementado. "Uma rede nacional, com os entes: Ministério Público, conselhos, delegacias, Cras [Centro de Referência de Assistência Social], Creas [Centro de Referência Especializado de Assistência Social] e poder local atuando em conjunto, mas a gente teve dificuldade de efetivação, não houve pactuação entre as entidades".

Criada em 2013, a SEESQV desenvolve ações ligadas ao bem-estar do idoso, como a colocação das academias da Terceira Idade (ATIs) em espaços públicos e orientação de profissionais de nutrição e fisioterapia. O secretário José Luiz Nanci adianta que está em estudo o projeto-piloto para a construção de um Centro Dia.

"Estamos vendo se vamos fazer em Itaboraí ou São Gonçalo, um projeto-piloto junto com a Fundação Leão 13. No Centro Dia a pessoa chega, toma café da manhã, e depois há várias atividades físicas, ginástica para a terceira idade, jogos, dominó, e conversa entre eles. Depois, tem o almoço, eles descansam, fazem a sesta, retomam outras atividades, e tomam o café da tarde. Daí, levamos para a residência. Enquanto isso a família vai trabalhar, né?"

De acordo com o promotor Almeida, muitos casos de violência contra o idoso decorrem da impossibilidade da família oferecer o cuidado devido ao ancião, por falta de tempo ou de dinheiro.
Agência Brasil

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