Todos precisamos de paz, para melhor refletir e caminhar na direção de um projeto de vida.
Por Dom José Alberto Moura*
O barulho na sociedade atual às vezes é ensurdecedor. Os decibéis elevados causam surdez. Mais e mais os aparelhos para melhorar a audição estão em voga. Mas há surdez também irreversível.
Jesus, percebendo o corre-corre dos discípulos, conduziu-os para um lugar afastado e ermo para poderem conversar, meditar, orar e descansar, restabelecendo a paz interior, necessária para a execução da missão de servir o povo.
Todos precisamos de paz interior e social, para melhor refletir e caminhar na direção de um projeto de vida de sentido. Muitos vivem desnorteados e dispersos, não sabendo o que fazer para encontrar sentido à vida e ao que fazem dela. Precisam seguir lideranças que as ajudem a encontrar o caminho da vida realizadora. Na Bíblia encontramos profetas que analisam lideranças. Estas, ao invés de ajudar o povo, muitas vezes fazem desviá-lo de sua caminhada, de sua segurança e promoção de sua dignidade: “Vós dispersastes o meu rebanho, e o afugentastes e não cuidastes dele; eis que irei verificar isso entre vós e castigar a malícia de vossas ações, diz o Senhor... E eu reunirei o resto de minhas ovelhas... Suscitarei para elas novos pastores” (Jeremias 23, 2.3.4).
No burburinho da vida, com todos os seus desafios, injustiças e desvios de conduta, com prejuízo do bem comum, precisamos discernir o que fazer para uma convivência de mais promoção do bem comum e obtenção da paz pessoal e social. Sem conversão para a convivência no amor não temos condição de resolver os conflitos e a necessária promoção da vida massacrada de tantos deixados de lado no convívio social. A responsabilidade de escolher lideranças é de todos. Para isso, é preciso formar-se cada vez mais a consciência da verdadeira cidadania. Ela exige de quem elege lideranças e da própria liderança constituída, o sentido da vida de serviço e não desserviço à causa comum.
Afastar-se da agitação para ponderar sobre o que queremos com a vida e o que fazemos dela é indispensável. Os discípulos de Jesus “foram sozinhos, de barco, para um lugar deserto e afastado” (Marcos 6,32). De fato, era preciso dar tempo para si mesmos, revendo a caminhada e o exercício da missão de ensinar as multidões. Quanto maior é a abrangência da liderança, maior é a necessidade de reflexão. Esta faz a pessoa colocar a mão na consciência para ver se está sendo fiel no serviço ao bem do povo. Caso contrário, pode-se deixar levar por ações não ponderadas e errar no exercício da própria missão. Caso perceba os erros, na reflexão e pedido de ajuda a quem possa dar, a revisão e mudança de suas ações poderão ser mais adequadas à própria função. Por isso, é preciso ter os ouvidos aptos para entender o valor apresentado por quem tem capacidade de orientar. Ouvir a Palavra de Deus é indispensável.
Quanto mais reta intenção e união de forças para o exercício da liderança, mais produtiva é sua ação de beneficiar a comunidade. Faltando uma ou essas duas virtudes, o exercício da incumbência para a qual foi escolhida a liderança fica prejudicada. Por isso, sair da agitação para ter momentos de ponderação, reflexão e oração torna-se indispensável para o bom exercício da liderança.
CNBB 16-07-2015
*Dom José Alberto Moura é arcebispo de Montes Claros (MG).
Nenhum comentário:
Postar um comentário