sábado, 11 de julho de 2015

'Neruda-Fugitivo' relembra clandestinidade

Há muito respeito no tratamento do tema, mas o filme esquiva-se de maiores polêmicas.

Por Neusa Barbosa
Um episódio não muito conhecido da vida do poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973) inspira a ficção "Neruda-Fugitivo". Dirigida com reverência por Manuel Basoalto, o filme tem o mérito de resgatar um período de clandestinidade e grande perigo na vida de Neruda, em 1948, quando ele era senador e teve que fugir da perseguição do presidente chileno González Videla, que colocara na ilegalidade o Partido Comunista, ao qual pertencia o poeta-senador.
O filme estreia em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Porto Alegre, Curitiba, Salvador, Belo Horizonte e João Pessoa. Há muito respeito no tratamento do tema, mas o filme esquiva-se de maiores polêmicas.
Neruda (na maturidade, interpretado por José Secall) é tratado como figura incontestada, dono de uma verve apurada, que responde aos desmandos e traições de González Videla (Max Corvalán) – eleito com o apoio dos comunistas – com um discurso à altura de seu talento literário, “Eu Acuso”, lembrando o título da famosa carta do escritor francês Émile Zola em defesa do perseguido capitão Alfred Dreyfuss, publicada em 1898.
O roteiro, também de autoria de Basoalto – um parente distante do poeta -, prefere ater-se mais aos aspectos pessoais do que a controvérsias políticas, exceto a pública e notória perseguição aos comunistas, compondo um personagem bondoso e bonachão, capaz de se integrar sem dificuldades a qualquer ambiente popular ou camponês.
Assim, a narrativa acompanha a fuga de Neruda, escapando de uma possível morte, ajudado por diversos militantes pelo Chile – alguns deles, caindo prisioneiros ao longo do caminho.
Enquanto se esconde, Neruda escreve poemas, que depois serão lidos em uma de suas grandes obras, Canto Geral. O filme se vale de vários flashbacks para situar a formação do poeta, filho de camponeses que encontrou a poesia como vocação e o pseudônimo que se tornaria seu nome oficial (ele nasceu Ricardo Eliécer Neftali Reyes Basoalto) a partir da admiração ao poeta tcheco Jan Neruda.
Por seu registro contido, sem ousadias formais, com interpretações um tanto solenes, o filme se assemelha, às vezes, a uma produção para televisão, em que o caráter informativo termina predominando.
Não deixa de ser útil àqueles que se interessam pela história do poeta, que relembrou a fuga deste filme, concluída por uma perigosa travessia dos Andes a cavalo, rumo à Argentina, no seu discurso de aceitação do prêmio Nobel, em 1971.
Clique aqui, assista ao trailer e saiba onde o filme está em cartaz na Agenda Cultural!
Reuters

Nenhum comentário:

Postar um comentário