Padre Geovane
Saraiva*
Não tenho dúvida de que a missão do Santo Padre, o
Papa Francisco, é de ensinar a reavivar o dom da fé e reacender a esperança,
proclamando em alta voz aos empobrecidos, dizendo-lhes que são chamados a
sonhar com um projeto restaurador de vida, estendido a casa comum, o planeta,
fundamentado na Boa Nova de Nosso Senhor Jesus Cristo. Os empobrecidos, embora
frágeis, contam com a proposta do Augusto Pontífice, um aliado de peso
incomparável, pelo seu terno convite de pai, a resistirem com coragem e firmeza
aos sofrimentos e perseguições. Daí a atenção de todos para as palavras do
Santo Padre: “Acho que Francisco é o exemplo por excelência do cuidado pelo que
é frágil e por uma ecologia integral, vivida com alegria e autenticidade. É o
santo padroeiro de todos os que estudam e trabalham no campo da ecologia, amado
também por muitos que não são cristãos” (cf. Laudato Si, 10).
O Papa Francisco, no seu dadivoso presente oferecido à
humanidade, a Carta Encíclica sobre o cuidado da casa comum, eleva súplicas ao
bom Deus, tão fervorosas quanto proféticas: “Ó Deus dos pobres, ajudai-nos a
resgatar os abandonados e esquecidos desta terra que valem tanto aos vossos
olhos. Curai a nossa vida, para que protejamos o mundo e não o depredemos, para
que semeemos beleza e não poluição nem destruição. Tocai os corações daqueles
que buscam apenas benefícios à custa dos pobres e da terra. Ensinai-nos a
descobrir o valor de cada coisa, a contemplar com encanto, a reconhecer que
estamos profundamente unidos com todas as criaturas no nosso caminho para a
vossa luz infinita. Obrigado porque estais conosco todos os dias.
Sustentai-nos, por favor, na nossa luta pela justiça, o amor e a paz”.
Sentir compaixão diante da dor de uma multidão de
irmãos, a qual clama por dignidade, solidariedade e misericórdia, é sinal
evidente da percepção da dor e da angústia humana, ao dizer não à indiferença,
no exemplo que vem do Filho de Deus, sensível às suas necessidades em todas as
circunstâncias, a ponto de tomar para si suas humilhações, ao ver aquela
multidão marcada pelo sofrimento (cf. Mc 6, 34). A propósito, a forte e bela
palavra compaixão, foi destaque na alocução do Santo Padre, precedida da Oração
do Angelus, na Praça São Pedro, agradecendo ao bom Deus pela viagem ao Equador,
Bolívia e Paraguai, ao mesmo tempo em que falou das “grandes potencialidades
humanas e espirituais” do continente latino-americano, dando grande importância
as palavras cheias de encanto do Bom Pastor - ver, ter compaixão e ensinar -
presentes no Evangelho de Marcos proposto pela liturgia do domingo
(19/07/2015). “O continente guarda valores cristãos profundamente radicados,
mas vive também graves problemas sociais e econômicos. Para contribuir para a
sua solução, a Igreja está comprometida em mobilizar as forças espirituais e
morais de suas comunidades, colaborando com todos os componentes da sociedade”.
O Papa Francisco já na sua profética Encíclica
Evangelii Gaudium, de importância incomensurável, apontou com sabedoria o maior
de todos os desafios da humanidade, visível e concreto, na ideologia ou ídolo
do dinheiro: “Uma das causas desta situação está na relação estabelecida com o
dinheiro, porque aceitamos pacificamente o seu domínio sobre nós e sobre as
nossas sociedades” (cf. EG, 55). Situação esta a causar prejuízo sem
precedentes à criatura humana, imagem e semelhança de Deus e na própria
natureza, sempre mais desfiguradas e aqui se fazem oportunas as palavras do
Santo Padre, a respeito do Pobrezinho de Assis: “Manifestou uma atenção
particular pela criação de Deus e pelos mais pobres e abandonados. Amava e era
amado pela sua alegria, a sua dedicação generosa, o seu coração universal. Era
um místico e um peregrino que vivia com simplicidade e numa maravilhosa
harmonia com Deus, com os outros, com a natureza e consigo mesmo. Nele se nota
até que ponto são inseparáveis a preocupação pela natureza, a justiça para com
os pobres, o empenhamento na sociedade e a paz interior” (cf. Laudato Si, 10).
Estou seguramente convicto que é Deus mesmo que nos
convoca a ler este documento, Laudato Si, mas dentro de um espírito de profunda
e estreita sintonia com o projeto de Deus Pai, que se manifestou ao mundo em
seu Filho e, hoje, revela-se aos homens de boa vontade, no Papa Francisco, pelo
peso da força e importância mística, beleza ética e espiritual do documento
Laudato Si, totalmente voltado para Francisco de Assis: “O seu testemunho
mostra-nos também que uma ecologia integral requer abertura para categorias que
transcendem a linguagem das ciências exatas ou da biologia, e nos põem em
contato com a essência do ser humano. A sua reação ultrapassava de longe uma
mera avaliação intelectual ou um cálculo econômico, porque, para ele, qualquer
criatura era uma irmã, unida a ele por laços de carinho. Por isso, sentia-se
chamado a cuidar de tudo o que existe. São Boaventura, seu discípulo, contava
que ele, enchendo-se da maior ternura ao considerar a origem comum de todas as
coisas, dava a todas as criaturas – por mais desprezíveis que parecessem – o
doce nome de irmãos e irmãs” (cf. Laudato si, 11). Amém!
*Escritor,
blogueiro, colunista, vice-presidente da Previdência Sacerdotal e Pároco de
Santo Afonso, Parquelândia, Fortaleza-CE – geovanesaraiva@gmail.com
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