sexta-feira, 28 de agosto de 2015

A verdade é uma traição no império da mentira

A política brasileira sempre foi pródiga em passadas de perna, falsas promessas, mentiras.

Por Marco Lacerda*
“Exigimos que sejam legalmente perseguidos todos aqueles que propagam e disseminam mentiras políticas através da imprensa”. Esta declaração indignada foi extraída de um manifesto do partido nazista, comandado por um homem, Adolf Hitler, fiel à máxima de que “as grandes massas cairão mais facilmente numa grande mentira do que numa mentirinha”.
De todas as passagens na história do homem, a que mais se destaca foi o estrago que o governo alemão fez com o uso constante de mentiras. O ministro de comunicação do partido nazista, Joseph Goebbels - uma inteligência demoníaca – chegou a cunhar um lema lendário: “Uma mentira contada muitas vezes se torna uma verdade”.
A política brasileira sempre foi pródiga em meias verdades, passadas de perna, falsas promessas. E também em trapaças, fraudes, falácias – algo que os eleitores aprenderam a entender simplesmente como mentiras. Lorotas são proferidas desde a fundação da República, quando o marechal Deodoro da Fonseca pontificou em 1889: “República no Brasil é coisa impossível”. Mais de um século depois, em 1964, seria imitado por outro militar, o general Costa e Silva, ao dizer que “no Brasil não há lugar para ditaduras”.
Poucas vezes na história do Brasil ouviu-se tanta mentira como nas eleições presidenciais de 2014, vindas de todos os lados, ditas solenemente por políticos de todas as vertentes. E continuamos mentindo até que o país seja tragado por um pântano de lama, ao som de uma gargalhada geral de escárnio. A mentira é um ingrediente adotado pela maioria dos políticos brasileiros e, com raras exceções, já se incorporou na definição que o povo faz dos representantes que ele mesmo elege. Um político mentiroso quase sempre é um vencedor, pois a mentira bem elaborada, maquiada de verdade e com promessas impossíveis, deixa o candidato com cara de super-herói.
A origem da mentira está na imagem idealizada que temos de nós mesmos e que desejamos impor aos outros. “Nossos políticos sabem que as mentiras na atividade que escolheram têm pernas longas, diferentemente do que acontece em outras partes do mundo, onde um político seria punido pelo eleitorado não porque praticou algo desonesto como, por exemplo, ter uma amante paga por fornecedores do governo, mas se mentisse, negando ter a tal amante”, escreve Cléber Centini no jornal Em Dia.
Nos anos 60 John Profumo, secretário de Estado inglês, teve um affair com Christine Keeler, aspirante a modelo de 19 anos. Numa declaração no Parlamento britânico Profumo negou qualquer envolvimento no caso, mas foi forçado a admitir a verdade algumas semanas mais tarde. Dançou.
O caso Watergate foi o escândalo político ocorrido na década de 1970 nos Estados Unidos que, ao vir à tona, culminou com a renúncia do presidente Richard Nixon, eleito pelo Partido Republicano. Watergate de certo modo tornou-se um caso paradigmático de corrupção. Nixon teve que renunciar porque mentiu, tentou obstruir o trabalho de investigação e negou sua responsabilidade na invasão da sede do Partido Democrata no edifício Watergate, em Washington. Outro americano que se deu mal com a mentira foi Bill Clinton, ao negar as relações eróticas que mantinha com Monica Lewinsky na Casa Branca. Não demorou para voltar atrás e admitir a verdade. Cartão vermelho para ambos.
Políticos, em geral, não falam para dizer alguma coisa, mas para obter um certo efeito. A mentira é a afirmação de algo que se sabe ou suspeita ser falso, não contar a verdade ou negar o conhecimento sobre alguma coisa que é verdadeira. A mentira é o ato de enganar, iludir, ludibriar. Assim como uma gota de veneno compromete um balde inteiro, também a mentira, por menor que seja, pode estragar toda uma vida.
O termo "mentira" é utilizado em oposição à verdade, é o antônimo da verdade. A pessoa acostumada a mentir é chamada de mentirosa, um adjetivo com conotação pejorativa. A mentira política se instalou no Brasil quase constitucionalmente e o dano moral tem sido incalculável. Aprendemos  desde cedo a mover-nos na mentira com naturalidade.
Contar uma mentira consiste em falar algo que não é verdade para alguém, com o intuito de que essa pessoa acredite. Mentir é sinônimo de enganar, além de ser uma das ações praticadas por quem possui intenções maliciosas em relação a outra. Por isso a mentira é considerada um ato imoral. Quem não conhece a verdade é um tolo, mas quem a conhece e a chama de mentira é um criminoso.
Quem conta uma mentira raramente nota o fardo que assume, pois para sustentá-la tem que inventar outras tantas. A mentira em excesso ou de forma compulsiva, no entanto, pode ser sinal de um transtorno psicológico chamado mitomania. Nenhum mentiroso tem uma memória suficientemente boa para ser um mentiroso de sucesso.
No âmbito religioso, a mentira é considerada um pecado relacionado com o que é mau, maligno, indigno. Na doutrina cristã, por exemplo, a mentira é representada pela figura do diabo, considerado o pai das mentiras. “Mentir é a maldade absoluta. Não é possível mentir pouco ou muito. Quem mente, mente. A mentira é a própria face do demônio”, escreveu Victor Hugo.
Alguém disse que o Estado é o mais frio de todos os monstros, por mentir friamente. De sua boca sai esta mentira: "Eu, o Estado, sou o povo”. Aí reside a essência da propaganda praticada pelo nazista Joseph Goebbels: ganhar as pessoas para uma ideia de forma tão sincera, com tal veemência, que, no final, elas sucumbam a essa ideia completamente, de modo a nunca mais escaparem dela. “Transfira para os adversários seus próprios erros e defeitos, respondendo aos ataques com ataques maiores. Se você não pode negar as más notícias, invente outras que mudem o foco das atenções”, dizia o mestre nazista da comunicação.
A mentira é um virus instalado na consciência humana, resistente a qualquer investida da verdade regeneradora. Ela sempre esteve presente nos meios de comunicação, mas isto ficou mais claro com o advento das redes sociais que aos poucos vão se tornando antros de mentira e insolvência moral.
Assim, pouco a pouco, a História foi se transformado num conjunto de mentiras sobre as quais nunca se chegou a um acordo, como dizia Napoleão Bonaparte. A mentira está presente na vida de todo ser humano no convívio social. Mentimos nas ruas, nos lares, nos bares, na cama.O mentiroso, porém, devia ter em mente que, para ser acreditado, precisa apenas dizer as mentiras necessárias. Como todo mentiroso, confesso que fico magoado quando mentem pra mim. O que mais dói, no entanto, é não poder voltar a confiar em quem mente. Acredita?
*Marco Lacerda é jornalista, escritor e Editor Especial do DomTotal.

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