O caminho que leva à vida requer vontade, capacidade de renúncia e doação de si.
Por Dom José Alberto Moura*
Achar o caminho do tesouro escondido é um desfio para todo ser humano. Pegar o rumo errado leva à decepção, apesar dos atrativos que podem surgir no percurso. Estes podem ser deliciosos, mas fugazes e nos desviam do objetivo da caminhada. Por isso, é preciso conhecer bem o itinerário de nossa trilha existencial, para não fazermos dos meios estimulantes o objetivo da existência. Muitos o fazem e ficam na ilusão de terem conquistado o ideal buscado na vida. Os ídolos do prestígio, da manifestação de poder e de ser superior aos outros, do acúmulo de bens materiais e do bem estar buscados nos prazeres de modo lícito e ilícito são fortes. Mas tudo na vida é fugaz. A última palavra para a realização humana não está nos ídolos. Precisamos ver e assumir a vida com o ideal mais elevado. Sem a realização do projeto de Deus não conseguimos alcançar o grande tesouro da vida plenamente realizada, já na terra e na eternidade.
Diante dos problemas e das barreiras e até incompreensões e oposições humanas, podemos ter a tentação de desânimo. Foi o que o profeta Elias sentiu. Até pediu a Deus para morrer. É evidente que não queremos morrer e sim resolver os problemas para viver mais tranquilamente. Por isso mesmo Deus mandou um anjo dizer a Elias para comer e continuar sua missão (Cf. 1 Reis 19,4-8). De fato, ele o fez de modo maravilhoso. Realizou muitos prodígios para o povo perceber e seguir o verdadeiro Deus e não os ídolos, que não são capazes de dar vida realizadora ao ser humano. Em verdade, a glória deste mundo de ídolos é efêmera. Não adianta construir e viver em mansões, ter um verdadeiro império financeiro, ser reconhecido como pessoa importante, ter grande grau de sabedoria humana; se tudo não for conquistado com honestidade e para servir a coletividade, rui por terra. É só vir uma doença ou a morte e a vanglória é carcomida.
O caminho que leva à vida é mais estreito e exigente. Requer treinamento da vontade, capacidade de renúncia e doação de si, altruísmo, solidariedade para com os que são deixados de lado e compromisso com o bem comum. Paulo lembra que é necessário superar “toda amargura, irritação, cólera, gritaria, injúrias” (Efésios 4,31). Ele nos convida a sermos imitadores de Deus, vivendo no amor, com oblação e sacrifício.
É bom lembrar que não temos condição de achar o tesouro da realização na vida sozinhos. Com união e solidariedade somos estimulados e temos força necessária para superarmos os obstáculos. Tantas pedras, buracos, altos e baixos, barreiras a cada passo e até inimigos e oposição encontramos. Mesmo nossos limites e fraquezas pessoais nos dificultam. Por isso, caminhando unidos somos capazes de carregar o fardo existencial e atingiremos mais facilmente o objetivo de nosso esforço. Tomamos o cuidado para não cairmos na tentação dos instintos, que nos impelem para o que é mais cômodo e podemos entrar num beco sem saída. A subida para atingirmos o ideal da caminhada pode nos cansar, mas o atrativo do tesouro nos dá ânimo. A altivez de caráter é o grande instrumento para mostrarmos nossa idoneidade moral e passarmos pelo pedágio da cobrança social. Alimentados pela força do amor de Deus somos capazes de tolerar as incompreensões e mostrarmos o valor de nossa missão!
CNBB 03-08-2015.
*Dom José Alberto Moura é arcebispo de Montes Claros (MG).
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