Pois escrevo a coluna desta semana muito mais apreensivo do que gostaria de admitir.
Por Max Velati*
Uma das regalias de se ter uma coluna semanal é poder vez ou outra chorar em grande escala, sair do pequeno escritório e desabafar com uma audiência de desconhecidos, pulverizar publicamente dor e inquietação pessoais. Nestas ocasiões o colunista deixa de ser um arauto profissional, um trombeteiro com salário e se torna simplesmente um escrevinhador humano.
Pois escrevo a coluna desta semana muito mais apreensivo do que gostaria de admitir. O que me deixa mais angustiado do que de costume é que a soma das crises política e econômica tem resultados e consequências imprevisíveis.
Ninguém sabe a esta altura o que pode acontecer com o país. A ideia de que estávamos assistindo apenas a uma versão 2.0 do choque de ideologias políticas, o confronto de blocos partidários com interesses publicamente opostos e privadamente iguais, caiu por terra com a prisão de José Dirceu. Não tanto pela prisão, já esperada por ele, pelos procuradores, pelos advogados e pela mídia. O fato novo nesta nova prisão é o silêncio do Partido dos Trabalhadores. Não se trata mais de ideologia política. Cruzamos esta fronteira quando se rompeu o limite de propinas restrita a empresários e fantoches do partido ocupando poltronas nas estatais. Mesmo com o esgarçamento da Petrobras ainda era possível sonhar com um câncer menos agressivo, restrito a órgãos importantes, mas não vitais.
O silêncio do PT sobre o encarceramento de uma de suas maiores estrelas é a prova de que chegamos historicamente ao ponto em que é preciso reconhecer que não é possível mais defender o indefensável. O PT faliu historicamente, administrativamente e agora comprovamos que faliu também nas suas convicções mais básicas, até mesmo no seu discutível senso de “cumpanheirismo”. Também já não surtem efeitos as respostas colhidas de um velho arsenal, os bordões de “mídia golpista” ou o argumento preferido: a conspiração maligna das elites. Com a divulgação das fortunas desviadas, com os bilhetes sorrateiros, as delações, os extratos e contas secretas, e por fim as cadeias cheias de condenados ilustres, está mais do que provado que “nunca antes na história deste país” houve uma elite tão elite quanto os atuais membros do Partido dos Trabalhadores.
Antes que pensem que pelas minhas críticas ao PT sonho com a volta do PSDB (vício de raciocínio de dez em cada dez petistas), aviso – como sempre avisei – que considero o tucanato como useiro e vezeiro – para usar uma expressão de minha avó – de todas as artimanhas condenáveis que hoje sujam o PT e mancham a nossa classe política. E eis justamente a razão da minha inquietação.
Estamos prestes a nos lançar como nação em um vácuo político e um abismo econômico. Olhando ao redor, vigiando o horizonte em busca de uma solução, não há uma só liderança, uma única alternativa que se apresente como confiável. As instituições estão podres e o que tem se apresentado como novo é apenas o velho, repaginado por um marqueteiro que preferiu ter dinheiro a ter escrúpulos. Não se iludam: tudo ao redor é só a velha política apodrecida que tingiu o cabelo, aprendeu algumas palavras da moda e só por isso se julga pronta para conquistar a sua confiança.
Escrevo neste momento esperando o noticiário. Verei os novos desdobramentos da Operação Lava Jato, ouvirei as desculpas esfarrapadas apresentadas pelos advogados dos acusados, a declaração já ridícula do presidente do PT alegando que tudo sempre foi feito dentro da lei. Depois dos comerciais verei três ou quatro tragédias ocorridas nas esquinas do Brasil, dramas sociais e econômicos que roubam o sono de quem insiste em cultivar a virtude da compaixão. Verei em resolução HD a falência da saúde e da segurança e o sorriso profissional do âncora me desejando boa noite depois de tudo isso.
O meu leitor – se ainda estiver aí – fica avisado que vou fazer o possível para não falar mais aqui de política. Não sei se tenho mesmo o talento para isso e certamente não tenho mais estômago.
Uma das regalias de se ter uma coluna semanal é poder vez ou outra chorar em grande escala, sair do pequeno escritório e desabafar com uma audiência de desconhecidos, pulverizar publicamente dor e inquietação pessoais. Nestas ocasiões o colunista deixa de ser um arauto profissional, um trombeteiro com salário e se torna simplesmente um escrevinhador humano.
Pois escrevo a coluna desta semana muito mais apreensivo do que gostaria de admitir. O que me deixa mais angustiado do que de costume é que a soma das crises política e econômica tem resultados e consequências imprevisíveis.
Ninguém sabe a esta altura o que pode acontecer com o país. A ideia de que estávamos assistindo apenas a uma versão 2.0 do choque de ideologias políticas, o confronto de blocos partidários com interesses publicamente opostos e privadamente iguais, caiu por terra com a prisão de José Dirceu. Não tanto pela prisão, já esperada por ele, pelos procuradores, pelos advogados e pela mídia. O fato novo nesta nova prisão é o silêncio do Partido dos Trabalhadores. Não se trata mais de ideologia política. Cruzamos esta fronteira quando se rompeu o limite de propinas restrita a empresários e fantoches do partido ocupando poltronas nas estatais. Mesmo com o esgarçamento da Petrobras ainda era possível sonhar com um câncer menos agressivo, restrito a órgãos importantes, mas não vitais.
O silêncio do PT sobre o encarceramento de uma de suas maiores estrelas é a prova de que chegamos historicamente ao ponto em que é preciso reconhecer que não é possível mais defender o indefensável. O PT faliu historicamente, administrativamente e agora comprovamos que faliu também nas suas convicções mais básicas, até mesmo no seu discutível senso de “cumpanheirismo”. Também já não surtem efeitos as respostas colhidas de um velho arsenal, os bordões de “mídia golpista” ou o argumento preferido: a conspiração maligna das elites. Com a divulgação das fortunas desviadas, com os bilhetes sorrateiros, as delações, os extratos e contas secretas, e por fim as cadeias cheias de condenados ilustres, está mais do que provado que “nunca antes na história deste país” houve uma elite tão elite quanto os atuais membros do Partido dos Trabalhadores.
Antes que pensem que pelas minhas críticas ao PT sonho com a volta do PSDB (vício de raciocínio de dez em cada dez petistas), aviso – como sempre avisei – que considero o tucanato como useiro e vezeiro – para usar uma expressão de minha avó – de todas as artimanhas condenáveis que hoje sujam o PT e mancham a nossa classe política. E eis justamente a razão da minha inquietação.
Estamos prestes a nos lançar como nação em um vácuo político e um abismo econômico. Olhando ao redor, vigiando o horizonte em busca de uma solução, não há uma só liderança, uma única alternativa que se apresente como confiável. As instituições estão podres e o que tem se apresentado como novo é apenas o velho, repaginado por um marqueteiro que preferiu ter dinheiro a ter escrúpulos. Não se iludam: tudo ao redor é só a velha política apodrecida que tingiu o cabelo, aprendeu algumas palavras da moda e só por isso se julga pronta para conquistar a sua confiança.
Escrevo neste momento esperando o noticiário. Verei os novos desdobramentos da Operação Lava Jato, ouvirei as desculpas esfarrapadas apresentadas pelos advogados dos acusados, a declaração já ridícula do presidente do PT alegando que tudo sempre foi feito dentro da lei. Depois dos comerciais verei três ou quatro tragédias ocorridas nas esquinas do Brasil, dramas sociais e econômicos que roubam o sono de quem insiste em cultivar a virtude da compaixão. Verei em resolução HD a falência da saúde e da segurança e o sorriso profissional do âncora me desejando boa noite depois de tudo isso.
O meu leitor – se ainda estiver aí – fica avisado que vou fazer o possível para não falar mais aqui de política. Não sei se tenho mesmo o talento para isso e certamente não tenho mais estômago.
*Max Velati trabalhou muitos anos em Publicidade, Jornalismo e publicou sob pseudônimos uma dezena de livros sobre Filosofia e História para o público juvenil. Atualmente, além da literatura, é professor de esgrima e chargista de Economia da Folha de São Paulo.
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