quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Dom Helder, um articulador no Concílio


Rádio Vaticana

Cidade do Vaticano (RV) - No nosso Espaço Memória História - 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos continuar a tratar, no programa de hoje, da participação de Dom Helder Câmara no Concílio Vaticano II.
Dom Helder participou do Concílio, não como um bispo isolado, mas como Secretário Geral, há exatos dez anos (1952-1962) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a terceira mais numerosa do mundo após a italiana e a estadunidense. Sua participação realizava-se também no contexto do único continente que contava com um organismo de articulação, a América Latina, onde, desde 1955 havia o CELAM, do qual Dom Helder era um dos dois vice-presidentes, junto com Dom Manuel Larraín, do Chile, que no ano seguinte será eleito presidente da entidade. Dom Helder tinha muito claro de que a CNBB e o CELAM eram suas "plataformas" de ação e articulação no Concílio.
O seu conhecimento em francês, adquirido durante a formação no Seminário da Prainha, em Fortaleza, junto aos Padres Lazaristas franceses, além do conhecimento do latim e um inglês básico, facilitaram os contatos com os outros padres conciliares e também com a imprensa.
Graças à cooperação nascida com o Cardeal Arcebispo de Malinnes-Bruxelas, Leo Joseph Suenens, e com o Secretário do Episcopado francês, Roger Etchegaray, permitiram a Dom Helder fazer parte de um seleto grupo daqueles que podiam exercer alguma influência sobre a grande e heterogênea massa de padres conciliares. O Cardeal Suenens era membro da Comissão de Assuntos Extraordinários na primeira sessão conciliar, da Comissão de Coordenação criada ao final da primeira sessão, um dos quatro moderadores que passaram a presidir as Congregações Gerais, a partir do início da segunda sessão e um dos mais influentes  padres conciliares.
Apenas para recordar, pois já tratamos deste tema em programas precedentes, Dom Helder Câmara participou ativamente de alguns grupos formados ao longo do Concílio, fato que fez com que ampliasse seu raio de ação e de influência. Entre estes, destaca-se o Ecumênico, como Dom Helder costumava chamar, mas também conhecido como "Grupo da Domus Mariae" ou "Grupo da Terça-feira", "Interconferência" ou "Grupo dos 22"; a Igreja dos Pobres, outro grupo que ajudou a criar e ao qual foi fiel até o fim e o Opus Angeli, ou Obra dos Anjos, que trabalhou durante as sessões, assim como nas inter-sessões, no sentido de oferecer textos alternativos aos esquemas provindos da estapa preparatória do Concílio, de preparar intervenções para serem lidas na aula conciliar, se assessorar os bispos nas questões mais complexas, de elaborar "modos" substitutivos para determinadas passagens dos esquemas submetidos à votação.
Um feito marcante de Dom Helder no Concílio, foi ter conseguido que os melhores teólogos e peritos ali presentes passassem a trabalhar em conjunto e em estreita colaboração com os bispos reunidos no "Ecumênico" e na "Igreja dos Pobres". Este mesmo grupo de teólogo prestou inestimáveis serviços aos bispos do Brasil, por meio das Conferências da Domus Mariae. O Padre Yves de Congar, que colaborou estreitamente com Dom Helder e com grupos por ele animados, percebeu logo no primeiro encontro a importância de Dom Helder e de sua liderança, que levava ao Concílio uma colaboração dotada de uma "visão". Era alguém com uma visão mais ampla e que via mais longe. Sobre ele, Padre Congar escreveu em seu diário em 21 de outubro de 1962:
“Em seguida, vem Helder. É extraordinário: hoje, ao meio-dia, eles falaram de mim e me disseram que era necessário eu vir. Depois de conversar um pouco, nós fomos até uma sala onde nos encontramos com uns doze jovens bispos. Eles me questionaram.
Dom Helder também. Um homem não somente muito aberto, mas cheio de ideias, de imaginação e de entusiasmo. Isto que falta em Roma: a "visão""
Dom Helder, dias mais tarde, escreve em uma circular enviada a seus colaboradores, sobre um dos maiores teólogos da época: "O Padre Congar, cuja visão de Igreja, cujo ecumenismo, cuja caridade e cuja cultura extraordinária, brilham ainda mais pela humanidade que ele encarna".
 Fonte: Dom Helder Câmara e o Concílio Vaticano II. Pe. José Oscar Beozzo

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