terça-feira, 25 de agosto de 2015

Dom Sánchez Sorondo sobre a "Laudato si"

Cidade do Vaticano, 25 ago (Rádio Vaticano) - Uma encíclica “ecológica”? O Papa não gosta dessa leitura da ‘Laudato si’ e em toda oportunidade que tem o diz: é o que afirma o presidente da Pontifícia Academia das Ciências e da Pontifícia Academia das Ciências Sociais, Dom Marcelo Sánchez Sorondo, respondendo a Álvaro Valenzuela, que o entrevistou no diário chileno “El Mercurio” deste domingo, 23 de agosto, cuja entrevista é reproduzida pelo jornal vaticano “L’Osservatore Romano”.
A intenção do Pontífice é, sobretudo, “falar de temas sociais, de justiça” e, evidentemente, a questão do clima “ repercute sobre os povos mais pobres e diz respeito a um tema de justiça”, explica o bispo argentino.
No Chile para participar de um encontro organizado pela Pontifícia Universidade Católica de Santiago, o prelado recorda na entrevista que “ambiente significa habitat do homem”; mas Francisco “fala do ambiente porque é parte da criação de Deus”.
Assim, “volta ao espírito de São Francisco, que vê na natureza a beleza da redenção, onde tudo fala de Cristo”. Nesse sentido, ressalta, “a encíclica é um documento profundamente religioso”.
Em seguida, referindo-se às instrumentalizações e às leituras de parte da “Laudato si”, o bispo afirma:
“O Papa quer que não se estabeleça um dualismo. Aquilo que quis dizer é que não nos interessa somente o tema do homem ou somente o tema da natureza: interessa-nos a integralidade. Decididamente, a natureza, a terra é a casa comum e, por isso, está em relação fundamental com o homem.”
Este último, portanto, não deve ser considerado o inimigo principal do ambiente – observa o prelado –, mas “o único ser que é imagem de Deus”, e daí, “a responsabilidade de colaborar na obra da criação”. Por isso “o Papa cita o tema da “mãe terra”, entendendo que sem ela não há vida”.
Quanto ao julgamento que Francisco faz do atual modelo econômico, Dom Sánchez Sorondo explica que se trata de “uma visão da doutrina social da Igreja”.
O Pontífice “não aceita a teoria liberal da recaída favorável e a deificação do mercado”, que “mostrou funcionar para alguns. Produz bens, mas falta a distribuição”.
Para o Papa, o sistema liberal “é fundamentalmente voltado para o lucro, para o ganho econômico”, mas “se esquece da pessoa humana e do bem comum”.
Trata-se de uma posição que suscitou algumas críticas, às quais o bispo responde com argumentações de insignes economistas membros da Pontifícia Academia das Ciências Sociais – como Joseph E. Stiglitz e Kenneth J. Arrow –, os quais “consideram que tenha razão: o mercado sozinho não produz uma distribuição”.
Portanto, um Pontífice de esquerda? “O Papa não é nem de esquerda nem de direita; ele segue o Evangelho”, responde, categórico, Dom Sánchez Sorondo.
SIR

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