sábado, 22 de agosto de 2015

Poesia em toda parte

Há poesia em toda parte. Chamo poesia toda palavra que me toca, reflete, desinstala ou transborda. Olho para uma pedra e, na sua dureza, aspereza, irregularidade, vejo algo da condição humana. Uma pedra não é só uma pedra. Nela cabe um mundo e por isso Drummond se incomodou tanto com a que estava em seu caminho.
Não é porque você não vê esses mundos que eles não estão lá. Estes não se abrem para quem os busca com razão dura. É a poesia quem deve lhe encontrar. Ela roça a retina, colore a língua e perfuma os ouvidos. Às vezes a gente tem que inverter os sentidos (ou interpolá-los, ou intercala-los, ou fundi-los, ou pareá-los) para acolher a poesia e saboreá-la, e sentir seu gosto na pele. Daí a gente olha para o mundo e vê que tudo é bom.
Se eu fosse traduzir a Bíblia, preferiria dizer que o Criador, diante de sua obra, viu que tudo era bonito. Ouvi dizer que a palavra usada no texto original do Gênesis, onde se diz “bom”, quer dizer, ao mesmo tempo, belo e bom. E se for assim, pecado é tudo o que tira a beleza da vida. Imagine, só: um céu de poetas! Acho que, desse jeito, inferno não seria um problema para as pessoas. Afinal, um dia você estaria a caminhar pela rua, olharia uma pedra e encontraria Deus. A arte nos aproxima do mistério da vida.
Por isso é que a gente precisa de arte para viver, para dar esperança e para deixar inquieto. Às vezes a realidade dura se impõe e é nessas hora que a realidade poética precisa crescer, para ajudar a ver que a vida é mais do que a adversidade que se passa e que é possível se mexer e mudar o cenário. Nessas horas a poesia precisa se espalhar como praga e contaminar o mundo.
Gosto da ideia de contaminação. Nizar Qabban,i com sua poesia, foi crítico da guerra e da realidade de seu povo. Sua poesia desinstala. Kalil Kalil, sensível a essa obra, fez um filme (Taif Nizar, de 2002) sobre Qabbani. Quem não dirá que o filme de Kalil tocou a outros tantos que o assistiram, espalhando a poesia? E assim a arte vai brotando de chão em chão, de peito em peito, em todos os continentes.
Mundo Árabe
Falo aqui de dois artistas de cultura árabe. Curioso não conhecermos quase nada da produção oriental. É por isto que a 10ª Mostra Mundo Árabe de Cinema é tão pertinente, ela nos mostra outras formas de produzir artisticamente e de olhar o mundo. Esta edição contempla filmes que tematizam a relação do cinema com outras manifestações artísticas, como a música, a literatura e o teatro. Além disso, a mostra apresenta um panorama social, cultural e político dos países árabes e Oriente Médio e conta, ainda, com a presença de importantes personalidades do cinema árabe contemporâneo.
A Mostra é realizada pelo Instituto da Cultura Árabe (ICArabe), em parceria com o Sesc-SP, o Sesc-ES, o Centro Cultural Banco do Brasil – São Paulo, o Centro Cultural Banco do Brasil – Belo Horizonte, o Centro Cultural São Paulo e a Câmara de Comércio Árabe-Brasileira.  A programação conta com mais de 30 filmes e diversas atividades abertas ao público, como debates com convidados nacionais e internacionais e encontros musicais em quatro cidades: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Vitória. Confira tudo o que vai acontecer em www.mundoarabe2015.icarabe.org.
Grade de programação de Belo Horizonte
Quinta-feira, dia 20/08/2015
19h30 – Indignação não tem muros + A casa das amoreiras (26 minutos + 64 minutos, respectivamente)

Sexta-feira, 21/08/2015
19h30 – Água prateada, um autorretrato da Síria

Sábado, dia 22/08/2015
17h30 – Sotto Voce
19h30 – O Sonho de Sherazade

Domingo, dia 23/08/2015
17h30 – A Revolução do Ano
19h30 – São eles os cães

Segunda-feira, dia 24/08/2015
19h30 – Maqams, melodias de Alepo

Quarta-feira, dia 26/08/2015
19h30 – A Ira da Tartaruga

Quinta-feira, dia 27/08/2015
19h30 – Paraíso dos anjos caídos (80 minutos)

Sexta-feira, dia 28/08/2015
19h – Marte ao amanhecer + Bate-papo com Nirah Shirazizpour (produtora de “Marte ao Amanhecer”)

Sábado, dia 29/08/2015
17h – Festival Pan-Africano da Argel
19h – Encontro Musical Latino Árabe (Convidados: Cláudio Kairouz, Raouf Jemni e Junior Pita). Abertura com exibição de “Sotto Voce”, antecedida de coquetel e apresentação musical latino-árabe com Cláudio Qairouz (qanoun), o tunisiano Raouf Jemni (qanoun) e Júnior Pita (violão de sete cordas), com repertório montado originalmente para a Mostra Mundo Árabe de Cinema.
Domingo, dia 30/08/2015
17h30 – Cairo Drive
19h30 – Yema
Serviço:
10ª Mostra Mundo Árabe de Cinema
Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte
De 20 a 30/08/2015
Endereço: Praça da Liberdade, 450 | Funcionários
CEP: 30140-010
Informações: (31) 3431-9400
Teatro II
Ingressos: R$ 4,00 inteira e R$ 2,00 meia-entrada
Vendas: bilheteria ou pelo site ingressorapido.com.br
Programação completa no site bb.com.br/cultura
Realizadores: Instituto da Cultura Árabe, CineSesc, Sesc-ES, Centro Cultural Banco do Brasil-SP, Centro Cultural Banco do Brasil-BH e Prefeitura da Cidade de São Paulo
Correalização: Biblioteca Mário de Andrade e Centro Cultural São Paulo
Copatrocínio: Câmara de Comércio Árabe-Brasileira
Apoio Cultural: Cinemateca da Embaixada da França e MC Distribution
Apoio: Saj, Folha de Uva e Arabia
Apoio Institucional: MAD Solutions
www.icarabe.org

Gilmar P. da Silva SJMestrado em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, com pesquisa em Signo e Significação nas Mídias, Cultura e Ambientes Midiáticos. Graduação em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE). Possui Graduação em Filosofia (Bacharelado e Licenciatura) pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora. Experiência na área de Filosofia, com ênfase na filosofia kierkegaardiana. 

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