A divindade do Senhor Jesus nunca o exime de sua humanidade na carne.
Por Pe. Evaldo César Souza, C.Ss.R
Monte Tabor. Uma pequena elevação de terra em Israel, se comparado as mais altas montanhas do mundo. Mas para uma terra de geografia com poucos altos e baixos, o Tabor se projeta destacado no Vale de Jizreel com seus quase 600 metros de altitude. Seria mais uma montanha entre tantas com as quais convivemos no nosso dia-a-dia, não fora o episódio extraordinário que ali, em seu cume, aconteceu: o Tabor é chamado de Monte da Transfiguração.
Segundo os Evangelhos Sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas), Jesus convidou três de seus apóstolos, Pedro, Tiago e João, e com eles subiu ao Monte Tabor. Enquanto rezava, Jesus se transfigura, e se mostra glorioso, tendo diante dele Moisés e Elias (entendidos aqui com a Lei e os Profetas).
Essa manifestação de glória precede as dores da Paixão e de certa forma foi um bálsamo dado previamente para que os discípulos pudessem compreender com mais clareza o qual era o projeto de Jesus Cristo. Mas, como veremos, os discípulos ainda estavam despreparados para entender os planos de Deus nesse momento e somente depois da Ressurreição eles irão recordar tudo o que viveram no Tabor!
Há dois modos de compreender a Transfiguração de Jesus. Uma coisa é certa! Ele se mostrou de modo completamente diferente do cotidiano, era luminoso, claro, resplandecente. A questão que hoje a teologia tenta desvendar é se Jesus tornou-se resplandecente, ou se os apóstolos, livres de preconceitos, conseguiram ver o que ele realmente já era, o Divino escondido no Humano. De qualquer forma, ali, no Tabor, Deus testemunhou novamente que Jesus – homem/Deus era de fato o enviado para resgatar os homens da torpeza e nos garantir a Salvação. Assim como no dia de seu batismo, a voz de Deus atesta a divindade de Jesus: “Este é meu Filho amado, escutai-o”.
O episódio da Transfiguração tem, então, conotação altamente teológica nas narrativas evangélicas. Como fato, podemos afirmar que era corrente entre os cristãos esse evento, já que o atesta três evangelistas.
Como teologia, o fato transparece a certeza cristã de que em Jesus subsistia, desde sua concepção em Maria, o aspecto humano e a substância divina. Ao revelar-se aos discípulos, aos três de maior intimidade, Jesus quer garantir que a memória de sua glorificação seja testemunhada a todos os que o seguirão futuramente.
Há que notar, que essa relação homem-Deus em Jesus foi lida de maneira extraordinária pelo catolicismo popular. O dia da festa da Transfiguração é também a festa do Senhor Bom Jesus, imagem venerada pelo povo que retrata, em suas diferenças regionais, sempre o Senhor Jesus sofredor, flagelado, açoitado, coroado de espinhos, preso e torturado.
A divindade do Senhor Jesus nunca o exime de sua humanidade na carne. Transfigurado, ele segue sendo humano, revelando sua Glória, não permanece nela, mas desce a montanha ao encontro dos mais pobres. Transfigura-se para se humanizar ainda mais!
A12 11-08-2015.
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