quinta-feira, 24 de setembro de 2015

O que o Papa deixa em Cuba e busca nos EUA

O ‘missionário da misericórdia’ busca a criação de pontes de diálogo e de reconciliação.
Por José Manuel Vidal*
Em Cuba, esperavam um herói e um amigo, quase um pai da pátria. Nos EUA chega, ao menos no imaginário dos neocons, o Papa vilão, que põe em questão o capitalismo selvagem que contamina nossa casa comum até fazê-la irrespirável. Do calor tropical cubano à frieza anglo-saxônica.
Em Cuba, Francisco deixa um povo mais esperançado onde, por meio do diálogo, pode haver uma saída para o regime cubano e para quebrar, finalmente, o embargo. Além de alguns políticos sumamente agradecidos por seus bons e frutíferos ofícios mediadores.
Nos EUA, o Papa de Roma se encontrará com uma comunidade católica (majoritariamente composta por latino-americanos) fervorosa e que o idolatra. Mas também se defrontará com uma maioria protestante de diversas denominações, algumas das quais continuam vendo Roma como grande Babilônia e ao Papa quase como o Anticristo.
Isto quanto às massas, porque as elites não tem uma impressão melhor do Papa Francisco. Enquanto Obama lhe rende as homenagens, juntamente com muitos democratas, os republicanos (encabeçados pelo aspirante Donald Trump) e a frente neocon o mantém na mira. Não gostam dele e o dizem abertamente. Tanto que o picham como peronista-comunista.
Além disso, Francisco tem o ‘inimigo’ dentro. Na sua própria casa, a hierarquia católica dos EUA está, pelo menos, dividida a respeito de Bergoglio. A maioria dos bispos o suporta, mas sem entusiasmo, esperando que o seu pontificado passe rápido e acabe. Conta, entre eles, com um grupo minoritário de partidários fervorosos, mas também furibundos adversários, pilotadas pelo cardeal Raymond Burke, curial defenestrado e agora, capelão da Ordem de Malta. Há poucos dias a prestigiosa revista Newsweek se perguntava se o catolicismo do Papa e do arcebispo de San Francisco, D. Cordileone, é o mesmo.
O Papa deixa em Cuba um encontro icônico com Fidel Castro. Com o Fidel que, nos anos 1970, profetizara: “Cuba voltará a ter relações com os EUA, quando o presidente dos EUA for um negro e em Roma tenha um Papa argentino”. Um encontro carregado de simbolismo entre revolucionários. Um encontro que manifesta a saída de cena da revolução do comandante e a aparição em cena da revolução da misericórdia do Papa argentino, que alguns já denominam de Papa Che.
Nos EUA, Francisco se encontrará com outro líder global, com um Obama na sua fase de “pato manco” depois ter levantado um tsunami de esperanças e tê-las defraudado na sua passagem pela Casa Branca.
Francisco baseou a sua mensagem em Cuba no diálogo como instrumento para conseguir a paz samaritana e a reconciliação. O mesmo pregará do outro lado da ponte virtual que está traçando entre os EUA e a ilha. Para que termine o embargo e para que o colosso americano possa, enfim, entender-se com Cuba e caia, definitivamente e para sempre, o muro do Caribe.
A mesma viagem para o mesmo Papa em dois países tão distintos. Em Cuba bastou a força do coração. Nos EUA terá que usar toda a sua capacidade de sedução. No púlpito planetário por excelência dos grandes meios de comunicação norte-americanos, que esquadrinharão todos e cada um dos seus gestos e palavras. E com eventuais riscos de segurança. Mas Francisco-sem-medo se coloca nas mãos de Deus. E seus anjos o protegem.
*A reportagem de José Manuel Vidal, jornalista, foi publicada por Religión Digital.

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