Rádio Vaticana
No encontro com os bispos americanos, na Catedral de S. Mateus Apóstolo de Washington, o Papa enviou antes de tudo uma saudação à comunidade hebraica, “aos nossos irmãos hebreus” (disse) que hoje celebram a festa do Yom kipur, para que o Senhor os abençoe com a paz e os faça progredir na vida da santidade.
Em seguida o Papa saudou os bispos dos Estados Unidos, com as suas diversas proveniências que reflectem a diversidade do povo de Deus espalhados por todo o território. Nenhum membro do Corpo de Cristo e da nação americana, disse Francisco, se deve sentir excluído do abraço do Papa:
“Quando uma mão se estende para fazer o bem ou tornar próximo o amor de Cristo, para limpar uma lágrima ou fazer companhia a alguém na solidão, para indicar a estrada a um extraviado ou reanimar um coração já despedaçado, para se inclinar sobre uma pessoa caída ou ensinar um sedento da verdade, para oferecer o perdão ou guiar para um novo começo em Deus... sabei que o Papa vos acompanha e sustenta e, sobre a vossa mão, apoia também ele a sua já velha e enrugada mas, por graça de Deus, ainda capaz de sustentar e encorajar”.
O Papa em seguida dá graças a Deus pelo dinamismo evangélico e o crescimento da Igreja e da contribuição que essa leva à sociedade norte-americana e ao mundo, mencionando sobretudo o empenho da Igreja americana em favor da vida e da família, o empenho em relação aos imigrantes e a sua missão educativa e caritativa. Também exprimiu apreço pela coragem com que os bispos abordaram os momentos sombrios e as feridas dos últimos anos, coragem acompanhada pelo empenho de curar as vítimas dos abusos. E o Papa Francisco fez referência à sua própria experiência na Argentina que lhe permite compreender bem o esforço dos bispos americanos:
“Conheço bem o desafio de semear o Evangelho no coração de homens, originários de mundos diferentes, muitas vezes endurecidos pela estrada dura percorrida antes de se estabelecerem. Não me é estranha a história da fadiga de implantar a Igreja entre planícies, montanhas, cidades e subúrbios dum território frequentemente inóspito, onde as fronteiras sempre são provisórias, as respostas óbvias não duram e a chave de entrada requer a capacidade de saber combinar o esforço épico dos pioneiros exploradores com a prosaica sabedoria e resistência dos sedentários que supervisionam o espaço alcançado”.
A visita do Papa Francisco coloca-se na tradição das estreitas relações entre os papas e os Estados Unidos, e em particular de três dos seus predecessores. "Eu não vim para vos julgar ou dar lições - diz o Papa - prefiro antes voltar novamente àquele esforço - antigo mas sempre novo – de interrogar-se sobre os caminhos a seguir, os sentimentos a preservar enquanto se trabalha, o espírito com o qual agir". E neste sentido, o Papa sublinhou as dimensões que lhe parecem fundamentais para os Pastores da Igreja nos EUA. Antes de tudo uma identidade procurada no rezar com assiduidade, no pregar e no apascentar. Não uma oração qualquer, adverte Francisco, mas a união familiar com Cristo; não uma pregação de doutrinas complexas, mas o anúncio jubiloso de Cristo, morto e ressuscitado por nós, tendo em seguida exortado aos bispos:
“Velai para que o rebanho encontre sempre no coração do pastor aquela reserva de eternidade que, afanosamente mas em vão, procura nas coisas do mundo. Encontre sempre nos vossos lábios o apreço pela capacidade de fazer e construir, na liberdade e na justiça, a prosperidade de que é pródiga esta terra. Mas não falte a coragem serena de confessar que «é preciso trabalhar, não pelo alimento que desaparece, mas pelo alimento que perdura e dá a vida eterna».
O Papa Francisco convidou em seguida aos bispos americanos a evitar a auto-referencialidade e olhar sempre para os horizontes de Deus, que ultrapassam quanto nós podemos prever e planificar, a fugir a tentação do narcisismo, sublinhando que é útil, sim, a previsão do líder e a astúcia do administrador, mas antes de tudo é necessária a percepção da batalha entre a luz e as trevas que se combate neste mundo.
Francisco recordou ainda a angústia dos primeiros Apóstolos, fechados entre os seus muros, e invadidos pelo medo porque o pastor tinha sido morto, para encorajar os bispos dizendo que a nós foi dado um espírito de coragem, não de medo e que não nos é lícito deixar-nos paralisar pelo medo, antes pelo contrário deve-se semear muitas vezes num clima hostil, mas sem nos fecharmos no muro dos medos, chorando por um tempo que não volta atrás e preparando respostas duras às resistências que já são ásperas”. E falou da cultura do encontro e importância do diálogo, não por astuciosa estratégia mas por fidelidade a Cristo que não se cansa de passar e repassar entre os homens até à undécima hora para lhes propor o seu convite de amor:
“Por isso, o caminho a seguir é o diálogo entre vós, diálogo nos vossos presbitérios, diálogo com os leigos, diálogo com as famílias, diálogo com a sociedade. Não me cansarei jamais de vos encorajar a dialogar sem medo … “.
E acrescentou que a linguagem dura e belicosa da divisão não fica bem nos lábios do pastor, não tem direito de cidadania no seu coração e, embora de momento pareça garantir uma aparente hegemonia, só o fascínio duradouro da bondade e do amor é que permanece verdadeiramente convincente.
A missão episcopal – frisou ainda Francisco - é cimentar a unidade e a comunhão com todas as Igrejas particulares e com a igreja de Roma "que preside na caridade". O Ano Santo da Misericórdia seja para todos a ocasião privilegiada para reforçar a comunhão e a unidade, e para reconciliar as diferenças. E a este propósito o Papa sublinhou a importância do serviço da Igreja à unidade para a nação americana, cheia de recursos culturais, científicos, políticos, tecnológicos e humanos num mundo oprimido, e em busca de novos equilíbrios de paz, prosperidade e integração.
Outro aspecto sublinhado pelo Papa no seu discurso aos bispos é a responsabilidade da Igreja nos EUA em relação aos desafios do nosso tempo. No fundo de cada um deles está sempre a vida como dom e responsabilidade, e o futuro da liberdade e da dignidade da nossa sociedade depende da forma como soubermos responder a tais desafios:
“A vítima inocente do aborto, as crianças que morrem de fome ou debaixo das bombas, os imigrantes que acabam afogados em busca dum amanhã, as pessoas idosas ou os doentes que olhamos sem interesse, as vítimas do terrorismo, das guerras, da violência e do narcotráfico, o meio ambiente devastado por uma relação predatória do homem com a natureza… em tudo isto está sempre em jogo o dom de Deus, do qual somos administradores nobres mas não patrões. Por conseguinte, não é lícito iludir ou silenciar”.
Não menos importante, continuou o Papa, é o anúncio do Evangelho da família, fazendo referência ao próximo Encontro Mundial das Famílias, em Filadélfia, reiterando que Igreja deve responder a este dever, apesar da hostilidade do clima cultural contemporâneo.
E por último, duas recomendações: a primeira, sobre a "paternidade episcopal": para a qual Francisco exortou os bispos a serem próximos da gente, próximos e servidores, sobretudo próximos para com sacerdotes, para que continuem a servir a Cristo com um coração indiviso, sensíveis às fontes espirituais para que não caiam na tentação de se tornarem notários e burocratas, mas sejam expressão da maternidade da Igreja que gera e faz crescer os seus filhos. Quanto à segunda recomendação, sobre os imigrantes, o Papa frisou empenho da Igreja americana neste campo:
“A Igreja dos Estados Unidos conhece, como poucas, as esperanças dos corações dos peregrinos. Desde sempre aprendestes a sua língua, sustentastes a sua causa, integrastes as suas contribuições, defendestes os seus direitos, favorecestes a sua busca da prosperidade, conservastes acesa a chama da sua fé. Mesmo agora nenhuma instituição americana faz mais pelos imigrantes do que as vossas comunidades cristãs”.
E agora, em presença desta “longa vaga de imigração latina que investe muitas das dioceses dos EUA, como Bispo de Roma, mas também como pastor vindo do Sul, sinto a necessidade de vos agradecer e encorajar, acolhei-os sem medo pois possuem recursos para partilhar, e oferecei-lhes o calor do amor de Cristo” – concluiu Francisco. (BS)
(from Vatican Radio)
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