sábado, 10 de outubro de 2015

Brasil não está preparado para pacientes

Alzheimer terá seu número de casos dobrado a cada 20 anos.

De acordo com a Alzheimer Association (ADI), a cada quatro segundos uma pessoa é diagnosticada com algum tipo de demência. Alzheimer, o mais frequente, terá seu número de casos dobrado a cada 20 anos, atingindo mais de 65,7 milhões até 2030 – conforme divulgado por pesquisa do órgão, em 2012. Atualmente, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), há 35,5 milhões de indivíduos com manifestações.
No mesmo ano da publicação, a OMS e a ADI, em documento intitulado ‘Dementia: A Public Health Priority’ (‘Demência: Uma Prioridade da Saúde Pública’), convocaram governos e os responsáveis por desenvolver políticas públicas a creditar o Alzheimer como prioridade mundial. No relatório são citados os principais estudos nessa área, destacando práticas na luta contra a doença e estatísticas de diversos países. Assim, foi explicado que, independentemente da situação socioeconômica, todos são vulneráveis.
Atendendo à demanda das entidades internacionais, também em 2012, o Ministério da Saúde assinou a Portaria 703, instituindo ao Sistema Único de Saúde (SUS) o Programa de Assistência aos Portadores da Doença Alzheimer. O objetivo, por meio de Centros de Referência em Assistência à Saúde do Idoso, é garantir atendimento hospitalar e diagnóstico; visita domiciliar de profissionais da saúde; tratamento acompanhado por equipe multidisciplinar; orientação e treinamento de familiares; e medicação gratuita.
Todavia, o Coordenador do Departamento Científico de Neurologia Cognitiva da Academia Brasileira de Neurologia, Norberto Anízio Ferreira Frota, alega que não é isso o que acontece: “o programa, hoje, está muito focado em fornecer remédios (rivastigmina, donepezil e galantamina), deixando de lado os outros suportes, principalmente o multidisciplinar e a atenção aos familiares, cuja função primordial é diminuir o estresse do paciente e do cuidador”.
Esse tipo de atenção direcionada é encontrado, ainda de acordo com o médico, na Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz). “Autonomamente, com psicólogos e terapeutas, promove encontro entre os familiares dos doentes para trocarem experiências. Este é um meio efetivo de construir uma base de dados sobre as manifestações da demência, bem como criar uma sustentação para os que de repente se viram como cuidadores de alguém que antes os cuidava”.
Novas medidas governamentais poderiam melhorar a qualidade de vida do paciente. Como prioridade, dr. Norberto elege a qualificação de profissionais de atenção básica, tanto para atentarem-se aos primeiros sintomas e providenciar um diagnóstico precoce, quanto para tratar adequadamente os que enfrentam as fases mais graves.
Não somente, formatar mecanismos que possam aliviar a tensão gerada pela mudança de personalidade, colaborando para o convívio no âmbito familiar. Com um ambiente mais leve e agradável, aspectos típicos do Alzheimer, como a confusão mental, podem ser amenizados.
A conscientização também deve ser realizada em diversos setores da sociedade para que a população saiba reconhecer os principais sinais e as formas de prevenção – como controle de hipertensão diabetes, não fumar, manter atividade física e intelectual ativa, exposição solar, ter vida social e praticar atividade física.
“Se não adotarmos estratégias para reduzir as incidências e mostrar que os hábitos para prevenção são aplicáveis não só ao idoso, mas na meia idade, a partir dos 40 anos, os números tendem a se multiplicar, graças ao envelhecimento populacional. A cultura precisa mudar, com a conscientização e incentivo do sistema público. Se o governo não entender o impacto econômico e social que a Doença de Alzheimer gera, sofreremos muito nos próximos anos”, conclui o coordenador do Departamento Científico de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da ABN.
Família e Paciente
O envelhecimento cerebral é inevitável, porém a perda progressiva da função cognitiva e declínio intelectual, causadas pela neurodegeneração, não é um fator comum do envelhecimento. O paciente com Alzheimer perde, aos poucos, a capacidade de trabalhar e realizar atividades corriqueiras. Nas fases mais avançadas, precisa de auxilio até mesmo para comer, vestir-se e higienizar-se.
O neurologista ressalta que a sociedade perde muito a cada novo diagnóstico da doença. “Não estamos preparados para dar o devido auxilio ao doente e à família; a qual é amplamente envolvida em todo o processo, porém sem a sustentação de programas para ajudar a entender com o que está lidando”.
A perda de independência é um fator que causa muito desconforto nessa relação. “Com a progressão da demência, o individuo precisa sempre estar acompanhado, seja em casa ou nas atividades externas. Por exemplo, até para ir fazer compras, ele deve estar acompanhado – caso não, corre o risco de perder-se”, informa Frota.
Segundo o especialista, mais de metade dos doentes de Alzheimer apresenta alterações comportamentais e cabe ao cuidador compreender e ter paciência. Além da confusão e da desorientação, há manifestações, ainda, de ansiedade, agitação, alucinação e desconfiança. O senso crítico e a tomada de decisões são danificados. Os traços da personalidade acentuam-se, sobretudo a teimosia. Se a pessoa é introvertida, a depressão pode aparecer conforme a intensidade da doença.
Ao alcançar níveis mais sérios, passa a emagrecer, a sofrer de incontinência urinária e fecal, além de problemas de comunicação, com movimentos e fala repetitiva, distúrbios do sono e vagância.
Para evitar conflitos e colaborar para o bem estar do paciente, o ideal a fazer é respeitar as deficiências e não confrontar os déficits de memória. Quando muito agitados, distraí-los e acalmá-los é o melhor caminho. “Também é muito importante manter uma rotina, dormir e acordar no mesmo horário, não trocar muitas vezes de cuidador e evitar variações no ambiente doméstico”, lista o médico.
O Alzheimer não acomete somente um indivíduo, por isso toda a família deve estar envolvida em proporcionar boa qualidade de vida ao doente. Ler, conversar, praticar exercícios físicos (150 minutos semanais), dieta balanceada, tratamento de doenças sistêmicas e preservação da vida social são fatores que retardam o envelhecimento cognitivo e precisam ser incentivados por todos. Essa é uma fase da vida muito delicada para o paciente - suas limitações e novas perspectivas devem ser respeitadas.
Campanha
Lucinha Lins é uma das apoiadoras da Campanha de Prevenção ao Alzheimer da Academia Brasileira de Neurologia (ABN). A atriz interpreta a Zuzu na novela Vitória, da Rede Record, uma mulher alegre e ativa que tem a vida transformada após o diagnóstico de Alzheimer.
“É uma honra ter me tornado a madrinha da campanha da ABN. As pessoas merecem saber mais sobre o Alzheimer e a campanha é uma ótima forma de propagar as informações sobre a doença”, afirma Lucinha. “Tenho certeza que será um enorme sucesso”.
Por intermédio da personagem, Lucinha mostra ao Brasil como é o dia a dia e as dificuldades de quem tem esta doença. “A Cristiane Fridmann, autora da novela, desenvolveu este personagem para mim e, com certeza, é um verdadeiro desafio interpretá-lo”, conta Lucinha. “A doença de Alzheimer possui muitos sinais, que eu estudei afundo para poder me aproximar da realidade”, completa.
Acontece Comunicação

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