O ornamento tirado da lã de ovelhas faz recordar as escolhas do Senhor enquanto pastor.
Por Dom José Antônio Peruzzo*
Na noite de sexta-feira, dia 9, na Catedral de Curitiba, o núncio apostólico colocou em meus ombros o pálio. Trata-se de um ornamento litúrgico, usado pelos arcebispos, que consiste em uma faixa de lã adornada com algumas cruzes colocada sobre os ombros. É um costume muito antigo na Igreja, talvez já desde o século 6º. Entre os muitos significados ao longo da história, o papa Francisco, quando o entregou aos novos arcebispos em Roma, enfatizou o seu sentido pastoral. É o símbolo do pastor que leva sobre seus ombros a ovelha, particularmente a que mais precisa dos seus cuidados.
Mas o alcance de sentido não se resume apenas a aspectos de pastoreio. Por ser feito de lã de ovelha, é verdade que aflora facilmente à imaginação do cristão a recordação do bom pastor. Mas a significação vai mais longe. A lã e a ovelha recordam também o Cordeiro de Deus, Jesus Cristo. O cordeiro, animal dócil e manso, no imaginário do povo bíblico, carregava sobre si os pecados e os erros de muitos. Aliás, é desde essa tradição que surgiu, por derivação, a expressão “bode expiatório”. Jesus suportou os insultos e infidelidades de quantos não o acolheram. Em linha de seguimento, quem é pastor em seu nome será chamado a participar de experiências semelhantes. E o pálio recebido pede disposições parecidas por parte de quem o usa.
Além deste aspecto de renúncia, de despojamento, o ornamento tirado da lã de ovelhas faz recordar, sim, as escolhas do Senhor enquanto pastor do seu rebanho. A simbologia do pastor é uma das mais caras à cultura bíblica. Eram pastores que “guardavam suas ovelhas” os primeiros a saber que nascera o Salvador (Lc 2,8-20). Para falar da misericórdia e solicitude de Deus com os que erram, Jesus se serviu dos traços do pastor que vai em busca da ovelha perdida (Lc 15,4-7). Mas, mais do que imagens ilustrativas, foi sua pessoa a realizar tudo o que os símbolos expressam. Apresentou-se como o “bom pastor” cujo sentido da vida é viver para as suas ovelhas (cf. Jo 10,11).
Pois bem, o que diz a mim o pálio que o papa Francisco me concedeu de usar? Quando da entrega do mesmo, em Roma, ele foi incisivo em recordar aos arcebispos que nenhum outro motivo deveria explicar melhor aquele gesto senão o de cultivar o encanto do pastor por suas ovelhas. O rebanho não é propriedade do pastor; tampouco é objeto de competências e organização. Também não é uma comunidade religiosa subordinada a um líder. O pálio é, mais do que tudo, a lembrança quase permanente que meus gestos, palavras e escolhas correspondam às opções do bom pastor.
Se podemos falar de honra, a única honra é a de ter a Igreja me confiado a possibilidade de maior entrega ao Povo de Deus por causa do Bom Pastor. Não se trata de grandezas, de prestígio eclesiástico, de carreirismos, de projeções de qualquer natureza. É algo como a distinção entre profissão e vocação. O bom profissional atua com competência, com conhecimento técnico, com habilidades que o fazem reconhecido. Quando se trata de vocação, porém, sem faltar competências e habilidades, quem atua por vocação transfigura todos os motivos. E atua em resposta à “voz” interior. Quem a ouve entrega-se com gratuidade e encanto. Conto, pois, com a oração do leitor, para que eu possa conservar os sadios encantos do bom pastor.
Na noite de sexta-feira, dia 9, na Catedral de Curitiba, o núncio apostólico colocou em meus ombros o pálio. Trata-se de um ornamento litúrgico, usado pelos arcebispos, que consiste em uma faixa de lã adornada com algumas cruzes colocada sobre os ombros. É um costume muito antigo na Igreja, talvez já desde o século 6º. Entre os muitos significados ao longo da história, o papa Francisco, quando o entregou aos novos arcebispos em Roma, enfatizou o seu sentido pastoral. É o símbolo do pastor que leva sobre seus ombros a ovelha, particularmente a que mais precisa dos seus cuidados.
Mas o alcance de sentido não se resume apenas a aspectos de pastoreio. Por ser feito de lã de ovelha, é verdade que aflora facilmente à imaginação do cristão a recordação do bom pastor. Mas a significação vai mais longe. A lã e a ovelha recordam também o Cordeiro de Deus, Jesus Cristo. O cordeiro, animal dócil e manso, no imaginário do povo bíblico, carregava sobre si os pecados e os erros de muitos. Aliás, é desde essa tradição que surgiu, por derivação, a expressão “bode expiatório”. Jesus suportou os insultos e infidelidades de quantos não o acolheram. Em linha de seguimento, quem é pastor em seu nome será chamado a participar de experiências semelhantes. E o pálio recebido pede disposições parecidas por parte de quem o usa.
Além deste aspecto de renúncia, de despojamento, o ornamento tirado da lã de ovelhas faz recordar, sim, as escolhas do Senhor enquanto pastor do seu rebanho. A simbologia do pastor é uma das mais caras à cultura bíblica. Eram pastores que “guardavam suas ovelhas” os primeiros a saber que nascera o Salvador (Lc 2,8-20). Para falar da misericórdia e solicitude de Deus com os que erram, Jesus se serviu dos traços do pastor que vai em busca da ovelha perdida (Lc 15,4-7). Mas, mais do que imagens ilustrativas, foi sua pessoa a realizar tudo o que os símbolos expressam. Apresentou-se como o “bom pastor” cujo sentido da vida é viver para as suas ovelhas (cf. Jo 10,11).
Pois bem, o que diz a mim o pálio que o papa Francisco me concedeu de usar? Quando da entrega do mesmo, em Roma, ele foi incisivo em recordar aos arcebispos que nenhum outro motivo deveria explicar melhor aquele gesto senão o de cultivar o encanto do pastor por suas ovelhas. O rebanho não é propriedade do pastor; tampouco é objeto de competências e organização. Também não é uma comunidade religiosa subordinada a um líder. O pálio é, mais do que tudo, a lembrança quase permanente que meus gestos, palavras e escolhas correspondam às opções do bom pastor.
Se podemos falar de honra, a única honra é a de ter a Igreja me confiado a possibilidade de maior entrega ao Povo de Deus por causa do Bom Pastor. Não se trata de grandezas, de prestígio eclesiástico, de carreirismos, de projeções de qualquer natureza. É algo como a distinção entre profissão e vocação. O bom profissional atua com competência, com conhecimento técnico, com habilidades que o fazem reconhecido. Quando se trata de vocação, porém, sem faltar competências e habilidades, quem atua por vocação transfigura todos os motivos. E atua em resposta à “voz” interior. Quem a ouve entrega-se com gratuidade e encanto. Conto, pois, com a oração do leitor, para que eu possa conservar os sadios encantos do bom pastor.
CNBB 15-10-2015.
*Dom José Antônio Peruzzo é arcebispo de Curitiba (PR).
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