sexta-feira, 13 de novembro de 2015

A matemática do desastre

A tragédia pode afetar o abastecimento de água para 500 mil pessoas.

Por Max Velati
Números! A matemática não mente, não se presta a interpretações, não se curva a versões, não é questão de ponto de vista ou opinião.
Número é número.
Enquanto escrevo esta coluna, completamos uma semana desde que as duas barragens estouraram. Sim, duas: Fundão e Santarém. Sete dias, 168 horas. Pelos dados que consultei até agora 612 pessoas estão desabrigadas e foram resgatadas. Quatro mortos confirmados. Vinte e três continuam desaparecidos. Pelo menos 15 cidades afetadas em Minas Gerais e Espírito Santo. Infelizmente, estes números vão crescer e quando você estiver lendo esta linha o desastre terá proporções ainda maiores.
No trabalho de resgate e assistência cada bombeiro vale por quatro pessoas e cada voluntário vale por três.
Também são três empresas diretamente responsáveis: a Vale, controladora da Samarco, e ainda a australiana BHP Billiton. A Samarco opera neste negócio desde 1977, ou seja, há 38 anos.
O desastre pode ser calculado como 62 milhões de caixas de mil litros de lama tóxica. Outro comparativo é imaginar o conteúdo de 20 mil piscinas olímpicas. A lama pode se espalhar numa faixa de 10 km de largura ao longo de 6.200 km do nosso litoral.
A tragédia pode afetar o abastecimento de água para 500 mil pessoas.
O número de animais mortos é incalculável.
Os zeros da questão:
O sistema de alarme para prevenção instalado pela empresa vale zero. O plano de emergência das empresas para o desastre é igual a zero. Também é zero a presença da presidente da república ou ministros no local.
O número de medidas concretas tomadas pelo Governo em favor das vítimas é igual a 1. O FGTS dos moradores das regiões afetadas foi liberado. Em outras palavras, as vítimas receberam permissão do Governo para usar o próprio dinheiro.
O prejuízo calculado até agora – em relação ao que o dinheiro pode comprar – já chegou a 10 bilhões de reais.
Pelo menos três Ministérios deveriam estar prestando esclarecimentos: Minas Energia, Meio Ambiente e Ministério Público. Apenas o Ministério Público de Minas Gerais tem apresentado à sociedade considerações importantes.
Minas Gerais tem 735 barragens e dentre elas 42 não têm estabilidade garantida. Estas informações são do relatório da Fundação Estadual do Meio Ambiente para o ano de 2014. Não há relatório disponível para 2015.
A tristeza e desamparo dos habitantes de Bento Rodrigues é incalculável.
A paciência do brasileiro, historicamente considerada infinita, está chegando muito perto do zero.
*Max Velati trabalhou muitos anos em Publicidade, Jornalismo e publicou sob pseudônimos uma dezena de livros sobre Filosofia e História para o público juvenil. Atualmente, além da literatura, é professor de esgrima e chargista de Economia da Folha de S. Paulo. Publica no Dom Total toda sexta feira.

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