Quando aquela pessoa se ausenta, sentimos a sua falta, por faltar aos nossos sentidos.
Por Evaldo D'Assumpção*
O luto é um processo que surge em decorrência de qualquer perda significativa acontecida em nossas vidas. Não é apenas um sofrimento proporcional à significância da coisa ou da pessoa perdida, mas um sistema muito bem elaborado pela nossa mente para nos ajudar a superar aquela dor, permitindo-nos retomar a vida em seu fluxo natural.
Por isso, afirmamos que vivenciar o luto em sua totalidade é essencial para que não passemos anos de nossa vida sofrendo e deixando de viver por causa daquela perda. Muitas pessoas não acreditam que seja possível a elaboração completa deste processo, tampouco que existe e deve ser procurada, a ajuda adequada para tal. Outras acreditam que tranquilizantes e antidepressivos são a melhor solução. Contudo, o uso desses medicamentos apenas adia a vivência plena e superação do luto. Há pessoas que passam a vida sob o efeito de tais medicamentos, mantendo a dor da perda cuidadosamente conservada no congelador do seu coração. Por isso mesmo, vez ou outra a dor ultrapassa a força dos medicamentos, ocorrendo surtos de intenso sofrimento e depressão. São ocasiões em que tais pessoas acreditam que a vida já não tem sentido, podendo chegar, em casos extremos, até mesmo ao autoextermínio.
Especialmente no luto pela partida de uma pessoa querida, sua elaboração necessita do entendimento de que essa superação não significa deixar de amá-la nem esquecê-la, mas simplesmente que a saudade dolorosa que se sentia transformou-se numa saudade “gostosa”, em que vamos nos recordar daquela pessoa com muito carinho e amor, contudo sem sofrimento.
Compreende-se esta realidade, quando se entende que o luto é a expressão da perda sensorial da pessoa amada. Ou seja, o luto é uma experiência sensual. Explicando melhor: temos cinco sentidos que nos colocam em permanente contato com o ambiente que nos cerca e, de forma bem mais intensa, com as pessoas com quem convivemos.
O cheiro particular de cada pessoa, a tonalidade e a articulação de sua voz, a atenção com que nos escuta, o tato de suas mãos, a textura de sua pele, o formato do seu rosto, a cor do seus olhos, o contorno do seu corpo, tudo é fundamental para estimular os nossos cinco sentidos, fazendo com que a reconheçamos em qualquer lugar, em qualquer condição. E estes estímulos nos garantem que aquela pessoa é ela e ali está, bem junto de nós.
Quando aquela pessoa se ausenta, sentimos a sua falta, por faltar aos nossos sentidos. Por isso as fotos das pessoas queridas, para que nossa visão possa contemplar a sua imagem, até que ela retorne fisicamente. E isso nos conforta pela certeza de que num certo espaço de tempo, maior ou menor, tornaremos a tê-la conosco, estimulando todos os nossos sentidos.
Na morte, o grande vazio que sentimos é a ausência destes estímulos. Pensamos que não, e afirmamos que a falta é dela, daquela pessoa tão especial, sem perceber que ela se torna especial pela forma como estimula nossos sentidos. O próprio corpo inerte no féretro, já não estimula igualmente nossos sentidos. Ele é frio, sem cor, sem reação a nosso tato, sem o seu cheiro característico. Sua voz já não toca os nossos ouvidos e, o pior: temos a certeza de que nada disso voltará a acontecer. Quando a tampa do caixão recobre o corpo, a dor se acentua porque perdemos, e definitivamente, a sua última visão. A volta para casa, o quarto vazio, a absoluta certeza de que tudo se acabou, sem possibilidade de retorno.
Este é o momento em que podemos e devemos aprender a abrir os olhos do coração, pois este sentido tão especial, que reúne todos os outros de uma forma inexplicável, será nosso novo contato com a pessoa que partiu. Voltaremos a vê-la, ouvi-la, e senti-la, agora por novas vias, que se soubermos utilizar, ampliarão para sempre nossos contatos e nenhum obstáculo jamais irá separá-la de nós. Nem o espaço nem o tempo bloquearão a presença da pessoa querida, que estará sempre bem perceptível pelos olhos amorosos do coração.
Depois de um período de elaboração do luto, geralmente de um a dois anos, toda a dor da separação se esvairá, pois como foi dito, deixaremos para sempre a saudade dolorosa para vivenciar, permanentemente, uma saudade gostosa, com a pessoa querida que deixou esta realidade física, sempre presente, envolvida agora pelos nossos sentidos espirituais.
O luto é um processo que surge em decorrência de qualquer perda significativa acontecida em nossas vidas. Não é apenas um sofrimento proporcional à significância da coisa ou da pessoa perdida, mas um sistema muito bem elaborado pela nossa mente para nos ajudar a superar aquela dor, permitindo-nos retomar a vida em seu fluxo natural.
Por isso, afirmamos que vivenciar o luto em sua totalidade é essencial para que não passemos anos de nossa vida sofrendo e deixando de viver por causa daquela perda. Muitas pessoas não acreditam que seja possível a elaboração completa deste processo, tampouco que existe e deve ser procurada, a ajuda adequada para tal. Outras acreditam que tranquilizantes e antidepressivos são a melhor solução. Contudo, o uso desses medicamentos apenas adia a vivência plena e superação do luto. Há pessoas que passam a vida sob o efeito de tais medicamentos, mantendo a dor da perda cuidadosamente conservada no congelador do seu coração. Por isso mesmo, vez ou outra a dor ultrapassa a força dos medicamentos, ocorrendo surtos de intenso sofrimento e depressão. São ocasiões em que tais pessoas acreditam que a vida já não tem sentido, podendo chegar, em casos extremos, até mesmo ao autoextermínio.
Especialmente no luto pela partida de uma pessoa querida, sua elaboração necessita do entendimento de que essa superação não significa deixar de amá-la nem esquecê-la, mas simplesmente que a saudade dolorosa que se sentia transformou-se numa saudade “gostosa”, em que vamos nos recordar daquela pessoa com muito carinho e amor, contudo sem sofrimento.
Compreende-se esta realidade, quando se entende que o luto é a expressão da perda sensorial da pessoa amada. Ou seja, o luto é uma experiência sensual. Explicando melhor: temos cinco sentidos que nos colocam em permanente contato com o ambiente que nos cerca e, de forma bem mais intensa, com as pessoas com quem convivemos.
O cheiro particular de cada pessoa, a tonalidade e a articulação de sua voz, a atenção com que nos escuta, o tato de suas mãos, a textura de sua pele, o formato do seu rosto, a cor do seus olhos, o contorno do seu corpo, tudo é fundamental para estimular os nossos cinco sentidos, fazendo com que a reconheçamos em qualquer lugar, em qualquer condição. E estes estímulos nos garantem que aquela pessoa é ela e ali está, bem junto de nós.
Quando aquela pessoa se ausenta, sentimos a sua falta, por faltar aos nossos sentidos. Por isso as fotos das pessoas queridas, para que nossa visão possa contemplar a sua imagem, até que ela retorne fisicamente. E isso nos conforta pela certeza de que num certo espaço de tempo, maior ou menor, tornaremos a tê-la conosco, estimulando todos os nossos sentidos.
Na morte, o grande vazio que sentimos é a ausência destes estímulos. Pensamos que não, e afirmamos que a falta é dela, daquela pessoa tão especial, sem perceber que ela se torna especial pela forma como estimula nossos sentidos. O próprio corpo inerte no féretro, já não estimula igualmente nossos sentidos. Ele é frio, sem cor, sem reação a nosso tato, sem o seu cheiro característico. Sua voz já não toca os nossos ouvidos e, o pior: temos a certeza de que nada disso voltará a acontecer. Quando a tampa do caixão recobre o corpo, a dor se acentua porque perdemos, e definitivamente, a sua última visão. A volta para casa, o quarto vazio, a absoluta certeza de que tudo se acabou, sem possibilidade de retorno.
Este é o momento em que podemos e devemos aprender a abrir os olhos do coração, pois este sentido tão especial, que reúne todos os outros de uma forma inexplicável, será nosso novo contato com a pessoa que partiu. Voltaremos a vê-la, ouvi-la, e senti-la, agora por novas vias, que se soubermos utilizar, ampliarão para sempre nossos contatos e nenhum obstáculo jamais irá separá-la de nós. Nem o espaço nem o tempo bloquearão a presença da pessoa querida, que estará sempre bem perceptível pelos olhos amorosos do coração.
Depois de um período de elaboração do luto, geralmente de um a dois anos, toda a dor da separação se esvairá, pois como foi dito, deixaremos para sempre a saudade dolorosa para vivenciar, permanentemente, uma saudade gostosa, com a pessoa querida que deixou esta realidade física, sempre presente, envolvida agora pelos nossos sentidos espirituais.
*Evaldo D'Assumpção é médico e escritor.
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