Rádio Vaticana
Nairobi, 27 de Novembro – um início de manhã especial para o bairro de Kangemi, um dos 7 bairros de lata de Nairobi: grande entusiasmo entre os habitantes; presentes também muitas pessoas vindas de outros bairros da capital. O Papa Francisco foi à Igreja Paroquial de S. José Operário, animada por uma comunidade de jesuítas.
O Santo Padre ouviu os testemunhos de alguns dos habitantes do bairro e de uma religiosa que vive naquele lugar. Destaque para um filme que foi apresentado ao Papa onde se podem ver esgotos a céu aberto, barracas e estradas na lama, os pequenos negócios com que as pessoas vivem, e também as comunidades em oração e as crianças que jogam à bola.
Nas palavras que proferiu o Papa não poderia ter sido mais direto: “sinto-me em casa” – disse:
“Sinto-me em casa, partilhando este momento com irmãos e irmãs que têm um lugar preferencial na minha vida e nas minhas opções, não me envergonho de o dizer. Estou aqui porque quero que saibais que as vossas alegrias e esperanças, as vossas angústias e as vossas dores não me são indiferentes. Conheço as dificuldades que encontrais dia-a-dia! Como podemos não denunciar as injustiças?”
O Papa denunciou as injustiças e a marginalização promovida por “minorias que concentram o poder e a riqueza” e declarou ainda “que todas as famílias tenham um teto digno, acesso à água potável, instalações sanitárias, energia segura para iluminar, cozinhar, que possam melhorar as suas casas, que todos os bairros tenham estradas, praças, escolas, hospitais”.
O Papa Francisco denunciou ainda a “apropriação de terras por parte de investidores privados sem rosto, que pretendem mesmo apoderar-se do pátio das escolas”. Ao mesmo tempo denunciou a criminalidade organizada que usa os mais jovens nas suas actividades ilícitas.
O Santo Padre recordou também que o mundo tem uma “grave dívida social” para com os pobres que não têm acesso à água potável, criticando quem acaba por lucrar com a exploração daquele que é um direito universal.
Mas o Papa quis colocar em realce um aspeto nem sempre reconhecido e que é a sabedoria dos bairros populares: uma sabedoria que provêm de uma “obstinada resistência daquilo que é autêntico”, e que uma frenética sociedade de consumo parece ter esquecido:
“Reconhecer estas manifestações de vida boa que crescem cada dia entre vós, não significa, de modo algum, ignorar a terrível injustiça da marginalização urbana. São as feridas provocadas pelas minorias que concentram o poder, a riqueza e perduram egoisticamente, enquanto a crescente maioria tem que refugiar-se em periferias abandonadas, poluídas e descartadas.”
O Papa Francisco fez um apelo especial a todos os cristãos, em particular aos pastores, a renovarem o ímpeto missionário e a tomarem iniciativas contra as tantas injustiças e a envolverem-se nos problemas dos cidadãos e a acompanhá-los nas suas lutas, a apoiarem os frutos do seu trabalho colectivo e a celebrarem com eles cada pequena ou grande vitória.
(RS)
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