quinta-feira, 5 de novembro de 2015

O diário do centro do ego

Só se bate em quem não pode se defender.
Por Ricardo Soares*
No mundo das artes e espetáculos, da mídia, do combalido jornalismo nos forçam a crer que nunca devemos falar exatamente o que pensamos e que o “sincericídio” é fatal, fecha as portas, nos traz má reputação. Só se bate em quem não pode se defender, em quem não nos obstrua os caminhos. Falar ou escrever o que se pensa tem preço alto e sei bem disso. As opiniões são seletivas , as indignações comedidas, as críticas sempre escondidas, nunca explicitadas no texto ou subtexto. Exemplo disso é que no correr dos anos cansei de ver profissionais de comunicação conhecidos  esculhambarem no âmbito privado  com o “entrevistador” Jô Soares mas em público ou em suas trincheiras midiáticas tecerem loas ao maior ego do sistema solar. O temor é que Jô se aborreça e depois não os convide ao seu sofá hoje sem relevância.
Isso posto digo  que apesar de dissabores e de baixar a guarda hoje em dia  sempre procurei falar ou escrever o que penso . E essa questão , a sinceridade, tem ângulos que nem imagina a vã filosofia e nos põe diante  de pessoas que imaginamos dizer o que pensam “só que não” como diz uma expressão vigente.
Vamos aos dueladores. De um lado Nelson Motta, simpático, jornalista, escritor, compositor, hábil na arte de fazer amigos e influenciar pessoas e excelente texto muito embora um tal Kiko Nogueira ( ex-Veja, Abril, etc) que escreve no tal “Diário do Centro do Mundo”   não ache isso . Se é ou não verídico ( como diz Kiko) que Nelson Motta recheou de mentiras a biografia de Tim Maia quem sou eu para avaliar isso. Mas que ela é bem escrita como quase tudo que o Nelsinho faz , isso é. A questão é saber até que ponto Nelsinho tem direito de escrever o que quer na sua trincheira suspeita  e Kiko responder o que quer na sua outra trincheira suspeita. Ambos falam verdades e ambos, para mim, não tem a credibilidade necessária para se passarem por santos.Nessa área muito poucos são.
A indignação expressa por Kiko no “Diário do Centro do Mundo” vai por conta de um abjeto texto que Nelsinho cometeu no Globo ( onde tem coluna há muitos anos)  esculhambando Marisa Letícia a ex-primeira dama petista. Pergunta Kiko se fosse alguém escrevendo assim sobre as ex de Nelsinho ou suas filhas se  ele não ficaria indignado. Diz , de cara ,no seu artigo o Kiko : “De todos os sub jabores que surgiram nos últimos anos, poucos desempenham um papel tão patético quanto Nelson Motta”. Se patético ou não onde parece Kiko estar certo é que Nelsinho “migrou da resenha de música para a detonação de qualquer coisa ligada a Dilma, PT, Lula etc, o que dá mais ibope”.  Lembro bem dele esculhambando mais de uma vez a Tv Brasil e a EBC da qual fui diretor  sem o menor conhecimento de causa apenas porque era uma empresa de comunicação ligada ao governo. O mesmo se dá com o texto sobre Marisa , eivado de preconceitos classistas e especulações rasteiras sobre a vida sexual do casal Lula  o Nelsinho  chama uma mulher que não conhece  de vaidosa, burra, manipuladora e corrupta. Ok,  liberdade de opinião ? alto lá com a questão! Estamos no terreno dos vários pesos e várias medidas.  Assim como parece estar claro que Nelsinho “fatura” prestígio com o ideário anti lulo-petista o Kiko e seu papai Paulo parecem “faturar” e não só prestígio com a defesa da malta dominante. Ou seja, um mundo de “bem intencionados “né ? Rotos falando de esfarrapados.
Kiko diz que  Motta é um mestre da bajulação de poderosos, um puxa saco de primeiríssima classe. Não está de todo errado. Nelsinho não bate em ninguém a não ser em cachorro morto e construiu uma carreira também de “crítico musical” sem esculhambar ninguém como lembra Caetano Veloso o compositor baiano que Nelsinho desde sempre adora bajular. Sim , como lembra Kiko há uma blague segundo a qual não existe documentário musical no Brasil sem um depoimento de Nelson Motta. Sim , por inércia e ignorância dos produtores, Nelson está em todas porque sabe fazer seu marketing pessoal com seus óculos escuros, sua estampa de gatinho da terceira idade, suas camisetas e óculos escuros, seus jeans bem cortados e suas opiniões sempre “discoladas” . Repito , é um mestre na arte de fazer amigos e influenciar pessoas. Um Norman Vincent Peale do showbizz. Mas não é  um personagem marginal que se vende como protagonista como Kiko Nogueira  quer fazer crer. Talvez isso se aplique mais a você e seu pai e a esse “Diário do Centro do Mundo” que vende “isenção” conforme a conveniência. Isso sem falar na questionável estratégia de estraçalhar todos os dias a editora Abril corporação a qual pai e filho atuaram muitos anos defendendo lindamente os ideais corporativos dos Civita. É a discutível estratégia de cuspirem  no prato onde muito tempo comeram. Mas isso é lá com a consciência deles.
Para mostrar que tem domínio de vocabulário o Kiko acusa  Nelsinho Motta de ser “um sicofanta seletivo”. Uai, será que não percebe que o “elogioso” adjetivo pode se aplicar a ele e seu site que ao invés de “centro do mundo” está mais para o “centro do ego” dos Nogueiras ? Ora senhores, quem não os conhece que os compre. Com muita gente vocês são tão  doce de coco com alguns como Nelsinho é com  Caetano. E outras vezes são  hienas maldosas com quem não tem como se defender.   Tal qual o “Nelsinho” . Nessas redes sociais e por aí afora as pessoas talvez com medo desse tal “Diário”  não escrevem e nem dizem  na lata o que pensam do “serviço” que vocês prestam . Voltamos a hipocrisia que citei no inicio do texto onde constato que a maioria diz algo no privado bem  diverso do que diz em público. Dá-se com vocês o mesmo que com Jô Soares, citado no início. As pessoas temem perder a “condescendência” do “Diário” ? Resguardadas as devidas proporções né, visto que nem em anos luz vocês teriam  a relevância do chato Jô mesmo hoje em maré baixa.
Por fim não estou defendendo Nelson Motta. Não estou execrando Kiko e o Papai Nogueira . Todos temos direito de dizer o que pensamos ? Sim sinhô! Inclusive eu na minha trincheirinha onde só rogo por  menos hipocrisia e mais transparência. Vamos parar de jogar pra torcida pra encher a barriga. Mas se esse é o método que vocês usam , boa sorte.
*Ricardo Soares é diretor de tv, escritor, roteirista e jornalista. Autor de sete livros foi cronista do jornal “ O Estado de S.Paulo” e “Jornal da Tarde” e diretor de redação da revista Trip , entre outras. Ex- diretor de documentários da Tv Cultura onde foi o primeiro apresentador do Metropólis .Ex- diretor de conteúdo e programação da EBC.

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