Padre Geovane Saraiva*

Dom Helder Câmara (1909-2009)
iniciou sua vida de padre em profunda sintonia e comunhão com Jesus, Pão da
Vida, Pão descido do céu, concretamente no exemplo do seu santinho da ordenação
sacerdotal, em Fortaleza-CE (15/08/1931), através do qual assim se manifestou:
Angelorum esca nutrivisti populum tuum – “Teu povo se alimenta do pão do céu”.
Por ser um cidadão planetário, o mundo foi seu campo de ação apostólica,
vivendo-a a partir dos 27 anos de idade na Cidade Maravilhosa-RJ (1936-1964).
Esquecê-lo jamais o místico, que soube sonhar com as realidades últimas na
função de Arcebispo de Olinda e Recife, a partir de abril de 1964. Associados
ao nosso Deus altíssimo, terníssimo e boníssimo, elevamos fervorosas preces,
desejosos de vê-lo beatificado e canonizado santo oficial da Igreja.
Assaz a participação do artesão
da paz no Concílio Vaticano II (1962-1965), agiu excepcionalmente nos
bastidores com um articulador muito especial. Certa vez Dom Hélder
confidenciou: “Uma de minhas maiores emoções, em toda a minha vida, foi quando
da abertura da primeira sessão do Concílio Vaticano II”. Em sua aula inaugural,
o Papa João XXIII disse com força: “Aqui estamos para a nossa conversão” e ele
mesmo se incluía. Isso significava que nós, cristãos, padres e bispos, e até o
Papa, precisávamos voltar às origens do cristianismo e reaprender o Evangelho.
Devemos beber novamente da fonte d’água da vida, que é o próprio Deus. O
processo de beatificação e canonização de Dom Helder faz-nos pensar em Karl
Rahner, sacerdote jesuíta nascido na Alemanha (1904-1984) e que foi um dos
maiores e mais importantes teólogos do século XX; certamente, o influenciou
enormemente, deixando marcas profundas e forte presença no meio cristão, pela
sua ação concreta em favor da Igreja, também seus dons e inteligência
privilegiada, destacando-se como assessor do Concílio Vaticano II, além de
desempenhar um relevante papel, incentivando a Igreja Católica para que se
abrisse ao mundo e às diversas tradições e culturas. Dizia ele com a coragem
profética, bem dentro do espírito de Dom Helder, que lhe era peculiar que o
cristão do futuro seria um místico, ou não seria nada.
Dom Manoel da Silva Gomes, arcebispo de Fortaleza e seu superior, que o ordenou sacerdote, ao saber do desejo do jovem padre de partir para o Rio de Janeiro, assim se expressou: “Meu filho, é Deus, é Deus que está lhe chamando para o Rio de Janeiro. Vá, meu filho, vá!”. No Rio de Janeiro, Dom Helder se depara com a cruzada de oração, iniciativa de Dom Leme, para afervorar o clero. Seu primeiro gesto, ainda jovem, ao subir ao púlpito para o seu primeiro sermão junto aos colegas de sua nova arquidiocese (aquela figura magra, pálida, de olhos fechados, mãos trêmulas e exaltadas), foi uma oração que nunca caiu no esquecimento. Um sermão que foi quase um escândalo, cobrando dos sacerdotes aquele fervor, aquele entusiasmo que o dia a dia e pouco a pouco se esfriava (...). Conviveu harmoniosamente com Dom Jaime de Barros Câmara, no Rio Janeiro, que um dia, à luz da caridade, chamou a atenção de Dom Helder: “O senhor não pode fazer isso. Um bispo da Igreja é um príncipe, e um príncipe não pode se misturar”.
Como místico, tornou-se conhecido
no Brasil e no mundo inteiro por sua luta em favor de uma humanidade livre,
especialmente os desafortunados da vida, os empobrecidos, os “sem voz e sem
vez”, como ele costumava dizer.
Por tudo, acima citado, e muito
mais, fica o convite para rezar com Dom Helder, associados ao Papa Francisco,
que logo no início de seu pontificado deu sinais concretos da importância do
Concílio Vaticano II: dispensou a cruz de ouro, recusou o carro de luxo, pagou
a sua conta na pensão, exortou os bispos a saírem dos palácios e a irem para as
periferias, disse que a Igreja sem a cruz é tão somente uma piedosa ONG, pediu
a bênção dos fiéis e se esforça para dar rumo aos trabalhos pastorais nos
nossos dias. Vejo a essência do seu pontificado nas palavras daquele que era
invocado com o nome “Dom da Paz”: “Que eu aprenda afinal, com a paixão de Nosso
Senhor Jesus Cristo, a cobrir de véus o acidental e efêmero, deixando, em
primeiro plano, apenas o mistério da Redenção”. Assim seja!
*Escritor, blogueiro, colunista, vice-presidente da
Previdência Sacerdotal e Pároco de Santo Afonso, Parquelândia, Fortaleza-CE
–geovanesaraiva@gmail.com
Parabéns!!!
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