sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

A vida de um ‘miraculado’ por Madre Teresa

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Por André Miranda
Rio de Janeiro - "Obrigada, Jesus e Madre Teresa, pelo milagre que operaram em nossas vidas. Seis anos que Marcilio e eu renascemos pela força da fé e do amor", escreveu a pedagoga Fernanda Rocha, em sua página do Facebook, em 10 de dezembro de 2014. Passado um ano, o acontecimento que Fernanda já acreditava se tratar de um milagre foi enfim confirmado pela Igreja Católica e serviu para garantir a canonização de Madre Teresa de Calcutá (1910-1997). A informação oficial do Vaticano é que, pelas orações à missionária albanesa, o engenheiro Marcilio Haddad Andrino, hoje com 42 anos, teria se curado de um grave problema neurológico mesmo depois de desacreditado pelos médicos.
Marcilio tem evitado entrevistas e também pediu discrição a amigos e parentes. O Vaticano tornou o suposto milagre público na última sexta-feira, e já no dia seguinte o engenheiro alterou sua foto de perfil do Facebook para uma imagem do Rio, onde mora. Ele também bloqueou quase todas as suas informações pessoais e tirou o sobrenome da página para não ser encontrado. Pela rede social, pode-se dizer apenas que ele acompanha notícias relacionadas ao time de futebol do São Paulo, à escola de samba Salgueiro e ao videogame Playstation.
Antes de vir para o Rio, Marcilio vivia em São Vicente, município paulista de 350 mil habitantes ao lado de Santos. Ele se graduou em Engenharia Mecânica em 1997, pelo Centro Universitário FEI, em São Bernardo do Campo. Depois, fez mestrado e doutorado na Unicamp, também em Engenharia Mecânica, sob orientação do professor Auteliano Antunes dos Santos Júnior.
— Pelo mestrado, ele ganhou um prêmio da Petrobras. E, pelo doutorado, um prêmio do Capes. Ele era excepcional — afirma Auteliano. — A gente costuma ter alunos que, com o tempo, vão assumindo informalmente a responsabilidade pelos outros. Marcilio era um desses.
Foi ainda durante o doutorado que Marcilio teve que deixar São Paulo e se mudar para o Rio. Em 2006, ele foi aprovado num concurso público para o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) e, já no ano seguinte, assumiu o cargo de pesquisador no órgão. É na sede do Inpi, no Centro do Rio, que trabalha hoje.
O engenheiro é casado com Fernanda desde 2008 e tem um casal de filhos pequenos, Mariana e Murilo. A lua de mel aconteceu em Gramado, na Serra Gaúcha, mas a viagem teve que ser interrompida justamente porque Marcilio se sentiu mal. Ele retornou às pressas e, no Hospital São Lucas, em Santos, descobriu uma hidrocefalia e oito abscessos no cérebro.
Aflita com a saúde do marido, Fernanda procurou o padre Elmiran Ferreira dos Santos, da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, em São Vicente, igreja frequentada pela família. Elmiran chegou a administrar o sacramento da Unção dos Enfermos em Marcilio, mas também entregou a Fernanda uma “relíquia” de Madre Teresa, composta por uma imagem, uma oração e a representação de um pedaço do hábito da missionária. Para o Vaticano, foi a fé em Madre Teresa que curou Marcilio.
— Outro dia, dei uma relíquia para a avó de uma menina recém-nascida. A bebê tinha sido internada logo depois do parto, acho que por causa dessa doença nova, a zika. Semana passada, me encontrei com a mãe. Ela disse: “Padre, foi a partir do momento que rezamos para Madre Teresa que minha filha melhorou” — conta Elmiran.

Peregrinação a São Vicente
Padre Elmiran revela que o suposto milagre realizado na cidade provocou uma peregrinação de fiéis em busca de uma graça semelhante:
— Essas notícias servem para suscitar a esperança na vida de pessoas que conhecemos e estão sem força para reagir. No dia do anúncio da confirmação do milagre, eu não parei um minuto. Só consegui comer alguma coisa às 13h, e foi um iogurte.
Em 21 de junho deste ano, num domingo, Marcilio esteve em Santos para dar seu testemunho. O promotor de Justiça no processo que avaliou o caso para o Vaticano foi o padre Caetano Rizzi, vigário judicial do Tribunal Eclesiástico Diocesano de Santos:
— O Marcilio é tímido por natureza e tem evitado aparecer para preservar a família. Eu o conheci no dia do depoimento. Ele estava feliz, respondia a tudo com muita sabedoria — conta Caetano.
O Globo, 24-12-2015.

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