Em suspense, o Vaticano se concentra para ouvir o que Francisco vai disparar no dia 21.
Por Massimo Franco*
Há um compromisso menos solene, mas mais intrigante do que o de hoje, que servirá para entender como será conjugada a misericórdia papal: o discurso que Jorge Mario Bergoglio dirigirá à Cúria no dia 21 de dezembro. No ano passado, Francisco listou as "15 doenças" que corroem e corrompem a administração da Santa Sé, deixado os presentes chocados, e confirmando a vontade de promover a sua reforma, fortalecido sobretudo pela sua relação com as multidões.
Desta vez, no Vaticano, estão se preparando para o encontro com um pouco de ironia discutível, prometendo "usar coletes à prova de bala": não contra os terroristas do Estado Islâmico, mas para se proteger das palavras do papa. Paradoxalmente, nesta fase, o medo de atentados é menos sentido do que uma nova reprimenda de Jorge Mario Bergoglio: embora Roma seja uma cidade blindada pelo medo de ataques.
O primeiro Jubileu que se abre em um contorno de guerra e com um escândalo de documentos roubados nos bastidores, na realidade, acaba repropondo também as tensões presentes na Igreja Católica.
A abertura da Porta Santa, na manhã dessa terça-feira, na Praça de São Pedro, portanto, foi a metáfora de outros desafios, até o dia 20 de novembro de 2016: uma porta atrás da outra, sem poder prever qual vai representar a incógnita mais inquietante ou mais promissora.
Quando Francisco decidiu, em total solidão, o Jubileu extraordinário, ele reivindicou implicitamente o seu poder de governo: exatamente o mesmo que lhe é contestado em voz baixa e que o pontífice argentino muitas vezes tende a minimizar, se não a ignorar. E um dos objetivos a que ele se propõe parece ser o de consolidar e enraizar o estilo e as palavras-chave do papado nas fileiras de um catolicismo em parte entusiasta e em parte desorientado pelo perfil de Bergoglio: sobretudo nas fileiras eclesiásticas.
A aposta do papa não é só de lotar as praças de peregrinos, mas de fazer com que as pessoas voltem para as Igrejas e para a religião católica.
A tarefa é muito mais árdua do que a primeira, até mesmo pelos maus exemplos dados por uma minoria, propagando o ceticismo e a repulsa para com a instituição religiosa; e dilatando o fosso entre uma figura papal credível e positiva, e uma Igreja que mostra alguma dificuldade para se manter no ritmo dele.
É provável que a análise contenha uma dose de verdade e de lugares-comuns; porém, é a que prevalece. Ela se une com a percepção de um pontificado que construiu e continua lançando mil pontes. Mas, paralelamente, tornou instável e datado o vínculo com Roma e com o Vaticano, dando ao catolicismo um significado global e "sulista"; e, se o adjetivo ainda é usado, "terceiro-mundista".
Isso não depende tanto do fato de que as três primeiras nações de maioria católica são o Brasil, o México e as Filipinas, já que, como quarta e quinta, encontram-se os Estados Unidos e a Itália. São a identidade latino-americana do papa e a dinâmica do conclave de 2013 que conotam a misericórdia de Bergoglio.
A coincidência temporal com o 50º aniversário do fim do Concílio assinala a vontade de marcar uma continuidade que alguns põem em dúvida; e de retomar um impulso freado pela crise do Ocidente.
Por isso, será interessante ver qual Igreja irá reemergir no dia 20 de novembro de 2016, no encerramento do Jubileu: essa será a herança de Francisco.
Desta vez, no Vaticano, estão se preparando para o encontro com um pouco de ironia discutível, prometendo "usar coletes à prova de bala": não contra os terroristas do Estado Islâmico, mas para se proteger das palavras do papa. Paradoxalmente, nesta fase, o medo de atentados é menos sentido do que uma nova reprimenda de Jorge Mario Bergoglio: embora Roma seja uma cidade blindada pelo medo de ataques.
O primeiro Jubileu que se abre em um contorno de guerra e com um escândalo de documentos roubados nos bastidores, na realidade, acaba repropondo também as tensões presentes na Igreja Católica.
A abertura da Porta Santa, na manhã dessa terça-feira, na Praça de São Pedro, portanto, foi a metáfora de outros desafios, até o dia 20 de novembro de 2016: uma porta atrás da outra, sem poder prever qual vai representar a incógnita mais inquietante ou mais promissora.
Quando Francisco decidiu, em total solidão, o Jubileu extraordinário, ele reivindicou implicitamente o seu poder de governo: exatamente o mesmo que lhe é contestado em voz baixa e que o pontífice argentino muitas vezes tende a minimizar, se não a ignorar. E um dos objetivos a que ele se propõe parece ser o de consolidar e enraizar o estilo e as palavras-chave do papado nas fileiras de um catolicismo em parte entusiasta e em parte desorientado pelo perfil de Bergoglio: sobretudo nas fileiras eclesiásticas.
A aposta do papa não é só de lotar as praças de peregrinos, mas de fazer com que as pessoas voltem para as Igrejas e para a religião católica.
A tarefa é muito mais árdua do que a primeira, até mesmo pelos maus exemplos dados por uma minoria, propagando o ceticismo e a repulsa para com a instituição religiosa; e dilatando o fosso entre uma figura papal credível e positiva, e uma Igreja que mostra alguma dificuldade para se manter no ritmo dele.
É provável que a análise contenha uma dose de verdade e de lugares-comuns; porém, é a que prevalece. Ela se une com a percepção de um pontificado que construiu e continua lançando mil pontes. Mas, paralelamente, tornou instável e datado o vínculo com Roma e com o Vaticano, dando ao catolicismo um significado global e "sulista"; e, se o adjetivo ainda é usado, "terceiro-mundista".
Isso não depende tanto do fato de que as três primeiras nações de maioria católica são o Brasil, o México e as Filipinas, já que, como quarta e quinta, encontram-se os Estados Unidos e a Itália. São a identidade latino-americana do papa e a dinâmica do conclave de 2013 que conotam a misericórdia de Bergoglio.
A coincidência temporal com o 50º aniversário do fim do Concílio assinala a vontade de marcar uma continuidade que alguns põem em dúvida; e de retomar um impulso freado pela crise do Ocidente.
Por isso, será interessante ver qual Igreja irá reemergir no dia 20 de novembro de 2016, no encerramento do Jubileu: essa será a herança de Francisco.
*A reportagem de Massimo Franco foi publicada no jornal Corriere della Sera. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
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