Cidade do Vaticano - “É preciso que a Igreja do nosso tempo adquira mais profunda e particular consciência da necessidade de dar testemunho da misericórdia de Deus.” Essa é uma das passagens-chave da Carta encíclica “Dives in Misericordia”, que São João Paulo II assinou em 30 de novembro de 35 anos atrás. Sobre esse documento particularmente atual e sobre o quanto a misericórdia una as figuras de Karol Wojtyla e Jorge Mario Bergoglio, a Rádio Vaticano ouviu o teólogo Pe. Massimo Serretti, docente de Teologia Fundamental na Pontifícia Universidade Lateranense:
Pe. Massimo Serretti: “O próprio título da Dives in Misericordia evoca a passagem da Carta de São Paulo aos Efésios em que se fala em “Deus rico de misericórdia”. Na linguagem de São Paulo Deus significa o Pai, portanto, a referência é ao Pai. De fato, o Pai está particularmente ligado ao mistério desta virtude da Misericórdia, porque o Pai é aquele que dá a vida por definição. Consequentemente, ao dar a vida se demonstra o seu amor: o amor e o dar a vida são o coração da Misericórdia. O ponto que move João Paulo II é a visão da dignidade do homem, portanto, é uma visão positiva à qual se associa, por contraste, a visão do fato que a dignidade se encontre ameaçada porque há uma miséria. Quando se fala em Misericórdia há sempre, no meio, a miséria. Ele fala de uma dignidade danificada, perdida e, portanto, esse documento deveria servir e serviu para convidar toda a Igreja de modo renovado a levar a Misericórdia, não a Misericórdia própria, mas a Misericórdia de outro. Esse é o paradoxo cristão: o cristão carrega a Misericórdia de outro porque a própria não seria suficiente. Efetivamente, o coração da miséria do homem é o pecado. O próprio homem não pode responder, não pode sanar essa miséria do outro homem. Por isso, o convite de João Paulo II é o de levar a todos a Misericórdia de Deus.”
RV: “Misericordiosos como o Pai” é também o lema do Jubileu. Como a Carta encíclica de João Paulo II Dives in Misericordia se une ao Jubileu querido pelo Papa Francisco, cujo Ano Santo está para se iniciar?
Pe. Massimo Serretti: “É o próprio Papa Francisco quem faz essa união em sua Bula de convocação, Misericordiae vultus, quando toma como referência essa Carta encíclica de São João Paulo II e a apresenta como um texto, um ensinamento fundamental. Traz uma expressão de João Paulo II na qual ele diz que este testemunho da Misericórdia é ditado pelo amor pelo homem, por tudo aquilo que é humano. E essa profunda compaixão, esse profundo sentido e necessidade de sanar e elevar a humanidade decaída, este é um traço que une claramente essa encíclica ao Ano da Misericórdia.”
RV: Pode-se dizer que a Misericórdia é um elo que une de modo especial as figuras e os Pontificados de João Paulo II e Francisco?
Pe. Massimo Serretti: “Com certeza. Passando por Bento XVI, estes últimos Pontífices que tivemos são campeões deste ponto de vista da caridade e da Misericórdia. Isto é, diante de um mundo que se torna sempre mais impiedoso, em que não há mais a capacidade de perdão, de profundo acolhimento do outro; vemos estes homens com diferentes sensibilidades, mas com modalidades que na realidade são muito afins. Se observarmos a biografia deles – mesmo o traço não manifesto destes dois Pontífices –, nos daremos conta de que a ação de colher o homem em seu ponto de máxima queda, é uma ação que caracteriza o Ministério de Pedro de modo particular, com certeza, nestes últimos Pontificados.”
SIR
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