O início e o final do Ano Litúrgico nos convidam a dar orientação e rumo à nossa vida.
*Por Cardeal Odilo Pedro Scherer
Com a solene festa de Cristo, Rei do Universo, chegamos ao final de mais um Ano Litúrgico; e já iniciamos um novo, com o primeiro domingo do Advento. Este momento do Ano Litúrgico nos faz pensar no “tempo de Deus”.
Deus é eterno e não está sujeito ao tempo; mas entrou no tempo do mundo e dos homens, caminhando com eles, participando de sua vida, mostrando-se um Deus Salvador; o momento alto dessa revelação de Deus foi a vinda do Filho de Deus ao mundo, sua vida entre os homens, sua paixão redentora, sua ressurreição e glorificação e o envio do Espírito Santo.
Por outro lado, Deus também é Senhor do tempo e da história, continuando a realizar no presente e no futuro seu desígnio de amor e salvação para conosco e com o mundo. O início e o final do Ano Litúrgico nos convidam a dar orientação e rumo à nossa vida e a todas as nossas iniciativas. Que sentido tem nossa vida? Para onde vamos? Para onde caminha a humanidade? Quem tem a palavra final sobre o mundo e o destino dos homens?
Não dominamos o começo, nem o final de nossa vida; fazemos projetos e a maioria deles fica a meio caminho; sonhamos e conseguimos realizar apenas poucas coisas. Quem, ou o quê nos faz buscar, sonhar, projetar, esperar? No final de tudo, cantarão vitória os mais espertos? Os corruptos? Os honestos? Os mais ricos? Os políticos mais poderosos? Os cientistas? Os soldados?
A fé, celebrada na Liturgia, nos faz olhar para Deus e exclamar, reconhecendo nossos limites e nossa incapacidade de “salvar” este mundo e a nós mesmos: só Deus salva; Jesus Cristo, Filho de Deus vindo a este mundo, é o Salvador! O trecho do livro do Apocalipse, referido a Deus, Senhor e lido na solenidade de Cristo Rei, é bem significativo: “Eis que ele vem com as nuvens e todos o verão... Todas as tribos da terra baterão no peito por causa dele. Sim... ‘Eu sou o alfa e o ômega’, diz o Senhor Deus, ‘aquele que é, que era e que vem, o todo-poderoso” (Ap 1,7-8).
Essas palavras ensinam que só Deus é o subsistente, que está no princípio de todas as coisas (alfa) e também no final de tudo (ômega). A palavra de Deus permanece para sempre, conforme também Jesus ensinou: “o céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão" (Mc 13,31). Deus tem a última palavra sobre a história e a vida dos homens. Também por isso, é somente Deus que poderá resolver o enigma do mundo, da nossa existência e das nossas aspirações. Só Deus pode salvar.
Por isso, logo no início do novo Ano Litúrgico, a Igreja nos coloca diante das promessas de Deus, que alimentam nossa firme esperança; da necessidade de vigilância atenta, de sobriedade no viver e da prática do bem. Isso é que dá sentido à vida e não deixará que nos percamos nas muitas encruzilhadas ao longo da vida. Assim vivendo, esperamos ser considerados dignos de participar da salvação que Deus nos prepara.
Enquanto isso, caminhamos ao encontro do Cristo que vem carregados de boas obras, na esperança de sermos reunidos à sua direita na comunidade dos justos (cf. Oração do Dia, do 1º domingo do Advento). De esperança em esperança...
CNBB
*Arcebispo de São Paulo
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