sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

'Ele sempre gostou de ajudar', diz mãe de brasileiro que 'virou refugiado'

Advogado largou tudo para ajudar refugiados e viver como eles na Europa.
Família ficou apreensiva, mas diz que confiou no projeto dele.

Flávia Mantovani
Do G1, em São Paulo

Advogado brasileiro Edgard Raoul Gomes ajuda menina refugiada no litoral da Grécia (Foto: Arquivo pessoal/Edgard Raoul Gomes)Advogado brasileiro Edgard Raoul Gomes ajuda menina refugiada no litoral da Grécia (Foto: Arquivo pessoal/Edgard Raoul Gomes)
Criado em uma família de classe média, com um bom emprego e uma vida confortável, o advogado Edgard Raoul Gomes, de 30 anos, largou tudo para passar fome, frio e dificuldade na Europa. Seu objetivo: entender o que significa ser um refugiado vivendo como eles.
Depois de atuar como voluntário na ilha de Lesbos, na Grécia, Edgard passou 26 dias viajando por oito países junto com grupos de sírios, iraquianos e afegãos. Foi da Grécia até a Alemanha, ficou 12 dias sem tomar banho, perdeu 8 quilos.
Quando ele era criança, soube que o porteiro do prédio não sabia ler e perguntou: ‘Mãe, posso dar aula particular para ele?’"
Maria Raquel Cintra de Campos, mãe
A mudança brusca de estilo de vida foi inesperada para a família, mas não chegou a surpreender. Edgard é descrito por eles como uma pessoa proativa, que sempre gostou de ajudar os outros.
“Desde pequeno ele queria fazer a diferença na vida das pessoas”, conta sua mãe, a coordenadora escolar Maria Raquel Cintra de Campos, de 59 anos.
“Quando ele era criança, soube que o porteiro do prédio não sabia ler e perguntou: ‘Mãe, posso dar aula particular para ele?’ Ele sempre olhou para as pessoas que são quase invisíveis. A gente não acorda pensando na Turquia. Ele sim”, diz.
Edgard Raoul com a mãe e os dois irmãos (Foto: Maria Raquel Cintra de Campos/Arquivo pessoal)Edgard Raoul com a mãe e os dois irmãos (Foto: Maria Raquel Cintra de Campos/Arquivo pessoal)
Maria Raquel relata que em alguns momentos ficou apreensiva com a aventura do filho – como quando ouviu uma mensagem em que ele tossia e se mostrava gripado no meio do trajeto, que foi feito no inverno europeu. “Falei: 'filho, pelo amor de Deus, se cuida'. Vi que ele apanhou, ficou sem tomar banho. É uma coisa tão distante da gente que eu nem consigo imaginar”, lembra. 
Mas ela diz que confiava na capacidade do filho de superar os obstáculos. “Ele sempre foi arrojado. Andava de moto em São Paulo, pulou de paraquedas. É muito esperto e articulado. Ele não conseguia ficar trancado em um escritório. Queria realizar grandes coisas”, descreve.
O pai de Edgard, o também advogado José Edgard Gomes, diz que inicialmente se assustou com o projeto do filho. “Fiquei um pouco assustado. Depois me tranquilizei. Ele sempre esteve ao lado dos oprimidos. É muito protetor. Foi um gesto natural dele.”
Edgard com a mãe, Maria Raquel, e com os dois irmãos, Guilherme e Fernanda (Foto: Maria Raquel Cintra de Campos/Arquivo pessoal)Edgard com a mãe, Maria Raquel, e com os dois irmãos, Guilherme e Fernanda (Foto: Maria Raquel Cintra de Campos/Arquivo pessoal)
Loucos somos nós, que estamos aqui. Ele está realizando o que ele quer"
Maria Raquel Cintra de Campos, mãe
O irmão, Guilherme, de 36 anos, lembra de uma vez em que o advogado descobriu que um funcionário da empresa onde ele trabalhava estava viciado em crack. “Ele passou a ir com ele nas reuniões dos Narcóticos Anônimos. Esse projeto expressa a natureza dele e de todos nós, de cooperação, fazer pelo outro”, afirma.
Maria Raquel diz que está orgulhosa de ver que Edgard está “seguindo seu caminho”. “A gente cria filho é para isso. Uma pessoa comentou comigo: ‘O Edgard está louco’. Falei: ‘Loucos somos nós, que estamos aqui. Ele está realizando o que ele quer´”, completa.

 

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