Padre Geovane Saraiva*
A criatura humana devia sempre
pensar no projeto de Deus Pai a seu respeito, no sentido de perceber que a vida
é vocação, é um chamado, e que implica em uma resposta generosa, a partir de
uma insondável escuta interior. É imprescindível a busca de uma resposta
generosa, dia após dia, como um apelo que vai dar-lhe sentido e iluminar toda a
sua existência, consciente sempre de que o chamado é pessoal, onde Deus espera
ouvir um “sim”. Foi assim que Deus chamou Abraão, a ponto de submetê-lo à
prova, no que ele respondeu: “Aqui estou” (cf. Gn 22, 1).

De acordo com a mística do
teólogo católico Karl Rahner (1904-1984), “o cristão do futuro, ou será místico
ou não será nada”, entendido como apego à oração, à meditação e à contemplação
da tradição católica, bem como à palavra do magistério, autenticamente
interpretada para anunciar a boa-nova da Salvação a uma multidão de irmãos e
irmãs, a partir da sua dor e sofrimento, na fidelidade à profecia de Ezequiel:
“Ai dos pastores de Israel que se apascentam a si mesmos, mas nunca tomam conta
do rebanho” (cf. Ez 34, 1-2).
Dom Helder jamais se afastou do
assunto supramencionado, como pastor da paz e da ternura, na intimidade de
enamorado de Deus, sentindo-se honrado quando seus inimigos o acusavam de
utópico e sonhador, certamente levados por inveja, limitações e mediocridade,
porque se aproximava do Cavaleiro Andante. O Artesão da Paz dizia-lhes:
“Comparar-me a Dom Quixote está longe de ser uma nota depreciativa”. E
acrescentava com voz profética: “Ai do mundo se não fosse a utopia, ai do mundo
se não fossem os sonhadores”, asseverando ter pena dos “empobrecidos e sem
abrigo, e mais pena ainda: sentia pena dos instalados e enraizados, como se
este mundo fosse morada permanente”.
Dentro desse mesmo rigor, de um
Deus bom e terno, que acolhe a comunidade de fé como sua eterna esposa,
consciente de que a desposada de Jesus é a comunidade dos que sofrem e carregam
cruzes pesadas e aqui que ninguém se sinta excluído, que Deus nos dê aquela
água da festa de casamento, que lava, purifica, fecunda e germina, e ainda mais
o vinho que alegra, restaura dos males, transformando-o em júbilo, prazer e
otimismo (cf. Jo 2, 1-11). Assim seja!
*Pároco de Santo Afonso e vice-presidente da Previdência Sacerdotal, integra a Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza
- geovanesaraiva@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário