sábado, 16 de janeiro de 2016

Passo em frente


A fé é “um dom” que não se compra nem se adquire pelos próprios méritos. Inspirado pela liturgia do dia, o Papa Francisco, na missa celebrada na sexta-feira 15 de Janeiro em Santa Marta, continuou a falar das características da fé.

Recordando que no dia anterior o evangelho tinha apresentado o episódio do leproso que diz a Jesus: “Se quiseres, podes curar-me”, o Pontífice analisou as figuras de outros “decididos”, de outros “corajosos” estimulados pela fé. Ao retomar o trecho de Marcos (2, 1-12), Francisco repercorreu o episódio do paralítico conduzido pelos amigos diante de Jesus, o qual “como de costume, está no meio do povo, de muitas pessoas”. Para aproximar dele o doente os amigos ousam tudo, “mas nem pensaram nos riscos” que comporta “fazer subir a maca ao terraço” ou no risco “que o proprietário da casa chamasse a polícia e os mandasse para a prisão”. Com efeito, eles “pensavam apenas em aproximar-se de Jesus. Tinham fé”.
Trata-se, disse o Papa, da “mesma fé daquela senhora que também, no meio da multidão, quando Jesus se encaminhava para a casa de Jairo, fez como pôde para tocar a veste de Jesus, o manto de Jesus, para ser curada”. A mesma fé do “centurião que disse: “Não, não mestre, não te incomodes: é suficiente uma tua palavra, e o meu servo será curado”. Uma fé “forte, corajosa, que vai em frente”, com o “coração aberto”.
Mas a este ponto, frisou Francisco, “Jesus dá um passo em frente”. Para explicar quanto afirmado, o Pontífice recordou outro episódio evangélico, aquele em que Jesus “em Nazaré, no início do seu ministério, fora à sinagoga e dissera que tinha sido enviado para libertar os oprimidos, os presos, fazer recuperar a vista aos cegos... inaugurar um ano de graça, ou seja, um ano – pode-se compreender bem – de perdão, de aproximação ao Senhor”. Isto é, indicava uma estrada nova “um caminho rumo a Deus”. Acontece o mesmo com o paralítico ao qual não diz simplesmente: “Fica curado”, mas: “Os teus pecados são-te perdoados”.
Com esta novidade, frisou o Papa, Jesus desencadeou as reações “daqueles que tinham o coração fechado”. Os quais “já aceitavam – até certo ponto – que Jesus fosse um curandeiro”; mas que também perdoasse os pecados, para eles era “demais”. Pensavam: “Não tem o direito de dizer isto, porque só Deus pode perdoar os pecados”.
Então Jesus responde: “Por que pensais estas coisas? Pois sabei que o filho do homem tem o poder – e consiste nisto, explicou Francisco, “o passo em frente” – de perdoar os pecados. Levanta-te, toma e fica curado”. Jesus começa a falar com aquela linguagem “que a um certo ponto desencoraja o povo”, uma linguagem dura, com a qual “fala de comer o seu corpo como caminho de salvação”. Ou seja, começa a “revelar-se como Deus”, o que fará depois claramente diante do sumo sacerdote dizendo: “Eu sou o Filho de Deus”.
Um passo em frente que é proposto também à fé dos cristãos. Com efeito, cada um de nós pode ter fé em “Cristo Filho de Deus, enviado pelo Pai para nos salvar: sim, salvar-nos das doenças, muitas coisas boas que o Senhor fez e nos ajuda a fazer”; mas é preciso, sobretudo, ter fé que ele veio para “nos salvar dos nossos pecados, para nos salvar e conduzir-nos ao Pai”. É este, disse o Papa Francisco, “o aspecto mais difícil de compreender”. E não só para os escribas “que diziam: “Mas, ele blasfema! Só Deus pode perdoar os pecados!”. Com efeito, alguns discípulos “duvidam e afastam-se” quando Jesus se mostra “com uma missão maior do que a de um homem, para conceder aquele perdão, para dar a vida, para recriar a humanidade”. A ponto que o próprio Jesus “pergunta ao seu pequeno grupo: “Também vós quereis ir embora?”.
Partindo desta pergunta de Jesus, o Pontífice convidou cada um a questionar-se: “Como é a minha fé em Jesus Cristo? Acredito que Jesus Cristo é Deus, que é o Filho do Deus? E esta fé muda a minha vida? Faz com que o meu coração se renove neste ano de graça, de perdão, de aproximação do Senhor?”.
É o convite a redescobrir a qualidade da fé, cientes de que ela “é um dom. Ninguém “merece” a fé. Ninguém a pode comprar”. Segundo Francisco é necessário perguntar: “A “minha” fé em Jesus Cristo conduz-me à humilhação? Não digo à humildade: à humilhação, ao arrependimento à oração que pede: “perdoa-me, Senhor” e que é capaz de testemunhar: “Tu és Deus. Tu “podes” perdoar os meus pecados”.
Eis então a oração conclusiva: “O Senhor nos faça crescer na fé” para que façamos como aqueles que, tendo ouvido Jesus e visto as suas obras “se admiraram e louvaram a Deus”. É de facto “o louvor a prova de que eu creio que Jesus Cristo é Deus na minha vida, que me foi enviado para “me perdoar”. E o louvor, acrescentou o Pontífice, “é gratuito. É um sentimento que o Espírito Santo concede e que nos leva a proclamar: “Tu és o único Deus”.
SIR/L'Osservatore Romano

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