terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Protesto: esclarecimento da morte de Nisman

Manifestantes acenderam velas para recordar caso que continua nas sombras.
Centenas de pessoas exigiram nesta segunda-feira, 18, o esclarecimento da morte do procurador Alberto Nisman, que investigou o atentado, em 1994, contra a associação judaica AMIA e que há um ano foi encontrado com uma bala na cabeça, em um óbito ainda investigado como suicídio ou homicídio.
Em meio a cartazes com a inscrição "Eu sou Nisman", os manifestantes acenderam velas para recordar que continua nas sombras um caso que agitou a sociedade durante o governo da ex-presidente Cristina Kirchner (2007-2015).
A concentração, realizada na praça Alemanha do bairro portenho de Palermo, foi convocada pela comunidade judaica argentina, que com 300.000 pessoas é a maior da América Latina, e cuja liderança considera o esclarecimento da morte uma dívida da justiça.
"É uma injustiça acobertada pelo governo da ex-presidente. Está claro que foram eles que mandaram matar. Falta pouco para que se esclareça. Deus queira", disse à AFP Gladys Nascimento, de 75 anos, levando em sua mão uma foto de Nisman com a legenda "Justiça".
A vice-presidente, Gabriela Michetti, e a ministra de Segurança, Patricia Bullrich, foram alguns dos membros do governo do presidente liberal Mauricio Macri que participaram do ato, onde foi lida uma carta das filhas de Nisman.
Também esteve presente a mãe do procurador, Sara Garfunkel, que recusou falar com a imprensa.
Na véspera do aniversário da morte de Nisman, o presidente Macri recebeu as duas filhas do procurador, Iara e Kala, em uma residência privada de descanso, nos arredores da capital, e a elas manifestou a intenção de "fazer justiça com a memória de seu pai".
"O chefe de Estado considera uma 'dívida pendente' com a família do falecido o reconhecimento ao trabalho que executou à frente da Unidade Fiscal AMIA (Associação Mutual Israelita Argentina)", destacou a Presidência em um comunicado após o encontro.
A morte do procurador que investigou por mais de uma década o atentado contra a AMIA, que deixou 85 mortos e 300 feridos em 1994, em Buenos Aires, se transformou em 2015, ano eleitoral, em símbolo e bandeira da então oposição argentina.
No dia seguinte à sua morte, o procurador deveria ampliar perante o Congresso uma denúncia contra a então presidente Cristina Kirchner (2007/2015), a quem acusava de acobertar ex-altos funcionários iranianos apontados pela justiça argentina como mentores do atentado contra a AMIA.
A denúncia foi logo repudiada em várias instâncias judiciais por "inexistência de crime".

Verdade incerta
"Espero que se possa chegar à verdade sobre a morte do meu pai, para além do temor que provocou nas pessoas", escreveu no domingo Iara, a filha de 16 anos, convencida de que se tratou de um assassinato.
Várias passeatas pedindo justiça foram celebradas no ano passado, convocadas por promotores e uma parte do poder judiciário que sustenta a teoria de homicídio.
A investigação judicial sobre a morte ainda não chegou a uma resposta definitiva.
As perícias da procuradoria parecem fazer a balança pender para a tese do suicídio, enquanto as da acusação buscam justificar a tese de homicídio.
Nisman apareceu morto com um tiro na cabeça em 18 de janeiro de 2015 no banheiro de seu apartamento, localizado no exclusivo bairro de Puerto Madero.
Ao lado do corpo foi encontrada uma pistola Bersa calibre 22, de onde saiu o tiro, e que o procurador tinha pedido para proteger suas filhas, segundo declarações do assessor de informática Diego Lagomarsino, o único processado por emprestar uma arma a Nisman.
O técnico de informática se considerava amigo de Nisman, ao ponto de ser um dos co-titulares, juntamente com a mãe e a irmã do procurador, de uma conta não declarada em Nova York da qual Nisman era dono.

Nisman, AMIA, Irã
"Nisman era a pessoa que mais conhecia o caso AMIA e entendemos que certamente sua morte está relacionada com o atentado", disse à AFP Ariel Cohen Sabban, que revelou ter se encontrado com ele 72 horas antes de sua morte.
O procurador tinha sido convidado a falar sobre sua denúncia contra Kirchner no Congresso.
A investigação lançou luz também a uma trama dos serviços de inteligência, encabeçada pelo ex-chefe de Inteligência Antonio 'Jaime' Stiuso, demitido em 2014 após 40 anos no cargo.
Stiuso foi quem deu a informação-chave para a acusação que Nisman fez em 2006 contra ex-governantes iranianos, uma causa que permanece sem detidos 21 anos depois.
AFP

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