CRISPR-CAS9: essas poucas letras abriram um mundo na história da pesquisa biomédica.
Por Elena Cattaneo*
CRISPR-CAS9: essas poucas letras abriram um mundo na história da pesquisa biomédica. Nove letras e um número que representam uma revolução. Um método que permite reescrever, corrigindo-as, algumas letras do nosso genoma. Uma tecnologia simples e econômica que abre, hoje, possibilidades de pesquisa enormes e, quem sabe, amanhã, talvez, possibilidades de intervenção médica.
Era só uma questão de tempo: quando somos cientistas e temos a posse da chave capaz de abrir uma porta que se considerava fechada, é necessário fazer isso. Se se trata de embriões humanos, é preciso fazer isso com todas as advertências e cautelas do caso, de acordo com procedimentos e hipóteses científicas controladas e validadas.
Na Inglaterra, não se brinca com esses assuntos (e com a sua coerência), e essas questões são abordadas por uma autoridade especializada em aspectos de fertilização e embriologia (a HFEA), que também é competente para avaliar os pressupostos e as condições dos projetos de pesquisa individuais sobre o tema. Na Inglaterra, também há uma lei racional que permite as pesquisas com embriões supranumerários, caso contrário descartados, que, em vez disso, são doados para estudar e entender.
A partir de hoje, na Inglaterra, existe também uma autorização para modificar o DNA desses embriões supranumerários, contanto que eles não sejam implantados para dar início a uma gravidez. Na Itália, com uma clarividência de avestruz, defrontamo-nos com normas que preveem a prisão para o pesquisador que se atreva a derivar células-tronco embrionárias a partir de embriões in vitro e supranumerários (as mesmas células-tronco embrionárias que a lei, porém, nos permite importar, para estudar com benefício para todos).
Do outro lado do Canal da Mancha, as hipóteses são reguladas para favorecer o incremento do conhecimento de base, que é premissa para qualquer novo tratamento. Na Itália, respondemos com proibições e o barulho das algemas. Quanto ao mérito, os colegas ingleses do Francis Crick Institute realizaram um experimento que deveria envolver, na fase inicial, 20-30 embriões, para entender quais são as razões pelas quais, para cada 100 óvulos fertilizados, menos de 50 chegam ao estágio de blastocistos (estruturas de cerca de 200-300 células), enquanto apenas 13 chegam ao terceiro mês. Ou seja, os colegas querem entender por que esse número enorme de blastocistos-embriões que a própria natureza descarta e destrói.
Pois bem, para entender o que determina isso, os pesquisadores usarão justamente a técnica CRISPR, com a qual se "desativará" um gene por vez, para entender quais são fundamentais para o desenvolvimento embrionário. As finalidades são as de entender o que pode levar a melhorias na fecundação assistida, além de nos fazer entender mais sobre os primeiríssimos estágios do desenvolvimento.
Obviamente, uma melhoria da probabilidade de sucesso das técnicas de fecundação poderia significar menos ciclos de estimulação hormonal para as mulheres que a ela se submetem, menos sofrimento, menos esperanças frustradas e, talvez, novos recém-nascidos.
Aqueles que se preocupam com o nascimento de criança, com a formação de novas famílias – sejam elas quais forem – deve se felicitar com essas pesquisas. Chegou a hora de não dar crédito algum para aqueles, mesmo que chamados de cientistas, que, a cada passo dado, gritam o escândalo da "ciência irresponsável" que visaria à criação da "criança perfeita" (sabendo muito bem que não é esse o objetivo, nem mesmo no caso do estudo inglês), perdendo tempo com a destruição dos embriões. Fazer isso significa mentir ou manipular as informações veiculadas aos cidadãos italianos.
Como de costume, alguns trabalham para agitar fantasmas, em vez de acompanhar a ciência e a sociedade em um terreno de compreensão mútuo. Uma razão a mais para regulamentar e não proibir aqui a boa ciência, perseguindo, ao contrário, os charlatães não cientistas que prometem curas milagrosas, aproveitando-se da necessidade de esperanças dos doentes dos quatro cantos do globo.
CRISPR-CAS9: essas poucas letras abriram um mundo na história da pesquisa biomédica. Nove letras e um número que representam uma revolução. Um método que permite reescrever, corrigindo-as, algumas letras do nosso genoma. Uma tecnologia simples e econômica que abre, hoje, possibilidades de pesquisa enormes e, quem sabe, amanhã, talvez, possibilidades de intervenção médica.
Era só uma questão de tempo: quando somos cientistas e temos a posse da chave capaz de abrir uma porta que se considerava fechada, é necessário fazer isso. Se se trata de embriões humanos, é preciso fazer isso com todas as advertências e cautelas do caso, de acordo com procedimentos e hipóteses científicas controladas e validadas.
Na Inglaterra, não se brinca com esses assuntos (e com a sua coerência), e essas questões são abordadas por uma autoridade especializada em aspectos de fertilização e embriologia (a HFEA), que também é competente para avaliar os pressupostos e as condições dos projetos de pesquisa individuais sobre o tema. Na Inglaterra, também há uma lei racional que permite as pesquisas com embriões supranumerários, caso contrário descartados, que, em vez disso, são doados para estudar e entender.
A partir de hoje, na Inglaterra, existe também uma autorização para modificar o DNA desses embriões supranumerários, contanto que eles não sejam implantados para dar início a uma gravidez. Na Itália, com uma clarividência de avestruz, defrontamo-nos com normas que preveem a prisão para o pesquisador que se atreva a derivar células-tronco embrionárias a partir de embriões in vitro e supranumerários (as mesmas células-tronco embrionárias que a lei, porém, nos permite importar, para estudar com benefício para todos).
Do outro lado do Canal da Mancha, as hipóteses são reguladas para favorecer o incremento do conhecimento de base, que é premissa para qualquer novo tratamento. Na Itália, respondemos com proibições e o barulho das algemas. Quanto ao mérito, os colegas ingleses do Francis Crick Institute realizaram um experimento que deveria envolver, na fase inicial, 20-30 embriões, para entender quais são as razões pelas quais, para cada 100 óvulos fertilizados, menos de 50 chegam ao estágio de blastocistos (estruturas de cerca de 200-300 células), enquanto apenas 13 chegam ao terceiro mês. Ou seja, os colegas querem entender por que esse número enorme de blastocistos-embriões que a própria natureza descarta e destrói.
Pois bem, para entender o que determina isso, os pesquisadores usarão justamente a técnica CRISPR, com a qual se "desativará" um gene por vez, para entender quais são fundamentais para o desenvolvimento embrionário. As finalidades são as de entender o que pode levar a melhorias na fecundação assistida, além de nos fazer entender mais sobre os primeiríssimos estágios do desenvolvimento.
Obviamente, uma melhoria da probabilidade de sucesso das técnicas de fecundação poderia significar menos ciclos de estimulação hormonal para as mulheres que a ela se submetem, menos sofrimento, menos esperanças frustradas e, talvez, novos recém-nascidos.
Aqueles que se preocupam com o nascimento de criança, com a formação de novas famílias – sejam elas quais forem – deve se felicitar com essas pesquisas. Chegou a hora de não dar crédito algum para aqueles, mesmo que chamados de cientistas, que, a cada passo dado, gritam o escândalo da "ciência irresponsável" que visaria à criação da "criança perfeita" (sabendo muito bem que não é esse o objetivo, nem mesmo no caso do estudo inglês), perdendo tempo com a destruição dos embriões. Fazer isso significa mentir ou manipular as informações veiculadas aos cidadãos italianos.
Como de costume, alguns trabalham para agitar fantasmas, em vez de acompanhar a ciência e a sociedade em um terreno de compreensão mútuo. Uma razão a mais para regulamentar e não proibir aqui a boa ciência, perseguindo, ao contrário, os charlatães não cientistas que prometem curas milagrosas, aproveitando-se da necessidade de esperanças dos doentes dos quatro cantos do globo.
La Repubblica, 02-02-2016.
*Elena Cattaneo é neurobióloga italiana, professora da Universidade Estatal de Milão e senadora vitalícia.
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