Ecapetec, México – Ao final da Missa em Ecapetec, a segunda celebrada pelo Papa no México, nesse domingo (14), Francisco exortou os mexicanos a recordarem dos sofrimentos do passado para construírem oportunidades para um país melhor, de vanguarda.
Citando Paulo VI, Francisco defendeu um México capaz de dar emprego e cultura ao seu próprio povo, para que seja uma nação “que não tenha de chorar homens e mulheres, jovens e crianças que acabam destruídos nas mãos dos traficantes da morte”.
Abaixo, a íntegra da alocução de Francisco.
Queridos irmãos!
Na primeira leitura deste domingo, Moisés recomenda ao povo: no momento da colheita, no momento da abundância, no momento das primícias, não te esqueças das tuas origens.
A ação de graças nasce e cresce em uma pessoa e em um povo que seja capaz de recordar: tem as suas raízes no passado que, entre luzes e sombras, gerou o presente.
No momento em que podemos dar graças a Deus porque a terra deu o seu fruto e assim é possível fazer o pão, Moisés convida o seu povo a fazer memória enumerando as situações difíceis pelas quais teve de passar (cf. Dt 26, 5-11).
Neste dia, neste dia de festa, podemos celebrar o Senhor que foi tão bom para conosco. Damos graças pela oportunidade de estarmos reunidos para apresentar ao Pai Bom as primícias dos nossos filhos e netos, dos nossos sonhos e projetos; as primícias das nossas culturas, das nossas línguas e tradições; as primícias do nosso compromisso...
Quanto tiveram de enfrentar, cada um de vocês, para chegar aqui! Quanto tiveram de “caminhar” para fazer deste dia uma festa, uma ação de graças! E quanto caminharam outros que não puderam chegar, mas, graças a eles, pudemos continuar em frente.
Hoje, seguindo o convite de Moisés, queremos como povo fazer memória, queremos ser povo com a memória viva da passagem de Deus por meio do seu povo, no seu povo. Queremos olhar os nossos filhos, sabendo que herdarão não só uma terra, uma língua, uma cultura e uma tradição, mas, sobretudo, herdarão o fruto vivo da fé que recorda a passagem certa de Deus por esta terra; a certeza da sua proximidade e solidariedade. Uma certeza que nos ajuda a levantar a cabeça e, com vivo desejo, esperar a aurora.
Também eu me uno com vocês à esta memória agradecida, a esta recordação viva da passagem de Deus em nossas vidas.
Olhando os seus filhos, tenho vontade de repetir as palavras que um dia o Beato Paulo VI dirigiu ao povo mexicano:
“Um cristão não pode deixar de manifestar a sua solidariedade e de dar o melhor de si mesmo, para resolver a situação daqueles a quem ainda não chegou o pão da cultura ou a oportunidade de encontrar um trabalho honrado (...), não pode ficar insensível enquanto as novas gerações não encontrarem o caminho para realizar as suas legítimas aspirações”.
E continua com um convite a estar “sempre na vanguarda em todos os esforços (…) para melhorar a situação daqueles que padecem necessidade”, a ver “em cada homem um irmão e, em cada irmão, a Cristo” (Rádio mensagem no 75º aniversário da coroação de N.S. de Guadalupe, 12 de Outubro de 1970).
Desejo convidar-nos novamente hoje a estar na vanguarda, a “primeirear” em todas as iniciativas que possam ajudar a fazer desta abençoada terra mexicana uma terra de oportunidades; onde não haja necessidade de emigrar para sonhar; onde não haja necessidade de se deixar explorar para ter emprego; onde não haja necessidade de fazer do desespero e da pobreza de muitos, ocasião para o oportunismo de poucos.
Uma terra que não tenha de chorar homens e mulheres, jovens e crianças que acabam destruídos nas mãos dos traficantes da morte.
Esta terra tem o sabor da “Guadalupana”, Aquela que sempre nos precedeu no amor; digamos-Lhe: Virgem Santa, “ajudai-nos a brilhar com o testemunho da comunhão, do serviço, da fé ardente e generosa, da justiça e do amor aos pobres, para que a alegria do Evangelho chegue até aos confins da terra e nenhuma periferia fique privada da sua luz” (Exort. ap. Evangelii gaudium, 288).
SIR
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