Em um mundo tão plural e tão repleto de informações acabamos percebendo as pessoas de um modo muito rápido, ou melhor, dizendo, de um modo muito superficial. A superficialidade é próprio daqueles que fogem de uma investigação profunda sobre o outro que se mostra a mim. Essa “investigação” exige muito do ser humano, pois implica em conhecer e estar disposto a prestar atenção na forma de ser do outro.
Esse dar-se conta do outro exige tempo e tempo é uma coisa hoje tão desperdiçada que ficamos sem saber o que fazer, querendo mais do que 24 horas. O problema não se trata da quantidade de horas e sim a empregabilidade do meu tempo. Estamos desgastando tempo com coisas passageiras, sem sentido. Você já calculou o tempo que perde simplesmente deslizando o dedo indicador no celular apenas visualizando posts em redes sociais? Não se lê, apenas visualiza-se. Essa forma de viver, uma forma efêmera e passageira vai se concretizando no relacionamento real com as pessoas. Vamos tornando o outro um mero instrumento midiático, que quando não satisfaz mais meu desejo simplesmente o bloqueio de minha rede de “amigos”. Onde está então o valor da pessoa humana? No que ela faz? No que ela verdadeiramente é?
Amar não é tarefa fácil, mas não é impossível. O segredo é saber amar, aprender a amar. O primeiro movimento do amor é o perceber o outro, que muitas vezes está aí ao seu lado e você acaba não colocando esse “dar-se’ conta em prática. Percebendo queremos conhecer e estar junto, conviver. Para este contato devemos ir desprendidos de toda uma concepção anterior que temos da pessoa. Não podemos escutar e muitas vezes crer no que os outros falam, devemos nos submeter à belíssima experiência de olhar para o outro e “perder” tempo com ele. Claro que é experiência que é caracterizada por uma aventura que muitas vezes pode trazer consigo dores e decepções. Mas se não arriscarmos como poderemos saber quem é? A grandiosidade que muitas vezes está escondida. Como posso apreender a essência de alguém que nem se quer permiti um contat? Sim, devemos nos dispor a experimentar o outro em sua essência, só assim poderemos com propriedade afirmar quem ele é.
Em minha vida tive muitas experiências em que pessoas chegavam até a minha presença e traziam receitas de como lidar com a pessoa x ou a pessoa y. Escutava por caridade, mas em meu coração crescia um forte desejo de conhecer a pessoa. Parecia uma situação perigosa, mas isso me instigava a ir além. O mais incrível é que eu nunca procurava, não buscava ninguém. Aos poucos essas pessoas as quais eu já “conhecia” por outros chegavam a mim e eu procurava ser como Jesus ensinou, simplesmente acolhia, amava. Depois ia conhecendo, convivendo. No final, percebi que a raiz de tudo está na falta de amor, é o desamor que move as pessoas, tornando-as cada vez mais carentes. Não é tarefa difícil: escuta, atenção e amor. Como Jesus ensinou. Neste primeiro encontro temos que apenas amar e suspender o que temos de informações sobre o outro, isso muitas vezes pode nos prejudicar no relacionamento humano.
Devemos buscar amar o outro não pelo o que ele pode oferecer ou torna-lo instrumento de nossa satisfação, mas pelo fato do outro ser uma pessoa humana dotada de inúmeras capacidades que precisam ser descobertas e trabalhadas. A pessoa humana está sempre em mudança, em metamorfose. De acordo com a vivência, com a relação social vamos nos transformando e mais do que isso vamos nos construindo como seres únicos. Quando me deparo com um outro eu, isto é, outro ser humano, uma outra pessoa vejo semelhanças, mas também vejo minha personalidade única que também não pode ser desconsiderada. A condição para amar o outro é amar primeiramente a si mesmo. Quando temos a capacidade de amar aquilo que somos, conseguimos amar outra pessoa porque ela também é pessoa igual a nós. Amemos e não percamos tempo! Deus abençoe e que a Virgem Mãe de Deus proteja a todos.
*Seminarista do primeiro ano de Filosofia – Faculdade Católica de Fortaleza CE
Nenhum comentário:
Postar um comentário