Favorece bastante o fato de que o atual Papa não seja europeu e que a Havana seja de tradição política filo-russa
O encontro entre o Papa Francisco e o Patriarca da Rússia Kirill, “é um fato de inegável importância histórica”. A peculiaridade é que “o Papa Francisco é a pessoa certa para fazê-lo e Cuba um lugar ideal para o encontro”.
Essas foram as palavras do sacerdote Stefano Caprio, docente do Pontifício Instituto Oriental (PIO) de história e de cultura russa, e um dos primeiros sacerdotes que foi à Rússia depois da queda do império soviético.
A ocasião foi durante um café da manhã de trabalho com jornalistas, organizado no quadro dos cursos de atualização para comunicadores que realiza a Universidade da Santa Cruz e em uma posterior conversa com ZENIT.
João Paulo II era um papa polonês que viveu as ditaduras e, ao ser muito anti-soviético, existia na Rússia “uma certa desconfiança dele”. Ao ser o primeiro o período do comunismo e depois o da saída, “havia o medo de ser invadiso pelo Ocidente, disse o professor.
Bento XVI era um pontífice, indicou o sacerdote do PIO, que “sabia explicar a crise da civilização cristã, dar respostas fortes para defender os valores no mundo de hoje e perante o relativismo, mas também contra os radicalismos”, temas que interessavam aos russos temerosos de ser invadidos pelo consumismo ocidental. Mas também lhes deu “um certo receio de se tornarem seus discípulos ao fazer próprios estes argumentos.”
Enquanto que o atual Papa, disse o professor, “é para eles a visão pastoral”. Ele lembrou que “quando Francisco saiu ba primeira noite na loggia de São Pedro e disse que ele era o bispo de Roma, em comunhão com todas as Igrejas, o primado de amor, conversando com uma linguagem patrística muito conhecida pelos orientais, os ortodoxos disseram: “este é o tom que queremos do Papa'”.
Para que se realize este encontro, continuou, “certamente favoreceu o tipo de abertura de Francisco, por vir de um mundo geograficamente distante da Europa, perante a qual os ortodoxos sempre se enfretaram”. Pesa fortemente “o fato de não ser um papa europeu, o que criou as melhores circunstâncias para evitar controvérsias e encontrar-se com serenidade.”
Os temas de atualidade que abordarão, acrescentou, são: “a defesa dos cristãos no Oriente Médio, a crise do mundo e da globalização, do ambiente, requer uma maior unidade pastoral, deixar de lado as teorias e univer-se na prática”.
No presente contexto histórico da Rússia, “Kirill quer apresentar-se como o verdadeiro representante do cristianismo russo que encontra o representante do cristianismo ocidental. No entanto, isso, antes não era possível”.
“O patriarca de Constantinopla – esclareceu o professor Caprio – não teve nunca este problema porque desde tempos antigos é o interlocutor natural dos ortodoxos com Ocidente, apesar dos cismas e brigas medievais. Com o Concílio Vaticano II esta relação intensificou-se ainda mais. O patriarca Atenágoras, que abraçou Paulo VI em 1964 em Jerusalém, tirou, junto com o Santo Padre, as excomunhões recíprocas”.
Finalmente, lembrou que “Bartolomeu estudou em Roma no Instituto Oriental, veio muitas vezes e é um grande amigo nosso. É também considerado por todos como o “Patriarca Verde”, e muito próximo a Francisco depois da sua última encíclica”. E concluiu dizendo que trata-se de três papas diferentes, com visões diferentes, mas com uma contribuição própria neste caminho ecumênico. Zenit
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