segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Homilética: Quarta-feira de Cinzas

Comentário sobre a liturgia do Pe. Antonio Rivero, L.C., Doutor em Teologia Espiritual, professor e diretor espiritual no seminário diocesano Maria Mater Ecclesiae de são Paulo (Brasil)
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Ciclo C
Textos: Joel 2, 12-18; Sal 50, 3-6.12-14-17; 2 Co 5, 20-6,2; Mt 6, 1-6.16-18

Ideia principalConversão para avançar no caminho da santidade que nos conduz ao Cristo Pascal.
Síntese da mensagem: a cinza que agora será colocada sobre nós tem que nos lembrar que somos pouca coisa, que não podemos nos sentir orgulhosos, nem ter ódios, nem egoísmos… e desta maneira alcançarmos “mediante as práticas quaresmais, o perdão dos pecados; e alcançarmos, à imagem do vosso Filho ressuscitado, a vida nova do vosso Reino”.
Pontos da ideia principal:
Em primeiro lugar, um pouco de história. Nos séculos VIII e IX a imposição da cinza se uma, no contexto litúrgico, à penitência pública. Naquele dia mandavam os “penitentes” saírem da igreja. E este geste repetia, de alguma forma, aquele outro de Deus expulsando Adão e Eva, pecadores, do paraíso… Nesta perspectiva se colocam as palavras do Gênese que se referem precisamente à este episódio: “Com o suor da tua frente comerás o pão até voltares à terra, porque dela te tiraram; pois és pó e ao pó voltarás… E o Senhor Deus o expulsou do jardim do Éden, para lavrar o chão de onde o tinha tirado” (Gn 2,19s). Só mais tarde a imposição da cinza tomou um simbolismo distinto: o da fragilidade e brevidade da vida. A lembrança da morte. A referência à tumba. Parece-me, porém, que é válido, sobretudo, o significado primitivo, que expressa penitencia, expiação pelo pecado. “O homem-pó” quer dizer o homem que se afastou de Deus, que recusou o diálogo, que foi expulso da sua casa, que rejeitou o dinamismo do amor para caminhar seguindo uma trajetória de desilusão e de morte. “O homem-pó” é o homem que se opõe a Deus, que dá as costas ao seu próprio ser e se condena à nada. Mas neste dramático itinerário de afastamento e visitação, existe a possibilidade do retorno. Retorno à origem. Em vez de se precipitar à tumba, é possível mudar de direção- eis aqui a conversão! – e voltar à fonte. “Lembra que és pó e como pó voltarás… a Deus”. Se quiseres. Agora mesmo, neste exato momento.     
Em segundo lugar, e o que Deus espera de nós? Conversão, mudança de vida, voltar a começar! Torno-me terra e me confio ao Construtor para me refazer totalmente. Errei. Perdi o caminho da vida. Perdi o reino. Comprometi inclusive os outros no meu pecado (todo pecado é um pecado “público” com consequências desastrosas para toda a comunidade eclesial). É justo que eu fique na porta. Mas, ao rodear a esquina, volto à condição de… pó. Ou seja, de matéria prima. E Ele se inclinará ainda sobre este pó para dar-lhe um hálito de vida. Assim o meu “nada” é tocado pela plenitude divina. Da cinza pula uma faísca de vida. E agora a camada sutil de pó já não pode ocultar o esplendor do rosto de um filho de Deus. Tudo, pois, começa de novo. Pode ser “novo” se aceitar não o… fim, mas o princípio. Não o montinho de cinza da tumba. Mas o punhado de terra nas mãos do Artífice. O pouco de terra disposta para receber o “hálito”. E se converter assim, de novo, num “vivente”. A consulta, pois, com a cinza é fundamentalmente a consulta com a Vida. A cinza me recorda o berço, não a tumba!
Finalmente, os meios que Deus põe nas nossas mãos nesta Quaresma para levar a termo a nossa conversão são os que Jesus nos recomenda no evangelho de hoje: oração, esmola ou caridade e jejum. Oração: Intensificar os nossos espaços de oração. Mas sobretudo orar melhor. Jejum: Jejuar das muitas coisas que diminuem a nossa vida cristã. Esmola:chamamos também “caridade”: amor. O amor ao irmão, sobretudo ao necessitado, em quem Cristo se faz mais presente, passa pelo socorro material suficiente e digno, não mesquinho. Tudo isso se converte então num grande empurrão para avançar, para caminhar. Jesus, no evangelho, nos falou deste caminho. Disse para nós que temos que dar do nosso aos que necessitam: disse para nós que temos que orar, que temos que nos aproximar de Deus com todo o nosso ser; disse que temos que jejuar, que temos que renunciar tantas coisas (comida, televisão, diversão, ou que for) para nos dedicar com mais tenacidade ao Evangelho. E nos disse que temos que fazer tudo isso não para sermos vistos, para que nos parabenizem, mas pela fé, por amor, por desejo de fidelidade. Neste tempo de Quaresma temos que viver intensamente este empurrão para avançar. Cada um de nós temos que nos propor a fazer desta Quaresma um verdadeira passo adiante na vida cristã. Reconhecendo o próprio pecado, pondo toda a confiança em Deus, esforçando-nos de verdade no seguimento de Jesus Cristo. Para chegar cheios de gozo à Páscoa.
Para refletir: o chamado continua sendo o mesmo: das de verdade esmola, sim ou não? E isto quer dizer: compartilhas com os outros e vais compartilhar ainda mais durante esta quaresma? Rezas ou não rezas, e estás disposto a rezar mais durante esta quaresma? Aceitarás uma vida mais ascética para sair da comodidade… e também para poder compartilhar um pouco mais? Não existe nada que nos impeça de escolher outros esforços, outros progressos; não faltam sugestões para isso no evangelho. O que deve nos animar e até mesmo nos entusiasmar é que um quaresma vivida assim, em sério, pode marcar profundamente a nossa vida.
Para rezar: Rezemos com o salmo 50, 9-11:
Escondei o vosso rosto dos meus pecados, e apagai todas as minhas iniquidades. Criai em mim, ó Deus, um coração que seja puro, e renovai dentro de mim um espírito decidido. Não me rejeiteis da vossa presença, e não tirardes de mim o vosso santo Espírito. 
Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org
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