Após a apresentação das memórias do Cardeal Sebastian, o presidente da CEE demonstrou a perplexidade dos bispos espanhóis perante a atual situação política
Na última sexta-feira, 5, foi apresentado em Madrid o livro “Memórias com esperança” (Ediciones Encuentro), do cardeal Fernando Sebastián. A obra relata, em primeira mão, os inúmeros episódios experimentados pelo arcebispo emérito de Pamplona durante a última metade do século na história da Igreja espanhola: a transição política, o seu trabalho na Secretaria da Conferência Episcopal Espanhola (CEE), as relações com o governo socialista, etc.
O evento, acontecido na Fundação Paulo VI, da qual o prelado de origem aragonês foi presidente, contou com a participação do cardeal Ricardo Blázquez, arcebispo de Valladolid e presidente da CEE; o ex-deputado e atual vice-presidente da Fundação Valores y Sociedad, Eugenio Nasarre; e de José Miguel Oriol, presidente de Ediciones Encuentro.
Com relação a um dos acontecimentos que marcou a sua vida, o Concílio Vaticano II, o cardeal, Sebastián advertiu que na Espanha, a transição de uma Igreja massiva apoiada no poder político e até mesmo “dominada por ele”, onde “ganha mais o trono do que o altar”, a uma Igreja “de fermento, com vigor, que questiona, ilumina e orienta”, como a do Papa Francisco, ainda “não está realizada plenamente”. “Não conseguimos estabelecer-nos na visão da Igreja do Vaticano II”, enfatizou. Nesta situação, o arcebispo emérito de Pamplona propôs passar “da Igreja massa para a Igreja fermento”; “essa Igreja fermento – disse – que temos que reconstruir”, onde os cristãos sejam “crentes, praticantes e testemunhas”.
No momento das perguntas, o cardeal não quis avaliar se o país está passando por uma segunda transição, como afirmam alguns analistas. Questionado por ZENIT, ele limitou-se a reconhecer que estão “perplexos” pelo cenário político atual.
Ao longo das páginas desta autobiografia, explicou a própria editora, “o leitor encontrará um bom número de ocasiões em que o autor, quase tudo na Igreja espanhola – Decano, Reitor, Grande chanceler na Pontifícia Universidade de Salamanca, Secretário e vice-Presidente da Conferência Episcopal, bispo, administrador apostólico, arcebispo e, desde 2014, cardeal – viu-se pessoalmente envolvido em episódios importantes e delicados”.
Como reitor da Pontifícia de Salamanca teve de lidar, nos últimos anos do regime de Franco, com as mobilizações dos estudantes, as tentativas da polícia de entrar na Universidade, as suspeitas do governo, que olhavam para a Pontifícia como um ninho de revolucionários e conspiradores, e ordenou a vigilância de perto pelo Centro Superior de Informação da Defesa (CESID) dos “padres vermelhos” da universidade, e as tentativas de infiltração nela de organizações como ETA.
Nos estertores do regime de Franco e nos inícios da Transição foi um dos principais pilares de apoio do Cardeal Tarancón na hora de enfrentar assuntos tão difíceis como o “caso Añoveros”. Formou parte também do chamado “Consejillo” dos sábados, um pequeno grupo de trabalho organizado pelo citado prelado para estudar os muitos problemas que tinha a Igreja espanhola e preparar os seus discursos e declarações mais importantes. Especialmente importante foi o papel de Fernando Sebastián na redação da transcendental homilia da missa dos Jerônimos do 27 de novembro de 1975.
No seu período na Secretaria da Conferência Episcopal teve que coordenar os preparativos da primeira visita do Papa João Paulo II à Espanha e encarregar-se das relações da Igreja espanhola com o primeiro governo do Partido Socialista Obrero Espanhol (PSOE). Finalmente, em seus anos como Arcebispo de Pamplona e bispo de Tudela, onde passaria 16 anos, teve de lidar com uma situação social marcada pelo problema do terrorismo e a influência das organizações nacionalistas radicais vascas.
Após a apresentação do livro, o presidente da CEE também revelou à imprensa a perplexidade dos bispos espanhóis perante a situação política, e desejou que todas as formações se reúnam para falar e cheguem a um acordo.
“Não estou por dentro das negociações e questionamentos, nem sei como vão. Somente expresso um desejo como bispo e cidadão: que procurem entre todos, honestamente, de que forma podemos sair desta situação que mantém a todos com grande perplexidade, que procurem entre todos”, observou.
Questionado sobre um possível governo de coligação entre o PSOE e Podemos, o cardeal Blazquez diz que não tem uma bola de cristal para decifrar o futuro. Ainda assim, reconheceu que a situação atual lhes enche “de inquietações e perplexidades” e que “afeta profundamente a todos, como cidadãos, cada um com a sua responsabilidade específica”. “Peço que se encontrem, que falem, que projetem. Que nos fará bem se, entre todos, vão desenhando nessa situação crucial o nosso futuro”, concluiu o prelado. Zenit
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